ARTIGO

O jogo político do futebol

Presidentes, dirigentes e executivos de clubes protagonizam movimentações públicas e privadas friamente calculadas dentro e fora das quatro linhas

 

Futebol e política caminham de mãos dadas. Presidentes, dirigentes e executivos de clubes comprovam a tese positivamente — e negativamente — com movimentações públicas e privadas friamente calculadas dentro e fora das quatro linhas.

Dono da caneta do Vasco, Pedrinho está a uma partida de igualar o feito do maior ídolo do clube amanhã, às 18h, contra o Corinthians, no Maracanã. Roberto Dinamite é uma raridade. Empilhou títulos como jogador e celebrou a Copa do Brasil de 2011 diante do Coritiba no papel de mandatário em um tempo difícil. Opositor derrotado, Eurico Miranda tentou sabotar a gestão. Resistente, a administração imperfeita do “Bob” ganhou a Série B do Brasileirão 2009 com o técnico Dorival Júnior e a promessa Philippe Coutinho.

A possibilidade de um ex-jogador conquistar título como presidente de clube no Brasil é quase zero. A política rasteira da velha cartolagem faz barricadas para evitar o acesso de quem construiu a história do time na bola ao poder. Ronaldo, por exemplo, teve a pré-candidatura minada com golpes baixos na última eleição da CBF. Mauro Silva faz belo trabalho na vice-presidência da Federação Paulista, porém tem os caminhos fechados por blocos de resistência a quem não representa o coronelismo. É assim aqui e lá fora. A Uefa e a Fifa cortaram os planos de Michel Platini e Franz Beckenbauer pela raiz. 

Enquanto, no Brasil, trabalha-se contra o boleiro aposentado, na Argentina eles mandam em clubes de ponta. Erram, mas resistem. Verón é o presidente do Estudiantes. Riquelme lidera o Boca Juniors. Francescoli influencia o River Plate na função de diretor esportivo. Não há repulsa por eles.

Por falar em objeção, o ex-zagueiro e técnico Abel Braga acaba de fazer um gol contra no campo político. Criticou a contratação do italiano Carlo Ancelotti para assumir a Seleção Brasileira. “Você abre o paletó e a pele não é verde e amarela”. Incoerente, participou da contratação do primeiro treinador da gestão dele como diretor técnico do Internacional: o uruguaio Paulo Pezzolano. Parabéns pela revisão do comportamento xenófobo. Ou a mudança de opinião tem viés político para atender à liturgia do cargo? 

Luiz Felipe Scolari, sim, agiu politicamente correto. Foi anfitrião da CBF na posse de Carlo Ancelotti depois de ser aceito como técnico de Portugal de 2003 a 2008, e do Chelsea em 2008/2009. Coordenador-técnico do Grêmio, aprovou o lusitano Luís Castro com um vídeo simpático.

Antipáticas são as posturas de dois presidentes de clubes paulistas. A administração de Leila Pereira no Palmeiras é quase irretocável. A articulação para mudar o estatuto e disputar o terceiro mandato depõe contra ela e deveria ser barrada. 

O presidente do São Paulo, Julio Casares, foi atingido em cheio pelo escândalo da exploração clandestina de camarotes no MorumBis, denunciada em reportagem do colega Bruno Giufrida no GE. Renúncia? Que nada! Uma notinha “resolve”. 

Um conselho aos torcedores: aprenda a enxergar o seu clube além da paixão. Futebol e política andam de mãos dadas em uma combinação altamente corrosiva.


 


 

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