Há meses que carregam simbolismos quase inevitáveis. Agosto, para muitos, é um mês de desgosto. Crendices ou não, fato é que se tornou uma espécie de calendário de ausências. É neste mês que se assinalam as mortes — em diferentes anos e contextos — de personalidades como Juscelino Kubitschek, Silvio Santos, Roberto Marinho, Tarcísio Meira e Marilyn Monroe. Um político, dois empresários da comunicação, um ator e uma estrela de Hollywood. O que poderia aproximá-los? Talvez, a forma como moldaram, cada qual a seu modo, a ideia de espetáculo que rege a vida pública moderna.
Juscelino Kubitschek foi, talvez, o primeiro grande "showman" da política brasileira. Carismático, visionário, lançou o Brasil ao futuro com Brasília e o lema "cinquenta anos em cinco". Mais que gestor, foi um personagem: sua figura sorridente transmitia confiança, um presidente que parecia estar sempre em campanha, ciente da força da imagem. O ex-presidente e fundador da nova capital federal morreu em 1976, no dia 22.
Perda mais recente — fez um ano, no dia 17 —, Silvio Santos, por sua vez, encarnou a passagem do camelô ao ícone televisivo. Fez de si mesmo um personagem nacional, popular e acessível. Sua obra não foi apenas um império midiático, mas a transformação da televisão em ritual familiar. Senor Abravanel construiu um Brasil paralelo, de auditório, prêmios e esperança, em que todos podiam acreditar que a sorte sorriria.
Roberto Marinho, menos visível, foi igualmente determinante. Se Silvio Santos representava a espontaneidade popular, ele simbolizava o poder da instituição. A TV Globo, sob sua batuta, não apenas passou a narrar o país, mas a organizar o imaginário coletivo: ditando gostos, modulando comportamentos, consolidando narrativas. O fundador da maior emissora de televisão do país nos deixou em 6 de agosto de 2003.
Com sua presença imponente e voz grave, Tarcísio Meira foi o herói romântico da televisão. Símbolo da virilidade elegante, atravessou gerações como rosto do melodrama, do épico, do nacional-popular. Representava uma ideia de Brasil galante, quase aristocrático, que dava dignidade às novelas e legitimava a dramaturgia como espelho da nação. Vítima da pandemia, nos deixou em 2021, no dia 12.
Do outro lado do continente, Marilyn Monroe encarnava o mito da vulnerabilidade convertida em desejo. Seu brilho foi tão intenso quanto breve: símbolo sexual e vítima de sua própria imagem. Marilyn sintetizou o preço de ser mito: entre o glamour e a solidão, entre o sorriso fotográfico e a dor íntima. Foi a perda mais precoce: aos 36 anos, em 4 de agosto de 1962.
Cada qual em sua esfera, eles trabalharam com a mesma matéria: o imaginário coletivo. Criaram sonhos, encenaram destinos, ofereceram ao público não apenas obras, mas modos de ver o mundo. O corpo se vai, o mito permanece — e nos diz muito sobre o Ocidente da segunda metade do século 20: a política como espetáculo, a mídia como poder, a televisão como espelho e palco, a celebridade como destino. Todos, de JK a Marilyn, compõem um mosaico que nos ajuda a compreender o século em que vivemos — e a perceber o quanto ainda somos filhos das imagens que eles projetaram.
