“O homem tem o sentimento de posse e, por essa razão, muitos casos de feminicídios ainda ocorrem”. A avaliação, feita pela secretária da Mulher, Giselle Ferreira, indica a necessidade da luta contra violências enraizadas na sociedade para que o crime seja combatido. Em entrevista para a coluna Eixo Capital, do Correio Braziliense, ela ressaltou: "nenhuma mulher a menos, nenhuma vida destroçada".
O cenário é preocupante e requer uma mobilização da sociedade como um todo. Entretanto, de acordo com a Comissão de Enfrentamento da Violência Doméstica da Ordem dos Advogados do Brasil, da Seccional do Distrito Federal (OAB-DF), 70% das mulheres vítimas de tentativa de feminicídio não registram ocorrência, o que dificulta no mapeamento e prevenção de assassinatos.
"Às vezes a mulher percebe que é vítima de violência, mas ela tem vergonha de contar o que estava passando, de ser julgada. Ela tem vergonha da família, dos conhecidos, dos parentes'", informou a presidente Cristina Tubino. A especialista ainda indica que toda mulher pode ser vítima de violência doméstica.
“Isso é uma das coisas mais importantes, para que essas mulheres saibam que elas podem buscar ajuda. Existe um sentimento de solitude. A mulher, no primeiro momento, acha que é só ela e que ninguém passa por aquilo. E, tem uma outra questão também: às vezes as mulheres têm uma dependência que não é só emocional, afetiva”, complementa.
Sabe-se que o número de feminicídios no Distrito Federal continua entre os mais altos do país, colocando-se acima da média nacional. A constatação foi feita no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, referente a 2021, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Com 1,6 caso de feminicídio a cada 100 mil habitantes, a capital do país está na sétima posição, junto com Maranhão, Rio Grande do Sul e Roraima.
Buscando combater essa realidade para que as mulheres vivam livres e sem opressões, o Governo do Distrito Federal (GDF) implementa, por meio da Secretaria de Estado da Mulher (SMDF), ações que buscam desconstruir o atual quadro e, também, acolher as mulheres da região em situações de perigo. Conheça as iniciativas adotadas:
Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (NAFAVDs)
Os Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (NAFAVDs) oferecem acompanhamento psicossocial às envolvidas em situação de violência doméstica e familiar. Qualquer pessoa pode buscar atendimento e acompanhamento de forma espontânea. Antes, era preciso que vítimas e autores de violência fossem encaminhados pelo Poder Judiciário ou pelo Ministério Público. Agora, qualquer um pode procurar ajuda.
Atualmente, a capital conta com oito núcleos em funcionamento nas regiões do Plano Piloto, Brazlândia, Gama, Paranoá, Planaltina, Santa Maria, Sobradinho e Samambaia Norte, este último inaugurado recentemente.
“A construção da igualdade não passa só pela vida das mulheres. Em 2003, abrimos as portas do NAFAVD para que vários estados do país implementassem uma política como esta. Hoje, tenho a certeza de que estamos mostrando para a sociedade o que esse equipamento faz. Estamos chamando a atenção do governo para a importância de trabalharmos a questão do autor de violência”, afirmou Ericka Filippelli, secretária da Mulher que estava em exercício na inauguração do equipamento, em Samambaia Norte.
Casa da Mulher Brasileira (CMB)
A Casa da Mulher Brasileira (CMB) atende às mulheres todos os dias da semana, durante 24h, no centro da Ceilândia. No local, a mulher é acolhida e recebe um atendimento humanizado, psicossocial e capacitação profissional. A Casa também centraliza o suporte às vítimas de violência doméstica, agilizando a resolução da ocorrência e define uma porta de saída para a crise, com o apoio da Defensoria Pública, do Ministério Público, da Polícia Civil e do Tribunal de Justiça.
Neste ano, o DF ainda receberá quatro CMBs. As unidades estarão localizadas em São Sebastião, Recanto das Emas, Sobradinho II e Sol Nascente. “Isso vai ampliar o anel (de auxílio) do Distrito Federal e fazer com que as mulheres saibam que podem ser acolhidas”, indicou a secretária Giselle Ferreira, em entrevista ao programa CB.Poder.
Casa Abrigo
A Casa Abrigo recebe mulheres em situação de violência sob grave risco de vida, juntamente com seus filhos menores de até 12 anos de idade, que são para lá encaminhadas pela rede de enfrentamento à violência. O acesso se dá apenas por encaminhamento.
O espaço busca garantir a defesa e proteção de mulheres vítimas de violência doméstica, familiar e sexual, em risco de morte, e de seus dependentes. Além disso, conta com atendimento psicológico, jurídico, pedagógico e de assistência social.
“Há saída para as mulheres vítimas de violência no DF. Temos um conjunto de esforços para proteger, assegurar e promover a reinserção delas no mercado de trabalho e na sociedade”, destaca Giselle.
Matéria escrita pela jornalista Gabriella Collodetti