Pandemia escancara necessidade de atenção para a obesidade

Números de infectados, internados e de mortos com obesidade e Covid-19 mostram que o excesso de peso deve ser tratado com prioridade e maior atenção

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postado em 07/11/2020 01:28 / atualizado em 09/11/2020 16:47
 (crédito: nordisk)
(crédito: nordisk)

A pandemia do novo coronavírus trouxe de forma mais contundente os riscos da obesidade. Dados, pesquisas e números comprovam que pessoas com outras comorbidades, como hipertensão e diabetes, têm mais chance de desenvolver a versão mais grave da Covid-19, e não conseguir se recuperar em casa, precisando ir para uma unidade de saúde. De lá, muitas vezes vão para a Unidade de Terapia Intensiva para ter mais chance de se recuperar, pois o sobrepeso impacta na reabilitação do paciente.

O Brasil é um dos países onde a quantidade de pessoas com obesidade só aumenta. A pesquisa anual de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, apontou que passou de 11,8% em 2006, ano em que o monitoramento começou a ser feito, para 20,3% em 2019 – incremento de 72%. Significa que dois em cada 10 brasileiros têm obesidade. Entre as mulheres, a taxa da doença foi de 21%, e entre os homens, 19,5%.

Com foco em conscientizar, debater e sugerir formas de prevenção e tratamento para pacientes com obesidade, foi realizado, no último dia 15/10, o webinar “Raio X da Obesidade: o que a Covid-19 expôs sobre a vulnerabilidade do paciente?”. Com iniciativa e realização do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) e patrocinado pelo Novo Nordisk, o evento teve a participação de especialistas que discutiram a importância das políticas públicas no tratamento desses pacientes e quais melhorias são necessárias para o combate efetivo da obesidade no país.

Moderação por Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL)
Moderação por Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) (foto: novo nordisk)

O webinar foi moderado por Marlene Oliveira, presidente do LAL, e por Cintia Cercato, médica endocrinologista, professora da pós-graduação em obesidade na USP e diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

Os participantes convidados foram Gisele Bortolini, coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde; Flávia Tanaka, especialista em Regulação de Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar; Cristiane Pantaleão, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS); e Luiz Teixeira Júnior, que já foi secretário de Estado da Saúde do Rio de Janeiro, e atualmente é deputado federal.

Marlene Oliveira conduziu o webinar e reforçou que o LAL está acompanhando de perto as discussões sobre obesidade, afinal é a causa transversal de seus dois principais eixos de atuação: câncer e doenças cardiovasculares. Assim, entende que a Covid-19 demonstrou a essencialidade de colocar o paciente com obesidade na discussão de melhorias do sistema de saúde.

Cintia Cercato, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO)
Cintia Cercato, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) (foto: novo nordisk)

Logo no início, Cintia Cercato abordou os números da doença, fazendo uma correlação entre a pandemia e a obesidade. “Estamos vivendo uma crise de saúde sem precedentes por causa da pandemia da Covid-19. E cientistas comprovaram em estudos e estatísticas que pessoas com obesidade têm 46% mais chances de testarem positivo para Covid-19; 113% mais chances de serem hospitalizadas pela doença; e 74% mais chances de sofrerem internações em UTI. Elas têm mais riscos porque têm mais chances de ter doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, problema cardiovascular, dentre outros. Além disso, impacta a respiração, pois compromete o trabalho dos pulmões. Para completar, a obesidade é uma inflamação e, por isso, quem tem a doença tem mais chance de pegar um vírus.”

Slide da apresentação da Cintia Cercato
Slide da apresentação da Cintia Cercato (foto: novo nordisk)

Cercato destacou também a relevância de pensar nas pessoas com obesidade como um todo, não somente como uma doença física. “É importante mostrar que obesidade é doença, temos que fazer com que as pessoas se conscientizem disso. É preciso ter cuidado com o bullying que os obesos sofrem, temos a responsabilidade de estimular políticas públicas de prevenção e tratamento. Temos uma parcela grande da população acima do peso, então é fundamental focar nesse público.”

