Artigo

O fortalecimento do professor do século 21 passa também pelo seu emocional

Ações para valorizar a carreira docente devem considerar todas as dimensões do educador*

Silvia Lima pesquisadora sobre formação de professores e gerente de advocacy do Instituto Ayrton Senna

Em 2040, o Brasil pode enfrentar um "apagão de professores": é o que apontam dados do Instituto Semesp, que indicou que, em 15 anos, podem faltar cerca de 235 mil profissionais nas escolas do país. Como resposta a esses desafios, recentemente, o governo federal anunciou o programa Mais Professores, que reúne diversas ações integradas para fortalecer a carreira docente no Bra Correio Braziliense sil. Entre elas, foram anunciadas medidas para aprimorar a qualificação e a remuneração dos profissionais, a atratividade da carreira para os jovens e a formação continuada a todos os educadores. Em um país em que os professores enfrentam tantas dificuldades em sala de aula e têm um papel fundamental para o desenvolvimento social e econômico, promover políticas que fortaleçam essa profissão essencial, sem dúvidas, é fundamental.

Entretanto, é preciso ir além ao refletirmos sobre o papel do educador atualmente. A sala de aula sempre foi um espaço de possibilidades. Hoje, mais do que nunca, ela é palco de transformações profundas, que ultrapassam o aprendizado acadêmico dos estudantes para contemplar, também, dimensões socioemocionais dos alunos. É preciso desenvolver sua capacidade de trabalhar em time, empatia, resiliência, criatividade e tantas outras habilidades que são fundamentais para a vida. Nesse contexto, o papel do professor ganha novas dimensões, nas quais a mediação, a reflexão e a criação de conexões são essenciais.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca o desenvolvimento destas competências que vão além do conteúdo: habilidades intelectuais, emocionais e culturais que preparam os jovens para os desafios do século 21. No entanto, o que muitas vezes não se percebe é que esse mesmo desenvolvimento também precisa ser assegurado entre os educadores. Afinal, um professor bem preparado emocionalmente é capaz de criar um ambiente de aprendizado mais acolhedor, criativo e produtivo.

De acordo com pesquisas feitas pelo Profissão Docente, cerca de 60% do desempenho dos estudantes está ligado à influência dos professores. Esses dados reforçam a importância de investir no professor, na sua formação e no fortalecimento das competências dos educadores, não apenas no âmbito técnico, mas também em aspectos, como autorregulação emocional, colaboração e inventividade.

Em mapeamento realizado pelo Instituto Ayrton Senna e a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em 2022, 60% dos educadores da rede declararam que precisam de ajuda para desenvolver o autocontrole emocional, 50% gostariam de colaborar mais com seus colegas e 44% gostariam de ajuda da gestão para o gerenciamento do estresse. Quando apoiados no seu socioemocional, os educadores se tornam mais preparados para lidar com os desafios da rotina escolar, trocar experiências com outros educadores e também estão prontos para atuar no desenvolvimento socioemocional dos seus estudantes.

Considerando-se esse cenário, é preciso ajudar os professores a desenvolverem essas habilidades. Ter um professor bem preparado passa por considerar e cuidar da pessoa por trás desse profissional. Sem dúvidas, é preciso oferecer a ele a remuneração adequada, o acompanhamento e recursos necessários para a realização do seu trabalho e espaços de estudo, reflexão crítica sobre prática, formação permanente e aprendizagens entre pares; elementos essenciais e que contribuem com o desenvolvimento profissional docente. Mas, além disso, também é fundamental olhar para o seu emocional: afinal, quem cuida de quem cuida?

Algumas iniciativas do terceiro setor também têm olhado para essa questão: com base em sua expertise de 30 anos na formação de educadores, o Instituto Ayrton Senna lançou uma jornada formativa sobre socioemocional de professores. Na Humane, espaço digital gratuito de cursos, os educadores podem realizar uma trilha para identificar as competências que podem fortalecer e encontrar caminhos para esse desenvolvimento.

Para enfrentar as complexidades do mundo VUCA — volátil, incerto, complexo e ambíguo —, é necessário que o educador seja mais do que um conhecedor e transmissor de conhecimento. Ele deve se tornar um protagonista da educação integral, capaz de inovar em sua prática pedagógica e construir, junto com os estudantes, caminhos para a aprendizagem. Apoiar e contribuir com a formação permanente dos professores são essenciais para uma educação de qualidade. Por isso, deve-se desenvolver iniciativas que vão além de conteúdos acadêmicos, criando oportunidades para que educadores fortaleçam suas próprias habilidades e estejam mais preparados para formar gerações que transformarão o mundo.

Educar é mais do que ensinar. É inspirar, acolher e conectar-se. Ao valorizar o professor e investir em seu desenvolvimento, damos um passo essencial para transformar vidas, construir sonhos e acelerar o futuro.

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