Parcerias aceleram inovação na saúde

Núcleos de avaliação de tecnologia em saúde são peças importantes para gestão sustentável do setor

Quando se fala em sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro, ganha importância o fortalecimento dos Núcleos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (NATS). Presentes em unidades acadêmicas, hospitais e laboratórios, os NATS reúnem cientistas dedicados a desenvolver o conhecimento sobre Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS). Adotada por autoridades do mundo inteiro, a ATS é uma importante ferramenta para avaliar os custos e as consequências, em termos de benefício para o paciente, da incorporação e utilização de uma tecnologia de saúde por determinado grupo populacional. As tecnologias são avaliadas em termos de segurança, eficácia e impacto orçamentário, para considerar a viabilidade econômica de sua incorporação no sistema ou serviço de saúde, além de questões como equidade, impactos éticos, legais, culturais e ambientais.

Desde a década de 1970, a ATS passou a ser reconhecida na Europa como prática científica, porém demorou a chegar a países em desenvolvimento, como o Brasil. Na primeira década dos anos 2000, o Ministério da Saúde adotou uma Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde, estendendo ATS como ferramenta para a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), o que culminou, também, na criação dos NATS, núcleos voltados a estimular a disseminação de ações das ATS no sistema de saúde do país e da Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS), que congrega os NATS parceiros e que tem sido de fundamental importância na divulgação e consolidação da cultura de ATS no Brasil.

Conexão Harpia: impulsionados os NATS no Brasil

Reconhecendo o potencial transformador e o valor da atuação dos NATS, em 2020, a Roche Farma Brasil criou o programa Conexão Harpia, um edital para o financiamento de pesquisas que incentivem o desenvolvimento de ATS no país. Segundo Antonio Silva, Diretor de Estratégia & Acesso da Roche Farma Brasil, a iniciativa nasceu da necessidade de apoiar a otimização da gestão de recursos direcionados a inovações em saúde, que possam impactar a jornada dos pacientes.

“Precisamos somar forças e impulsionar o que já vem sendo feito para gerar mais benefício aos pacientes e menos impacto aos recursos públicos”, completa o executivo.

Em sua primeira edição, o Conexão Harpia incentivou quatro projetos, selecionados por um painel de avaliadores externos e internos da Roche, levando em consideração a relevância da problemática no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), impacto populacional, reprodutibilidade, metodologia e viabilidade da proposta.

Acervo Roche - Jéssica Brunoni, Brenda maia, Roberto Silva e Lilian Reinaldi, enfermeiras e alunas do Curso de Mestrado em Enfermagem (PPGENF) da Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Impacto Positivo

Os vencedores foram beneficiados com doações do projeto da Roche Brasil para que pudessem investir em infraestrutura física e digital, oferecer bolsas de pesquisa para apoio na realização do projeto, produzir publicações científicas e participação em congressos. Doutor em Enfermagem Hospitalar pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Lyra é coordenador do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Enfermagem e Biociência da UniRio (PPGENFBIO). Ele liderou o grupo de pesquisa do Laboratório de Avaliação Econômica e de Tecnologias em Saúde (LAETS), que participou do edital do Conexão Harpia, recebendo o aporte de R$ 90 mil para a execução do projeto Custo-efetividade da prevenção e tratamento da sífilis congênita no estado do Rio de Janeiro.

Projeto Premiado

O LAETS é um NATS vinculado à UniRio e aos programas de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) e de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências (PPGENFBIO). "Desenvolvemos estudos de avaliação econômica e de tecnologias em saúde, tanto para atender demandas externas, dos governos federal, estaduais e municipais, como também a projetos de mestrado, doutorado e pós- doutorado, todos na área de ATS”, continua ele.

Lyra explica que seu projeto partiu da constatação de que a incidência da sífilis congênita permanece alta no Brasil e no estado do Rio de Janeiro, onde a taxa de detecção para a sífilis em gestante é de 35 por 1.000 nascidos vivos, e para a sífilis congênita, superior a 18 por 1.000 nascidos vivos. A penicilina é o medicamento de escolha para o tratamento da sífilis. O estudo teve o objetivo de fazer um levantamento da situação atual e estimar a razão custo-efetividade incremental, parâmetro utilizado para avaliar o custo-efetividade das tecnologias considerando a disposição a pagar, para se evitar um caso de sífilis congênita utilizando a penicilina benzatina pelo SUS, como estratégia terapêutica na atenção primária para prevenção e redução da doença no estado do Rio de Janeiro. A previsão é de que esse estudo seja publicado nos próximos meses e possa reduzir incertezas e orientar o processo de tomada de decisão em relação à ampliação da oferta e administração do medicamento, tão logo a gestante apresente um teste positivo para sífilis.

"O edital Harpia foi para nós do LAETS uma oportunidade ímpar para ajudar a difundir a cultura da ATS no Brasil e no estado do Rio de Janeiro. Os recursos financeiros disponibilizados pela Roche no edital Conexão Harpia possibilitaram a reestruturação e atualização dos equipamentos de informática e software, já obsoletos e necessitando de atualização. Ampliamos a nossa capacidade de desenvolvimento de pesquisa em ATS”, conta.

Novo edital em 2022

A avaliação positiva dessa primeira etapa do Conexão Harpia 2020 estimulou a Roche Brasil a prosseguir com novas alianças que o projeto pode proporcionar.

Acervo Roche -

Para este ano, o Conexão Harpia já tem definidos seus três grandes pilares: Inovação Tecnológica, Saúde baseada em Valor e Perspectiva do Paciente. Assim como o anterior, o edital somente poderá ser acessado por meio de NATS. O cadastramento é feito na plataforma Conexão Harpia, que, em breve, vai dispor de informações mais detalhadas sobre o processo de inscrição. Os cientistas interessados deverão apresentar propostas que se enquadrem em um dos temas, especificando o direcionamento para avaliação da proposta.