A formação de pessoas por meio da educação é um dos componentes principais de uma sociedade. As escolas podem influenciar na construção urbana, cultural e social dos espaços. Desde sua inauguração, a Escola das Nações se tornou um dos destaques e modelos de educação internacional que nasceram e ajudaram no desenvolvimento destes 62 anos de Brasília, ainda com o espírito de inovação e criação proporcionados pela constituição de uma cidade jovem que concentra tantas origens, regionalidades e nações.
Fundada há 41 anos por quatro educadores, James e Jeannine Sacco; e Jacques e Suzanne von Frasunkiewicz, é uma instituição que promove não apenas a formação de alunos para uma jornada universitária no país e no mundo, mas também a formação de cidadãos globais, proporcionando o desenvolvimento de qualidades acadêmicas, éticas e espirituais.
"Nosso desejo é que a Escola seja um lugar onde as nações se reúnam para superar barreiras de preconceito e ser um meio de aprender a conviver e se relacionar com pessoas diversas… de todo o mundo!", explica o cofundador James Sacco.
Criada para ser um ambiente multicultural, é considerada por seus fundadores como a primeira escola internacional a adotar o modelo bilíngue em Brasília. Seguindo a proposta de expandir conexões e educar alunos para se tornarem cidadãos do mundo, oferece, além da formação em inglês como uma segunda língua nativa, a imersão em espanhol, que molda gerações fluentes em três idiomas que podem ser instigadas a expandir o conhecimento a respeito das outras 29 nacionalidades que formam a comunidade escolar atualmente.
Com um currículo acadêmico rigoroso, a educação transmitida na instituição é complementada por esportes, artes, atividades de serviço e princípios morais fundamentados na crença da fé Bahá'í, para educar cidadãos do mundo com base no princípio espiritual e visionário da unicidade da humanidade. Os bahá’ís acreditam que a necessidade atual e urgente da humanidade é encontrar uma visão unificadora do futuro da sociedade, da natureza e do propósito da vida.
“Nós estávamos no lugar certo e na hora certa para tornar essa visão uma realidade. Foi um ótimo lugar para fazer esse experimento, de uma Escola das Nações, porque a cultura brasileira apoiou e foi receptiva aos valores que queríamos disseminar”, conta James.
A escola que se iniciou com apenas 17 alunos em três salas de aula alugadas de uma escola local de inglês cresceu rapidamente, assim como Brasília. Nos três anos que se seguiram, a Escola passou a atender 85 alunos. Em 1987, os 125 alunos foram finalmente transferidos para o atual campus localizado no Lago Sul, após os fundadores conseguirem o dinheiro para comprar o terreno por meio de doação.
“Era uma celebração quando tínhamos uma criança vindo de outra embaixada, de outra nacionalidade. É como adicionar um instrumento a uma orquestra, cada instrumento é único e necessário. Se tem um instrumento faltando então não vai funcionar”, conta o animado co-fundador Jacques. Mais tarde, em 2002, um segundo campus foi inaugurado para abrigar o crescente Programa de Educação Infantil. Atualmente a escola atende cerca de 800 alunos de 29 países distintos.
De Brasília para o mundo
A Escola das Nações é uma instituição internacional, privada e sem fins lucrativos. Ela oferece a opção do aluno escolher se formar em três diplomas diferentes: o brasileiro, o americano e o AP Capstone®. Esta particularidade fez a diferença na vida de alunos como a museóloga Anna Sofia Meyer França, 27 anos, formada com diploma internacional de ensino médio. Aprovada com uma bolsa de estudos para o programa de mestrado Erasmus Mundus, realizado em países da Europa. Para concluir sua formação, ela teve a oportunidade de estudar na França, na Itália e em Portugal.
Atualmente morando em Lisboa, Portugal, a ex-aluna demonstra gratidão por ter passado todo o seu período escolar na instituição que a inspirou a seguir por trajetos internacionais. “Estudei na Escola das Nações desde os meus quatro anos. Entrei em 1998 e saí em 2012, com 18 anos, realmente passei toda minha infância e adolescência na escola dos meus sonhos”, afirma.
Logo que terminou o Ensino Médio, Anna escolheu estudar na Universidade de Brasília (UnB) e foi aprovada em sua primeira tentativa. “Já escolhi meu curso pensando numa questão internacional, porque sempre convivi com pessoas do mundo todo dentro da sala de aula. Estudei museologia na UnB por 5 anos. Depois, fui para São Paulo fazer uma especialização por um ano. Em seguida, passei para o mestrado na Europa. Fiquei em Portugal pois estou trabalhando aqui”, conta Anna. Antes de partir para o exterior, ela trabalhou em museus de Brasília e de São Paulo. No museu do Senado Federal, auxiliou na catalogação do grande acervo da instituição distribuído pelo Congresso Nacional e na recuperação de relíquias do extinto Palácio Monroe, sede do Senado, ainda no Rio de Janeiro.
