OEI recomenda priorizar a diversidade cultural e linguística no país

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postado em 15/12/2022 20:16
 (crédito: Divulgação/OEI)
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Dividida em três dias, a 2ª edição do Diálogos sobre a Educação promovida pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI) trouxe para o segundo dia (15/12), um debate sobre práticas pedagógicas de interculturalidade e bilinguismo. Apostar na interculturalidade para promoção do bilinguismo, português e espanhol, em especial nas localidades de fronteira dos 10 vizinhos brasileiros na América do Sul é recomendado pela entidade intergovernamental, fomentadora da evolução educacional em 23 países, que já contribuiu para a alfabetização de cerca de 4,7 milhões de alunos na região Ibero-América.

Ao reforçar a importância do fortalecimento da língua portuguesa em um modelo intercultural e bilíngue com o espanhol, o diretor e chefe da Representação da OEI Brasil, Raphael Callou, destacou na abertura do evento o apoio do Itamaraty e de países vizinhos às iniciativas. Citou que um prêmio de reconhecimento sob o tema já foi distribuído a escolas brasileiras, argentinas e uruguaias.

São mais de 15 mil km de fronteiras do Brasil com países da América do Sul, segundo Sandra Sérgio, coordenadora de Projetos Especiais da OEI, onde algumas iniciativas estão em curso. Além da premiação de escolas que inovam na educação intercultural bilíngue, uma parceria entre a OEI e a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) ampliará a oferta do curso sobre docência plural nas escolas, com foco nas práticas pedagógicas interculturais bilíngues, e estará disponível a partir de janeiro na plataforma cruzandofronteiras.org.br.

Ao abordar sobre as novas construções sociais de aprendizagem intercultural, José Pacheco, escritor, fundador da inovadora Escola da Ponte de Portugal, defendeu mudanças no modelo pedagógico com “a aprendizagem ao invés da ensinagem”. Segundo ele, “o centro do aprendizado não é o professor, também não é o aluno. O centro de aprendizado está em todo o lugar”. Ele defende que se parta de uma “nova construção social”, da comunidade, da participação de todos os agentes sociais.

  • Divulgação/OEI
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Com 119 livros publicados e referência em inovação educacional, Pacheco, que diz trabalhar “de graça”, criticou o modelo educacional tradicional. “Eu era engenheiro e nunca pensei em dar aula”, confessou, ao contar que a Escola da Ponte surgiu de uma turma de 15 alunos reprovados seis vezes consecutivas, que não sabiam ler. “Abandonamos a sala de aula”. Em contribuição ao projeto de interculturalidade da OEI e parceiros, Pacheco afirmou: “não há dificuldade de aprendizado nos jovens, nem no bilinguismo nem nada, mas dificuldade de ensinagem”. Contou que já trabalhou em favelas e com indígenas, e defende um “modelo integral” de educação.

Fronteira e integração

Gilvan Muller de Oliveira, coordenador da Cátedra da Unesco em Política Linguísticas para o Multilinguismo, disse que fronteira e integração são as palavras-chave do projeto Cruzando Fronteiras. “Não estamos falando de algo periférico, pois o Brasil é o terceiro maior país em número de vizinhos, dos quais em sete falam Espanhol, que tem 80% de mesma raiz do Português. Cerca de 10 milhões de pessoas vivem em 580 municípios, em 10 estados, influenciados pela fronteira no Brasil”. Do outro lado fronteiriço vivem outros sete milhões.

Segundo o especialista, a integração deve transcender ao multilinguismo, necessita de intervenção político-pedagógica, devendo abandonar o monolinguismo e priorizar a diversidade cultural e linguística. “Há linguagens invisíveis, relações de preconceito entre outras dificuldades”, disse. “Vemos escolas atuando como se não existissem fatores de sofrimento para os jovens”, que falam uma língua em casa e são obrigados a falar outra língua na escola. O projeto da OEI sinaliza mudança na abordagem pedagógica nessas regiões. “O multilinguismo é uma realidade irrefreável no mundo e isso precisa se refletir nas práticas educacionais”, afirmou Muller.

Já Nuno Crato, ex-ministro da Educação e Ciência de Portugal, que comandou reforma educativa em seu país, abordou a questão da modernização. “Estamos a assistir a uma verdadeira revolução na educação”, disse, lembrando que o mundo hoje dispõe de “uma massa de dados internacionais” que possibilitam uma evolução de abordagem e de conteúdo, da qual não dispunha 50 anos atrás.

Referências estatísticas educacionais permitem avaliar, por exemplo, que países ibero-americanos “têm algumas dificuldades, a situação não é brilhante”, e, portanto, não prepara os jovens para o futuro. A evolução da educação mostra que “a aprendizagem já não é uma caixa preta” e, portanto, há muito o que fazer em benefício da educação das juventudes, tendo como base os inúmeros avanços científicos – como a neurociência - e tecnológicos, por exemplo.

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