De acordo com o Censo do ensino superior de 2022, divulgado recentemente pelo Ministério da Educação, 43,4% dos jovens entre 18 e 24 anos concluíram o ensino médio mas não frequentam o ensino superior. Em relação à evolução do número de participantes no Enem, principal porta de entrada para o ingresso em universidades públicas (via Sisu) e particulares (Fies, Prouni ou bolsas de ensino), em 2022, foram 2.394 milhões de alunos, o que representa apenas 39% do pico de 2016, ano que registrou 6,1 milhões de participantes. O número de 2022 se assemelha ao patamar de 2009, quando 2,4 milhões de pessoas realizaram as quatro provas do exame.
Quanto à empregabilidade, com base no relatório da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre de 2023, a parcela dos jovens de 18 a 24 anos representa o segundo maior percentual de desocupação, com 29,5%. Esse cenário nos indica que menos jovens estão fazendo a prova do Enem, já que também estão se desinteressando pelo ingresso no ensino superior. Isso pode resultar na dificuldade em ingressar no mercado de trabalho formal.
Mas por que essa faixa etária não tem valorizado a continuação da educação formal para a conquista de um espaço profissional? Uma das possíveis respostas vem da “facilidade” em obter renda pelas redes sociais. Fontes de consultorias especializadas em mídias sociais e marketing digital indicam que a monetização em uma rede como o TikTok, por exemplo, chega a uma média de US$0,15 a cada mil visualizações. Isso significa que se um jovem que se dedica à carreira de influencer tiver um único conteúdo com 1 milhão de visualizações, receberá como monetização algo em torno de US$150 em uma única postagem viralizada.
Em relação à atividade de streamer, como o nicho de jogos de Role Play, por exemplo, a estimativa do mercado é de que um de pequeno porte chegue a ganhar de R$ 1 mil a R$ 2 mil no mês com anunciantes, doações e alcance de metas das plataformas. Ou seja, a questão que emerge na mente de muitos jovens atualmente é: para que passar entre dois e cinco anos em uma universidade e lutar por uma vaga de trabalho, se eu posso ganhar dinheiro em casa pela internet? E, consequentemente, a questão que desafia a mente dos educadores e gestores de instituições educacionais é como contra-argumentar essa pergunta. Os jovens, portanto, ainda precisam de uma universidade para construírem uma carreira profissional?
Há uma diferença fundamental que precisa ser considerada quando associamos formação profissional, renda e carreira: a questão temporal. Formação profissional e renda podem ser conquistadas a curto prazo. Carreira, não. A carreira depende de outras experiências que a formação profissional isolada não proporciona, tão pouco uma oportunidade pontual de renda. E o ambiente universitário é o cenário ideal para vivenciar as experiências necessárias para a construção dessa jornada.
Em geral, jovens que se lançam em oportunidades da moda em busca de renda deixam de lado o critério da carreira, tanto pelo lado da trajetória como pelo lado da sustentabilidade profissional. O foco distorcido no dinheiro rápido não considera o que se fazer quando esta oportunidade entrar em declínio. Como consequência, este público se torna refém do mercado, em vez de aproveitar o mercado a seu favor. A universidade vai além de um ambiente para além da formação profissional: tornou-se um catalisador de experiências. Nela, o aluno aprende as competências técnicas de que necessita para um determinado campo profissional por meio da grade curricular do seu curso, mas também tem o seu perfil pessoal forjado pelas demais experiências para encarar adversidades que o mercado gera.
Ao cursar uma graduação, o jovem amplia a sua visão de mercado, o que o torna capaz de migrar de uma atividade para a outra em caso de declínio de determinadas oportunidades a médio e longo prazos. Além disso, por meio de projetos de extensão universitária, pode correlacionar o seu conhecimento profissional com uma determinada demanda social, possibilitando o desenvolvimento de uma visão estratégica, compreendendo quais públicos podem ser atingidos de forma direta e indireta, econômica e socialmente. É a base de uma preparação empreendedora, que não é possível de ser conquistada de maneira consistente apenas por meio de certificações rápidas ou de tendências de mercado.
Por isso, os jovens que se lançam em oportunidades rápidas para ganhar dinheiro podem até lucrar no curto prazo, mas sofrerão mais no longo prazo para manter este padrão de renda. Já os jovens que investem na formação universitária podem até inverter a curva, ganhando menos no início, mas terão maiores possibilidades reais de uma renda maior a longo prazo. Além de levarem consigo toda a visão estratégica para se movimentarem de acordo com a dinâmica do mercado, aproveitando a seu favor as oportunidades geradas e mantendo, por mais tempo, a estabilidade profissional tão desejada.
WAGNER SALLES, professor de gestão de recursos humanos na Universidade Veiga de Almeida (UVA) e coordenador da Comissão Especial de RH do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ)
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