“Tenho certeza que a escola me ajudou a ser a pessoa que sou hoje porque ela abriu várias portas. Não só em relação às pessoas que conheci durante o percurso, mas ter tido a oportunidade de aprender o inglês como segunda língua, além de alguns outros idiomas, e de ter convivido realmente com pessoas do mundo todo me abriu portas para ver que eu também poderia ir para outros lugares, isso acabou se tornando o meu objetivo. Viajar, morar em outros países, ter oportunidade de trabalhar e de criar laços em todas as partes do mundo”, complementa.
O desejo de devolver a comunidade
Formar pessoas para que possam contribuir com a cidade, com o país e com o mundo, são alguns dos objetivos da escola, que tem como uma de suas alunas destaques a cientista política e consultora de política energética e climática, Eduarda Oliveira Zoghbi, 28 anos. Atualmente terminando o mestrado em administração pública com foco em política energética na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, ela estudou por quase toda sua formação básica na instituição que lhe inspirou a seguir pela luta ambiental.
“No primeiro momento, o que atraiu meus pais foi a filosofia da escola e a oportunidade de ter acesso ao ensino bilíngue. Eles sempre falaram que queria me criar para o mundo, como parte da futura geração, e que eu tivesse um ensino que pensasse na diversidade. A escola tinha justamente esses propósitos, de tirar da zona de conforto, pensar em soluções mais globais”, explica Eduarda.
A ativista ambiental reconhece como fundamental o papel da instituição no caminho que escolheu para seguir. “Atribuo muito esse meu ativismo à escola. Me lembro que começamos a debater desde cedo sobre sustentabilidade e mudanças climáticas. Uma memória forte que tenho é de um presente que ganhei na quarta série da minha professora Ana, um DVD com o documentário do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, Uma Verdade Inconveniente, aquilo mudou as minhas perspectivas”, afirma.
Participante de vários projetos voluntários desenvolvidos em cidades do Distrito Federal, como Itapuã e Estrutural, ela começou seu engajamento na área de interesse desde pequena. Aos 12 anos de idade, representou a escola e participou da criação da Agenda 21, da Organização das Nações Unidas (ONU). “A Escola incentiva a pensar fora da caixa, além das profissões tradicionais como médico, engenheiro ou advogado. Fui estudar Ciência Política pensando que seria uma forma de impactar e mudar a agenda ambiental no Brasil”.
Ao refletir sobre o futuro, conta que tem como um de seus objetivos retornar a capital e aplicar o que aprendeu na cidade. “Amo muito Brasília, inclusive tenho como um dos meus objetivos voltar para trabalhar como professora na UnB. Acho que a escola também proporciona esse senso de que podemos devolver para a cidade o apoio e crescimento que tivemos lá. Sei o privilégio que tive ao estudar em uma instituição como aquela e ter tantas oportunidades. Quero conseguir devolver isso para a comunidade trabalhando na minha área de educação ambiental e energia”, finaliza a ativista que recentemente apresentou para o Senado Federal brasileiro seu trabalho no Fórum da Geração Ecológica, na universidade em que está finalizando os estudos nos Estados Unidos.
Passado, presente e futuro da instituição
O administrador de empresas, Danyel Dalmaschio Silva, 41 anos, pode ser considerado como um representante do passado, do presente e do futuro da instituição. Como atual gerente administrativo e financeiro da escola, é também ex-aluno e futuro diretor executivo. Com passagens por diversas áreas e cargos na administração da escola, tem orgulho do caminho trilhado pela instituição na formação de Brasília e na vida de centenas de alunos.
“Hoje temos ex-alunos atuando em diversas áreas do setor público e privado. Nossa aspiração é que nosso forte embasamento na educação de virtudes e valores, associada a um excelente ensino acadêmico tenha formado cidadãos valorosos, capazes de contribuir para uma sociedade em constante evolução, não apenas material, mas também espiritual”, afirma.
Além de aluno, entre 1992 a 1997, em 2004 Danyel voltou para a escola, desta vez para compor o quadro de funcionários. Trabalhou como recepcionista, coordenador de comunicação, coordenador de atividades extracurriculares, gerente administrativo e em julho deste ano deve assumir o cargo de diretor executivo da Escola das Nações.
“Retornei após um período morando fora. Nenhuma outra instituição de ensino tem a experiência e a dedicação que nós temos em educar alunos para se tornarem cidadãos do mundo. Foi na escola que pude viver num ambiente multicultural e entender que as diferentes culturas não são certas ou erradas, apenas diferentes. Cada uma embasada em suas experiências prévias de vida”, conta.
Sobre o futuro, o próximo diretor ressalta como o cenário contemporâneo tem mostrado o quão importante e valioso é e continuará a ser o trabalho internacional desenvolvido pela Escola das Nações. “Apesar dos desafios que se apresentam, nós continuamos focados em prestar um serviço de excelência na formação de cidadãos que irão herdar um mundo repleto de desafios complexos e que terão a missão de construir uma sociedade justa, sustentável e global”, conclui.
Matéria escrita pela jornalista Sarah Paes