Artigo

Os escombros e as luzes da infância

Proteger a infância é uma missão difícil em tempos de guerra e de tantos outros tipos de ameaças, como violência doméstica e sexual, incluindo toda forma de erotização

Dados recentes do Unicef mostraram que 64 mil crianças foram mortas e feridas em Gaza. Centenas morreram de fome. Penso nelas hoje, no Dia das Crianças. Penso na miséria humana, que é capaz de enterrar e mutilar corpos infantis e inocentes, sequestrando-lhes o futuro. Penso no privilégio de tantos, que conseguem criar seus filhos e netos em segurança. Penso na imensa contradição e nos sentimentos ambíguos que eclodem quando falamos de infância.

Proteger a infância é uma missão difícil em tempos de guerra e de tantos outros tipos de ameaças, como violência doméstica e sexual, incluindo toda forma de erotização; redes sociais e desinformação; ansiedade e problemas de aprendizado; fome e condições insalubres de estudo e moradia; violência urbana e exploração.

A insegurança está por toda parte. Às autoridades, cabem políticas públicas e fiscalização. Aos pais e às escolas, educação e prevenção. A todos, cabem a obrigação e o interesse coletivo pelo bem-estar, a segurança, a proteção da vida e da dignidade das crianças. Seus direitos inalienáveis e legais são surrupiados de tantas formas que fica difícil vislumbrar este planeta como um lugar seguro para a infância.

E a infância é tão bonita e tão poderosa. O brincar e o amar desinteressados são dádivas. A alegria genuína das crianças, com aquela inocência, é bálsamo. Conviver com elas é trazer para perto uma sensação boa, de recomeço. Assisti-las crescendo e ganhando o mundo é um aprendizado incrível, que tira nosso umbigo do centro do mundo. A criança tem o dom de nos fazer enxergar o outro. É uma espécie de feitiço bom. A gente cuida sem perceber que é cuidado o tempo todo.

A criança, com sua inocência, nunca deixa de existir em nós. Às vezes, deixamos escondida, bem fundo, nossa alma infantil, porque nem toda infância é boa e à prova de dores. Mas é sempre possível resgatar de alguma forma e é bom que façamos isso, nem que seja para pedirmos desculpas. Já tentou fazer uma reconciliação com a criança que foi um dia? Talvez seja importante.

No dia de hoje, vou olhar para os meus filhos crianças, para minha netinha, Liz, mas também para meu eu pequeno e brincalhão. Vou ver a meninada na Marotinha 2025, que acontece hoje. Mas também vou rezar pelas crianças de Gaza e por tantas outras que estão em desmedido sofrimento.

Mais Lidas