Na primeira metade da década de 1970, o país vivia sob o domínio nefasto da ditadura militar, quando amigos e músicos mineiros, liderados por Milton Nascimento e Lô Borges, juntaram talento e sensibilidade para criar um movimento de grande relevância, no âmbito da Música Popular Brasileira (MPB): o Clube da Esquina.
Quase que ao mesmo tempo, Lô Borges, então com 20 anos, chegava ao mercado com o LP que ficou conhecido como o Disco do Tênis. Isso decorreu do fato de a capa trazer como ilustração um par de tênis — de segunda mão — que o então jovem cantor e compositor ganhara de um primo.
O fotógrafo Cafi, que registrou o calçado em frente à sua casa, levou o material à gravadora EMI Odeon, que reagiu mal ao trabalho, pois já não havia gostado da capa do Clube da Esquina, que trazia a foto de duas crianças em vez dos artistas. Mas, segundo Lô, o tênis simbolizava sua intenção de botar o pé na estrada após o lançamento do disco, por não querer mais ver apenas como obrigação contratual com a gravadora.
E ele mostrou isso na prática. Após fazer o lançamento, botou o pé na estrada, viajando de ônibus pelo Brasil, vendendo cópias pelas praças de diferentes cidades, uma vez que a comercialização feita pela Odeon frustrou as expectativas. Em 2018, o disco foi relançado, em gravação ao vivo. Lô fez mais: entre 2019 e 2023, compôs muitas canções e lançou cinco álbuns inéditos.
Um deles reúne letras do maranhense Zeca Baleiro, com quem nunca havia trabalhado. O primeiro single, intitulado Antes do fim, que chegou às plataformas digitais no dia 1º último, traz os dois cantando juntos, num contraste de voz mais aguda com outra, mais grave.
A letra trata de um tema bastante atual: a visão de que o poder financeiro na mão de poucos levará o mundo a um colapso. O álbum, que sai pela gravadora Deck, chega na íntegra às plataformas digitais no dia 22 próximo.