Especialista em Regulação de Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Flávia Tanaka falou sobre a necessidade de se reforçar frequentemente que obesidade é uma doença grave, pois poucos levam a sério ou lutam para melhorar a saúde nesse quesito. Ela fala de uma essencial junção de especialistas para ajudar quem enfrenta a doença.

 Flávia Tanaka, especialista em Regulação de Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
Flávia Tanaka, especialista em Regulação de Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) (foto: novo nordisk)

“A obesidade já é reconhecida como um dos maiores problemas de saúde do mundo e está diretamente ligada à epidemia da saúde mental. Isso é importante demais, pois obesos não são obesos porque gostam de ser. É preciso um trabalho com vários especialistas, tratamento com nutricionista, endocrinologista e psicólogo. Esse tripé é fundamental para que se chegue a um objetivo. É muito importante a agência ajudar a mostrar a prevenção desde criança até adulto. Tem que garantir o tratamento e o acompanhamento pós-cirúrgico, se for necessário”, comentou, para em seguida reforçar que é um tema que precisa ser debatido devido à dificuldade de convencer as pessoas a se tratarem. “A OMS (Organização Mundial da Saúde) fez um estudo em 2017 sobre ações de promoções e prevenção à obesidade e não houve evolução, infelizmente. Por isso, temos que bater sempre nessa tecla.”

Quando perguntado como as ações da ANS se dão na prática, com relação a resultados, Tanaka ressaltou que a agência ainda tem dificuldades em medir os desfechos de suas iniciativas para esse público. Ainda assim, ressaltou que os planos de saúde, principalmente com a pandemia, estão estimulados a gerir a sua população do ponto de vista preventivo e não mais assistencial como uma forma de reduzir gastos. Ressaltou que, de cerca de 750 operadoras de planos de saúde atuais, cerca de 400 possuem algum tipo de programa de promoção à saúde.

Coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Gisele Bortolini também se mostrou bastante preocupada com os números alarmantes de pessoas com obesidade e os prognósticos para o futuro. O Brasil foi um dos primeiros países a estabelecer metas relacionadas à obesidade, tentando parar o crescimento generalizado da doença em adultos. Ainda assim, Bortolini entende que é

preciso encontrar novas formas para abordar o tema, uma vez que a meta não está sendo cumprida.

Gisele Bortonili, coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde
Gisele Bortonili, coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde (foto: novo nordisk)

 

“É um tema muito importante para o Ministério da Saúde. Temos que, pelo menos, deter o crescimento da doença no Brasil. Está no Plano Nacional de Saúde. É uma meta antiga que infelizmente não conseguimos atingir ainda, mas temos que insistir no tema para chegarmos a números positivos de fato.

Um fator que nos preocupa é que as crianças estão ficando cada vez mais obesas. E enfrentando a obesidade desde criança, a chance de se tornar um adolescente, um adulto com a doença aumenta consideravelmente. Além da saúde do cidadão, a obesidade gera um preço muito alto para o Sistema Único de Saúde (SUS), pois traz consigo uma série de doenças crônicas. Dessa forma, ele precisa muito mais do SUS. Por isso temos que fazer políticas públicas de prevenção e enfrentamento da obesidade.”

INVESTIMENTO CERTO

Mais investimento para a prevenção e o tratamento da obesidade foi uma bandeira comum para todos os participantes do webinar. Cristiane Pantaleão, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), corroborou com o discurso de Bortolini: “Temos que nos unir, esfera pública federal, estadual e municipal e os cidadãos comuns, para enfrentar esse mal que é a obesidade. Mais de 85% dos problemas de saúde no Brasil são gerados pela obesidade. A pandemia mostrou para a gente a importância do SUS, que pede um mapeamento dos cidadãos de acordo com sua residência, idade e peso para poder avaliar e tratar melhor. Precisamos também focar no aumento da qualidade dos profissionais para tratar as doenças crônicas. Inclusive, criamos um programa chamado Previne Brasil para fortalecer a atenção básica nos municípios.”

