Causa surpresa em alguns a utilização deum zagueiro na lateral direita do Brasil. Éder Militão iniciará o amistoso contra Senegal em uma das posições mais carentes na Seleção, hoje, às 13h, no Emirates Stadium, em Londres. Carlo Ancelotti convocou os especialistas Wesley, Paulo Henrique e Danilo, mas deseja observar o beque na função desempenhada na própria Seleção Brasileira sob o comando de Tite, no Real Madrid com o italiano, no Porto e no São Paulo — o clube formador.
Fiz uma pesquisa na lista das partidas da carreira do paulista de 27 anos nascido em Sertãozinho na lateral direita. O levantamento aponta 44 exibições. Logo, ele é, sim, alternativa. Os conservadores dirão que Carlo Ancelotti está inventando moda. Não! Três das últimas quatro seleções campeãs do mundo usaram desse artifício.
Em 2018, a França escalou um zagueiro na lateral esquerda. Didier Deschamps deslocou Lucas Hernández para o setor. A linha defensiva da seleção campeã do mundo tinha Pavard na lateral direita, a dupla de beques formada por Varane e Umtiti e Lucas Hernández na esquerda. Uma lembrancinha: Pavard começou na zaga até se descobrir… lateral.
O improviso na Copa da Rússia fez bem a Lucas Hernández. Versátil, ele é lateral, hoje, no Paris Saint-Germain. Luis Enrique sabe: pode contar com ele como ele em mais de uma função. Exatamente como Éder Militão no Real Madrid e na Seleção Brasileira.
Em 2014, a Alemanha iniciou a campanha do tetra com dois zagueiros improvisados nas laterais na goleada por 4 x 0 contra Portugal, na Arena Fonte Nova, em Salvador. Boateng ocupava a direita, e Höwedes a esquerda. Mertesacker e Hummels eram os dois zagueiros.
Do meio para a frente, o técnico Joachim Löw soltava Lahm, Khedira, Kroos, Özil, Thomas Müller e Götze. Durante o torneio, Lahm voltou à lateral direita e o zagueiro-zagueiro Höwedes era quem fazia o balanço defensivo pelo lado esquerdo da Alemanha. Inclusive, no 7 x 1. Foi assim até a conquista da quarta estrela diante da Argentina, no Maracanã.
A versatilidade fez a diferença no título inédito da Espanha na Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. A dupla de zaga do técnico Vicente del Bosque era formada por Piqué e Puyol, ambos do Barcelona. Híbrido, Sergio Ramos atuava nas duas. Polivalente, Puyol transitava facilmente pelas quatro posições.
A opção de Carlo Ancelotti por Éder Militão como lateral-direito é criativa e compreensível. A Seleção não desfruta de um camisa 10 como Arrascaeta nem de um Elirng Haaland vestindo a 9. Logo, todo o poder está delegado aos pontas. É preciso formar um cinturão na defesa para soltar Estêvão, Rodrygo, Vinicius Junior e Matheus Cunha. Do outro lado, Alex Sandro aumenta a segurança na lateral esquerda. Mais à frente, o quarteto pode sofrer pequenas trocas de nomes diante das opções de Raphinha,Luiz Henrique, Gabriel Martinelli, João Pedro e a maior de todas as incógnitas: Neymar.
Gosto de treinadores criativos para driblar carências. Abel Ferreira foi ousado na goleada por 4 x 0 contra a LDU na partida de volta das semifinais da Libertadores. Ganhou a partida ao escalar Allan na ala/ponta-direita. Bruno Fuchs fazia o papel de lateral, zagueiro e primeiro volante. Tudo muito bem coordenado.
Ao instalar o chip do Real Madrid na Seleção com Éder Militão na lateral-direita, Ancelotti permite ao Brasil transformações mutações na partida. Podemos ver uma formação inicial no 4-2-4 alternando para 4-4-2, 3-2-5 e até mesmo 3-5-2. Benefícios do efeito Éder Militão. A ver...
