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Defesa cancela desfile do 7 de Setembro

Objetivo da pasta é evitar aglomerações. Evento já foi usado por Bolsonaro para testar popularidade. Presidente segue em viagens pelo país em redutos de opositores

Ingrid Soares
postado em 08/08/2020 00:48 / atualizado em 08/08/2020 00:51
 (crédito: Isac Nóbrega/PR)
(crédito: Isac Nóbrega/PR)

O tradicional desfile de 7 de Setembro, Dia da Independência, foi cancelado. Em publicação no Diário Oficial da União de ontem, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, determinou que as Forças Armadas sejam orientadas a não participar de quaisquer tipos de eventos comemorativos neste ano.
Sobre a “Semana da Pátria 2020”, a publicação afirma que, tradicionalmente, as Forças Armadas participam das comemorações, que estimulam “a ampla manifestação dos valores cívicos em todo território nacional, por meio de atividades culturais e solenidades específicas”. No entanto, a portaria destaca que a medida é necessária para evitar aglomeração em meio à pandemia do novo coronavírus.
“Todavia, como é de amplo conhecimento, o país, como considerável parte do mundo, enfrenta a pandemia da covid-19, não sendo recomendável pelas autoridades sanitárias a promoção de eventos que possam gerar aglomerações de público, devido ao risco de contaminação”, diz um trecho. O texto aponta, também, que as condições atuais de isolamento social deverão vigorar em setembro. “Determino aos comandantes da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira que orientem suas respectivas Forças para se absterem de participar de quaisquer eventos comemorativos alusivos ao supracitado evento, como desfiles, paradas, demonstrações ou outras que possam causar concentração de pessoas.”
Em entrevista a jornalistas, ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão comentou o assunto e apontou que “provavelmente” a celebração será cancelada. “Não é pelo desfile em si, mas é pela participação popular, gera aglomeração, está fora dos parâmetros da nossa linha de combate à pandemia”, reforçou. O governo, com o Ministério da Defesa, avalia se haverá comemoração alternativa, mais restrita ao Palácio do Planalto.
O evento já foi usado, no ano passado, pelo presidente Jair Bolsonaro como um teste de popularidade. Em 2019, após pesquisas mostrarem um aumento da reprovação do governo, ele aproveitou a data para conclamar que as pessoas saíssem de verde e amarelo às ruas, em uma demonstração de apoio ao seu governo.

Viagens

Ontem, Bolsonaro prosseguiu com as viagens pelo país. Acompanhado de adversários do governador João Doria (PSDB), visitou as obras de recuperação da ponte A Tribuna, antiga ponte dos Barreiros, em São Vicente (SP). Foi a terceira viagem do chefe do Executivo desde que ele se recuperou da covid-19. Em todas, esteve em redutos de adversários políticos e vistoriou ou inaugurou obras de pouca relevância.
Em São Vicente, Bolsonaro chegou a baixar a máscara de proteção enquanto andava pela ponte. Na saída, em ritmo de campanha eleitoral, saiu do carro para cumprimentar cerca de duas centenas de apoiadores que o esperavam do lado de fora. Como em outros eventos com a presença do presidente durante a pandemia, houve aglomerações.
A ponte que Bolsonaro visitou ficou interditada durante mais de seis meses por problemas de estrutura e reaberta parcialmente agora apenas para carros de passeio. Ônibus e caminhões ainda não podem trafegar pelo local.
O Ministério do Desenvolvimento Regional diz que liberou R$ 11 milhões, de um total de R$ 57 milhões previstos, para a primeira etapa da reforma, mas a prefeitura de São Vicente afirma que foram apenas R$ 5,7 milhões.
Junto do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, políticos locais e de seu irmão, Renato Bolsonaro — que tem participado de inaugurações de obras federais nas regiões da Baixada santista e Vale do Ribeira —, o chefe do Executivo ouviu explicações sobre o projeto. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf (MDB), e o ex-governador Márcio França (PSB) acompanharam a visita. Ambos foram oponentes de Doria na eleição para o governo paulista em 2018. O governador é visto pelo Planalto como possível adversário de Bolsonaro em 2022.
O chefe do Planalto deixou o local sem discursar. Além de vistoriar a reforma da ponte, ele recebeu o título de cidadão vicentino outorgado pela Câmara Municipal, em evento fechado num quartel do Exército. (Com Agência Estado)

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Governos do PT

Nas duas viagens anteriores depois da covid-19, Bolsonaro foi à Bahia e ao Piauí, estados governados pelo PT. Na Bahia, ele inaugurou o sistema de abastecimento de água da cidade de Campo Alegre de Lourdes, no interior do estado. No Piauí, visitou um museu no Parque Nacional da Capivara.

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