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Argentina

Artigo: O governo da mordaça

Os argentinos, conhecidos pelos panelaços e pelas marchas multitudinárias, serão obrigados a realizar manifestações sobre as calçadas e praças de Buenos Aires e demais cidades. Sob pena de serem agredidos pela polícia e detidos.

O libertário Javier Milei atrai a repulsa de setores da direita, que o associam ao fascimo -  (crédito: Luis Robayo/AFP)
O libertário Javier Milei atrai a repulsa de setores da direita, que o associam ao fascimo - (crédito: Luis Robayo/AFP)
postado em 20/12/2023 06:00

Javier Milei mal assumiu a cadeira na Casa Rosada e mostrou a que veio. As medidas anunciadas pelas ministras argentinas Patricia Bullrich (Segurança) e Sandra Pettovello (Capital Humano), para coibir manifestações soam como um disparate. Ainda mais quando analisadas sob o prisma de uma nação que sempre primou pela luta social. Estão no DNA do povo argentino a profunda politização e o senso de que o eco das ruas é crucial para garantir o Estado de bem-estar social.

Em 14 de dezembro, Bullrich avisou que os manifestantes que bloquearem vias serão presos e assegurou que a polícia usará a força proporcional à resistência encontrada. Na última segunda-feira, Pettovello advertiu que os chamados "piqueteiros" correm o risco de ficar sem benefícios sociais, como uma espécie de vale alimentação. Mais do que uma violação à democracia e uma agressão à liberdade de expressão, as medidas de controle social de Milei representam uma traição ao eleitor. 

O próprio Milei disse, em seu discurso de posse, que será um presidente de todos os argentinos. Sob a alcunha de ultralibertário, o chefe de Estado cerceia a democracia, ao punir os organizadores de protestos. Não deixa de ser medida autoritária e draconiana. Primeiro, impõe um ajuste fiscal que, como efeito imediato, insistem especialistas, ampliará a inflação, tornando a vida do cidadão ainda mais difícil. Depois, limita o escopo dos protestos.

Os argentinos, conhecidos pelos panelaços e pelas marchas multitudinárias, serão obrigados a realizar manifestações sobre as calçadas e praças de Buenos Aires e demais cidades. Sob pena de serem agredidos pela polícia e detidos. Em 16 de dezembro, um grupo de indígenas foi expulso da Praça Lavalee, na capital argentina, ao protestar contra a reforma constitucional da província de Jujuy, no norte do país. O primeiro grande teste das medidas draconianas do governo Milei será nesta quarta-feira. O Partido Obrero convocou uma grande marcha contra as medidas econômicas e repressivas adotadas pela Casa Rosada. Os setores de esquerda na Argentina prometem que não vão retroceder em sua luta por um país mais justo e igual.

Ainda é tempo de Milei e suas ministras recuarem. A Argentina precisa muito mais de um pacto social que garanta a liberdade de expressão e a democracia do que de ações controversas e capazes de insuflar o ódio da população. Colocar uma mordaça no povo apenas intensifica o desejo de gritar e de ser escutado. O risco é de as próprias ruas cobrarem o silêncio e a situação ficar insustentável para Milei.

 


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