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Futebol

Artigo: Jogadores não são robôs

Atletas convocados para a última Copa responderam a um questionário no qual uma das perguntas aferia se eles sentiram fadiga mental extrema ou aumento do esgotamento.

O atacante brasileiro nº 07 do Real Madrid, Vinicius Junior, durante a partida de futebol da liga espanhola entre FC Barcelona e Real Madrid CF no Estadi Olimpic Lluis Companys -  (crédito: LLUIS GENE / AFP)
O atacante brasileiro nº 07 do Real Madrid, Vinicius Junior, durante a partida de futebol da liga espanhola entre FC Barcelona e Real Madrid CF no Estadi Olimpic Lluis Companys - (crédito: LLUIS GENE / AFP)
postado em 25/11/2023 06:00

A overdose de competições e jogos em série vai tirar jovens e velhos jogadores do eixo em um futuro próximo, arrisca adoecê-los com a Síndrome do Esgotamento Profissional (Burnout) e afundar o esporte mais popular do mundo em um debate cada vez mais ignorado pelos 211 países filiados à Fifa. Este é o aviso do dossiê Calendário extremo: os efeitos adversos na saúde e no bem-estar dos jogadores. Acessei o documento elaborado pela Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro). Os resultados do estudo, relativos à temporada de 2022/2023, são apocalípticos.

Se você considera o gênio Arrascaeta máquina de jogar bola, passe a tratá-lo como humano — e não robô — antes de cobrar excelência com as camisas do Flamengo ou do Uruguai. Ninguém encarou mais viagens a serviço do que o meia de 29 anos. Acumulou 84.791km em voos. Pouco mais de duas voltas ao mundo, estimada em 40.000km.

Jogadores convocados para a última Copa responderam a um questionário no qual uma das perguntas aferia se eles sentiram fadiga mental extrema ou aumento do esgotamento. Do total, 43% responderam sim. Alguns casos de exposição impressionam. O zagueiro Raphaël Varane, por exemplo, entrou em campo pelo Manchester United contra o Nottingham Forest oito dias depois de disputar a final de todos os tempos entre França e Argentina na Copa do Mundo do Catar. Kamil Glik estava em campo pelo Benevento no Campeonato Italiano quatro dias depois da queda da Polônia nas oitavas de final do Mundial.

Um dos símbolos do título da Argentina, Enzo Fernãndez disputou 70% das partidas na temporada. O português Bruno Fernandez entrou em campo em 20 jogos consecutivos. Herói do título inédito do Manchester City na Liga dos Campeões da Europa, o espanhol Rodri Hernández disputou 10 competições diferentes em uma temporada.

A maior preocupação é com os jovens. Um ranking compara a quantidade de minutos em campo como jogador profissional até os 20 anos. Jude Bellingham acumulava 14.445. Na mesma faixa etária, Rooney tinha 10.989. Owen, Lampard, Gerrard e Beckham estavam muito abaixo dos 10 mil minutos.

O consumo extremo de jovens tem outro dado absurdo. Vinicius Junior chegou aos 20 anos com 12 mil minutos a mais em campo do que Ronaldinho Gaúcho. Na temporada passada, jogou 59 vezes em nove torneios: 75% dos jogos com intervalo inferior a cinco dias. O espanhol Pedri tem 20% de "milhas" a mais do que Xavi; e o francês Mbappé, 37% de minutos acima de Henry.

Enquanto astros como a ginasta estadunidense Simone Biles, a tenista japonesa Naomi Osaka, o surfista brasileiro Gabriel Medina e o armador espanhol de basquete Ricky Rubio dão pausas na carreira em nome da saúde mental, o futebol inventa torneios, amplia competições e insiste em tratar jogadores humanos como robôs.

 


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