GOVERNO

Bolsonaro reconhece que recuperação econômica não será rápida

Presidente admite que volta à normalidade deve demorar, mas minimiza pandemia. E chama de ''ditadores nanicos'' prefeitos e governadores que não priorizam economia

Luiz Calcagno
postado em 06/09/2020 07:00 / atualizado em 06/09/2020 09:25
Sem máscara, presidente visitou obra no Aeroporto de Congonhas durante viagem a São Paulo -  (crédito: Carolina Antunes/PR)
Sem máscara, presidente visitou obra no Aeroporto de Congonhas durante viagem a São Paulo - (crédito: Carolina Antunes/PR)

O presidente Jair Bolsonaro avisou, ontem, que a recuperação econômica do país no pós-pandemia não será rápida, mas voltou a minimizar os efeitos da crise do novo coronavírus. O Brasil já registrou mais de 126 mil mortes pela covid-19. O chefe do Executivo deu a declaração durante visita às obras de recuperação da pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ele aproveitou para atacar governadores e prefeitos, os quais chamou de “ditadores nanicos”.

“O pessoal não tem que ter medo da realidade. Eu falei, lá atrás, que (a doença) ia pegar uma grande quantidade de gente. Para tomar cuidado dos mais idosos, dos que possuem comorbidades, e enfrentar. Esperamos que volte à normalidade o país. Eu digo o mais rápido, porque não vai ter como ser rápido, mas não tão demorado, também”, enrolou-se.

Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, a fala de Bolsonaro sinaliza a possível influência do ministro da Economia, Paulo Guedes, em detrimento da ala militar e do Centrão, interessados em um 2021 — e 2022 — com investimentos públicos e programas sociais para reaquecer a economia. “Essa fala revela que o Paulo Guedes, talvez, tenha conseguido convencer o presidente que a velocidade vai ser lenta. Guedes está tentando controlar o longo prazo. Especialmente, a dívida pública. A fala do presidente incorpora essa leitura do ministro. Isso aponta para uma situação fiscal mais conservadora e agrada o mercado pelos juros baixos”, avaliou.

O especialista afirmou, também, que o governo acertou, na área econômica, no combate à pandemia do novo coronavírus, embora tenha sido tímido no montante destinado a apaziguar a crise. O problema, lembrou, é que o governo federal não teve coordenação. Passou por dois ministros da Saúde — Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich — e permanece há meses com um interino, o general Eduardo Pazuello. A má sinalização provocou incerteza no mercado. “A forma desencontrada do governo federal de enfrentar a pandemia, com dois ministros da Saúde e um interino, deixou o futuro nublado, a despeito de jogar os juros para baixo”, explicou.

Autonomia

O presidente Bolsonaro retornou no início da tarde de ontem a Brasília após viajar para São Paulo na quinta-feira para cumprir agendas no interior e na capital do estado. “Alguns governadores, quero deixar claro, queriam proibir pousos. Alguns governadores fecharam rodovias federais, como o do Pará (Helder Barbalho, do MDB), por exemplo, e tiraram o poder de resolver as questões como eu achava que devia resolver. Como alguns me acusam de ditador, os projetos de ditadores nanicos que apareceram no Brasil afora, não só em áreas estaduais, municipais também, fica de ensinamento essa pandemia aí”, disparou, durante a visita às obras na pista de voo do Aeroporto de Congonhas.

Ao mencionar que teria perdido “o poder de resolver as questões como eu achava que devia resolver”, o presidente fez menção à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 15 de abril. À época, os ministros entenderam que as ações de enfrentamento à pandemia de coronavírus do governo, com base na Medida Provisória 926/2020, não retiravam de governadores e prefeitos a capacidade de tomar providências locais de combate ao vírus. Diferentemente do que disse o mandatário do país, o governo federal não ficou impedido de agir. Quando houve o julgamento, Bolsonaro estava usando a MP para interferir nas medidas de isolamento social.

A primeira escala no estado de São Paulo foi na quinta-feira, cidade de Tapiraí, onde em meio a aglomeração e sem máscara, cumprimentou apoiadores que o aguardavam no local. Já em Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, participou da apresentação do projeto de uma ponte que custará R$ 15 milhões. No mesmo dia, o presidente participou, ainda, de um evento de apresentação do projeto da ponte de acesso ao Bairro Boa Esperança e ao Quilombo São Pedro, na cidade de Eldorado. O presidente também cumpriu agendas no município de Registro. Bolsonaro viajou acompanhado dos ministros da Justiça, André Mendonça, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles; e do deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP).

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