O Brasil está próximo de encerrar mais um ano letivo e, novamente, antigas questões seguem sem apresentar soluções definitivas. A desigualdade de acesso e a falta de qualidade de infraestrutura, de atividades pedagógicas ideais e de formação de professores são realidades contemporâneas que aumentam os desafios. No contexto da educação infantil, base fundamental para os desenvolvimentos cognitivo, emocional e social do cidadão, ainda há muito a ser superado, o que revela esforços lentos e insuficientes.
No último dia 5 de agosto, o Decreto nº 12.574 instituiu a Política Nacional Integrada da Primeira Infância (PNIPI). O objetivo é coordenar as ações públicas de diferentes áreas (como educação, saúde e assistência) para garantir a evolução integral das crianças de 0 a 6 anos, com a colaboração dos governos federal, estadual e municipal. Assegurar a presença dos pequenos nas instituições de ensino é o primeiro ponto. Embora a matrícula na educação infantil tenha crescido nas últimas décadas, muitas crianças, especialmente as que vivem em áreas rurais ou periféricas, ficam excluídas do sistema de creches e pré-escolas.
A meta estipulada no Plano Nacional de Educação (PNE) era atender 50% das crianças com até 3 anos, de 2014 a 2024, o que não aconteceu. Estudo do Todos pela Educação — com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) e o censo escolar — revelou que 41,3% desse público é atendido no país, e aproximadamente 2,3 milhões estão fora das creches. O atendimento por diferença de renda também é escancarado, registrando 30,6% de assistência para crianças de famílias carentes diante de 60% das mais ricas.
Outro problema encarado diariamente é a infraestrutura precária — ausência de espaços apropriados, material pedagógico insuficiente e condições de higiene e segurança inadequadas estão presentes em diversas regiões do país. Fatos que contrastam com a importância da educação infantil para a sociedade.
A valorização dos profissionais também é ponto crítico. Muitos professores não recebem formação específica para atuar na educação infantil e, além disso, os salários costumam ser baixos, o que desmotiva e provoca alta rotatividade. Com as novas tecnologias e a introdução da inteligência artificial (IA), a capacitação inconsistente agrava o quadro.
Já o financiamento insuficiente no ensino básico, especialmente da primeira infância, continua sendo mais um obstáculo. Eliminar a função predominantemente assistencial e investir nessa etapa é assegurar melhores resultados futuros para os indivíduos e, consequentemente, para o país.
Nações que avançam nas estatísticas educacionais apostam no protagonismo dos anos iniciais dentro das escolas para evitar que os estudantes carreguem lacunas que, no decorrer dos estudos, provoquem baixo desempenho, desmotivação e evasão escolar. Priorizar a educação infantil é uma atitude estratégica para o desenvolvimento nacional. O país precisa assumir o compromisso político de valorização dessa fase do ensino para transformar vidas e acompanhar o crescimento acelerado do mundo globalizado.