Cristiane Pantaleão, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS)
Cristiane Pantaleão, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) (foto: novo nordisk)

O Previne Brasil é o programa que trata do novo financiamento da Atenção Primária de Saúde (APS) e, desde a publicação que o instituiu, por meio da portaria 2.979 de 12 de novembro de 2019, o CONSASEMS vem realizando uma série de ações para auxiliar os municípios nas adequações necessárias.

O deputado federal Luiz Teixeira Júnior, que já foi secretário de Estado da Saúde do Rio de Janeiro, disse que a pandemia serviu para constatar algo que já deveria ser levado a sério há muito tempo: o aprimoramento do sistema passa pela valorização e a qualificação das residências dos profissionais, como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e nutricionistas.

Luiz Teixeira Júnior, deputado federal)
Luiz Teixeira Júnior, deputado federal) (foto: novo nordisk)


“Infelizmente, teve que chegar uma pandemia para mostrar de forma mais acentuada como é lidar com doenças crônicas. Temos que ter uma qualificação técnica de alta qualidade. Precisamos ter esses profissionais de ponta na Unidade Básica de Saúde. Qualquer tipo de problema de saúde se agrava com a obesidade. Só foi uma constatação do que a gente já sabia, mas os números são claros para mostrar que a obesidade é um dos maiores males do Brasil e do mundo. Eu defendo que a Secretaria Especial de Esporte deveria estar dentro do Ministério da Saúde. Tem muito mais lógica e dá para pegar orçamento e investir em ambos ao mesmo tempo. Esporte e saúde têm que andar lado a lado”, declarou o parlamentar.

Com relação ao papel do Legislativo, reforçou que está em contato com o Ministério da Saúde para tentar avançar com alguns projetos de lei que estão estagnados e que versam sobre alimentação. Segundo ele, procurará a partir do ano que vem priorizar a pauta da obesidade infantil, principalmente com relação à alimentação escolar no ensino público, assim como o incentivo às atividades físicas para crianças e adolescentes.

PRINCIPAIS CAUSAS DA OBESIDADE

A obesidade em si é essencialmente causada por um desequilíbrio de energia em longo prazo, criado quando o consumo de calorias de uma pessoa é maior do que a quantidade de calorias que o corpo utiliza. Isso gera um excesso de energia armazenada como gordura. Apesar de ser acionada pelo ganho de peso, a obesidade também é conhecida por ser uma doença crônica complexa, influenciada por diversos fatores, como psicológicos (relacionado à regulação emocional e bem-estar); fisiológicos (relacionado à biologia do indivíduo); ambientais (hábitos sociais de alimentação) e genéticos (genes que afetam o metabolismo).

A razão pela qual a obesidade é vista como uma grande preocupação da saúde, é que o excesso de peso e a obesidade podem levar ao desenvolvimento de outras condições médicas sérias, como diabetes tipo 2, pressão alta, apneia do sono (distúrbio de respiração relacionada ao sono) e certos tipos de câncer. Além disso, pesquisas mostram que o estigma em torno da obesidade pode prejudicar a qualidade de vida de algumas pessoas.

O Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) tem a missão de ampliar o acesso às novas tecnologias e humanizar a saúde de norte a sul do Brasil através do diálogo, do acolhimento e da promoção do bem-estar físico e emocional. Para isso, a equipe do Instituto percorre o país propagando a importância da prevenção, do autocuidado e da autoestima, levando para homens, mulheres e crianças essa conscientização de que a saúde é o bem mais valioso e merece atenção especial. Saiba mais e faça parte desse desafio e dessa nobre missão. www.ladoaladopelavida.org.br

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