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Meio Ambiente

Entre tons cinzas, deve haver espaço para o verde

As soluções baseadas na natureza são fundamentais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e podem trazer vários benefícios para as pessoas e ao patrimônio natural

A Fazenda Roncador tem opções variadas para lazer, a partir do contato com a natureza -  (crédito: Divulgação/Fazenda Roncador)
A Fazenda Roncador tem opções variadas para lazer, a partir do contato com a natureza - (crédito: Divulgação/Fazenda Roncador)
postado em 07/12/2023 06:00 / atualizado em 12/12/2023 15:50

Em recente relatório publicado na Nature-based solutions: Opportunities and challenges for scaling up, a Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que as soluções baseadas na natureza (SbN) são importantes para a agenda global de desenvolvimento sustentável porque oferecem potencial para enfrentar, de forma eficaz, diversos desafios atuais. Mudança climática, insegurança alimentar e hídrica, impactos de desastres e ameaças à saúde e ao bem-estar humano são alguns deles. Sem contar a necessária redução da degradação ambiental e a perda de biodiversidade.

Em outras palavras, as SbN são fundamentais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e podem trazer vários benefícios para as pessoas e ao meio ambiente. Fato é que o crescente reconhecimento do valor da SbN já está refletido em declarações e iniciativas internacionais, estratégias e políticas nacionais, declarações do setor público, e também aparece cada vez mais nos compromissos e investimentos do setor privado.

Na prática, significa compreender que implantar uma SbN envolve trabalhar com o retorno da lógica do solo natural para enfrentar uma série de desafios e problemas ambientais, sociais e econômicos que formam as três crises globais da biodiversidade: perdas, alterações climáticas e poluição.

Há poucos dias, ouvi de um interlocutor que "o tempo dos ambientalistas acabou. Agora quem fala é a natureza". Achei coerente. Afinal, o planeta é um ativo que precisamos investir e lapidar. Estamos de acordo. Mas como fazer dessa percepção uma prática?

De forma eficaz e adaptativa, é preciso ampliar o diálogo e o conhecimento dos técnicos, projetistas, órgãos reguladores e tomadores de decisão sobre SbN no setor de infraestrutura, em especial, no saneamento ambiental. E aqui falo diretamente de água, esgoto, drenagem urbana e resíduos sólidos, eixos que integram a "cadeia de valor" do que conhecemos como meio ambiente e sustentabilidade.

Mas tem um detalhe. O portfólio de SbN é amplo: drenagem urbana sustentável, tratamento de águas e efluentes industriais e domésticos por meio de jardins filtrantes, fitorremediação e restauração ambiental de áreas contaminadas. Todas as soluções contribuem para aumentar a infiltração da água, trazer espaço de lazer, maior conforto técnico com a redução da temperatura nas áreas urbanas, recuperar a qualidade das águas e garantir segurança hídrica.

Ou seja, logo de cara é preciso estar disposto a aceitar que a infraestrutura verde, as SbN, e a infraestrutura cinza, a tradicional, se complementam em muitas das situações do cotidiano. Portanto, juntas podem ser muito úteis ao enfrentamento das emergências climáticas e dos riscos ambientais extremos, tão urgentes e necessários.

Essa consciência é um ponto importante para o compartilhamento de conhecimento, que pode ser alavancado com a criação e o fortalecimento de políticas públicas de SbN para garantir e promover ações voltadas para o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e resilientes. As SbNs são seguras e têm uma característica muito interessante: conectam as pessoas com a natureza novamente.

Não custa lembrar, você está vivendo tudo isto aqui mesmo neste "país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza". Aqui e agora. A estiagem ao norte, na Bacia Amazônica — até então com abundância de água —, os alagamentos e desmoronamentos de encostas no sul do país com perda de vidas, sem contar a recém-paralisação vivida pela maior cidade brasileira, São Paulo, fruto de uma tempestade no início de novembro deste ano.

Trocando em miúdos, de que lado da fronteira você está? Dos que acham que mudança climática é uma "bobagem" ou do lado daqueles que enxergam nisso uma oportunidade para conhecer e adotar a engenharia ecológica da SbN para trazer de volta a natureza para as cidades? A sorte está lançada. Não ignore os sinais, e vamos semear juntos outro futuro.

*CRIS SCHWANKA é CEO da Phytorestore e doutora em direito econômico e socioambiental. Foi vice-presidente da Copasa e diretora de gestão na Iguá Saneamento e CEO na Phytorestore

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