A deputada federal Flordelis Souza (PSD-RJ) é agora ré no caso do homicídio do seu então marido, o pastor Anderson do Carmo. Ela foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e a Justiça acatou ontem a denúncia. A parlamentar é apontada como mandante do crime. A Justiça determinou a prisão preventiva de seis filhos e uma neta da parlamentar — um deles, Flávio dos Santos, já estava preso, apontado como executor do assassinato.
Na manhã de ontem, o MPRJ e a Polícia Civil do Rio deflagraram a Operação Lucas 12 para cumprir as ordens de prisão, além de realizarem 14 buscas em endereços ligados aos denunciados em Niterói, São Gonçalo, Rio de Janeiro e Brasília. No total, foram nove mandados de prisão preventiva e 11 pessoas (incluindo a parlamentar) foram denunciadas.
O MPRJ frisou que não pediu a prisão da deputada pelo fato de ela ter imunidade parlamentar, podendo ser presa somente em flagrante ou quando o processo tiver transitado em julgado. Ela vai responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso.
Dois dos filhos socioafetivos de Flordelis –– André Luiz e Carlos Ubiraci –– são também secretários parlamentares da deputada. Ambos estão no cargo desde março do ano passado e recebem, cada um, R$ 15,7 mil. Os mandados foram cumpridos em apartamento funcional da Câmara.
A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-RJ), do MPRJ, aponta o envolvimento dos denunciados no homicídio de Anderson, em 16 de junho de 2019, em Niterói, no Grande Rio. No caso de Adriano dos Santos, Andrea Santos e Marcos Costa, o envolvimento foi posterior, quando Flordelis tentou fazer com que um dos seus filhos adotivos, Lucas Cézar, assumisse a autoria do crime e indicasse outros como mandantes.
O MP-RJ aponta que Flordelis arquitetou o assassinato, tendo convencido o executor direto (seu filho biológico Flávio dos Santos) e os demais acusados a participarem do crime e simular um latrocínio (roubo seguido de morte). A parlamentar teria também comprado a arma e avisado que o então marido havia chegado em casa.
Conforme o MPRJ, o motivo do homicídio seria o fato de a vítima ter um “rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família”.
De acordo com a denúncia, as ações dos envolvidos são descritas em diferentes etapas “como no planejamento, incentivo e convencimento para a execução do crime”.
Envenenamento
Entre maio de 2018 e junho de 2019, segundo o MPRJ, Flordelis, Marzy, Simone, André e Carlos envenenaram Anderson em pelo menos seis ocasiões diferentes. Conforme os promotores, eles tentaram matá-lo “mediante ministração dissimulada, continuada e sucessiva de veneno nas comidas e bebidas da vítima, em doses cumulativas eficazes, com objetivo de produzir ao final o resultado morte, provocando intoxicação exógena”.
De acordo com o MPRJ, o crime não se consumou por “circunstâncias alheias à vontade dos agentes”.
O advogado de Flordelis, Anderson Rollemberg, reafirmou que sua cliente é inocente. Ele esteve na Delegacia de Homicídios de Niterói e disse que a deputada está “abatida e bastante chateada”. “Queremos saber quais são as provas para que essas prisões tenham ocorrido e quais são os fundamentos para o indiciamento da deputada, uma vez que a primeira fase dessa investigação passou longe de ter alguma prova que ela fosse a mandante. Essa investigação é contraditória, espetaculosa e está sendo usada como inquisição”, acusou Rollemberg.
O presidente do PSD nacional, Gilberto Kassab, informou, em nota, que o partido estudará a expulsão da deputada a partir dos desdobramentos perante a Justiça. Segundo o presidente da legenda, o partido trabalha para a suspensão imediata da filiação de Flordelis. O presidente do diretório estadual, senador Arolde de Oliveira (RJ) –– evangélico como Flordelis ––, afirmou que acompanhará as ações da sigla nacional.
O Correio entrou em contato com o gabinete da deputada para pedir mais esclarecimentos, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.
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Os acusados na morte do pastor Anderson
*Flordelis Souza (mandante)
**Simone dos Santos (filha biológica)
**Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico)
**Flávio dos Santos Rodrigues (filho biológico – estava preso e já foi denunciado, apontado como executor)
**Lucas Cezar dos Santos de Souza (filho adotivo, estava preso e já foi denunciado, apontado como partícipe. Filho adotivo também de Anderson)
**Marzy Teixeira da Silva (socioafetiva de Flordelis e Anderson)
**André Luiz de Oliveira (socioafetivo de Flordelis e Anderson)
**Carlos Ubiraci Francisco da Silva (socioafetivo de Flordelis e Anderson)
**Rayane dos Santos Oliveira (filha de Simone dos Santos e neta de Flordelis)
**Andrea Santos Maia+
**Marcos Siqueira Costa+ (já estava preso)
* Não pode ser presa por ter foro privilegiado
** Tiveram prisão preventiva decretada
+ O envolvimento do casal é por causa de uma carta, entregue por Flordelis, na qual Lucas Cezar assumia a autoria e apontava falsos mandantes. Ele foi coagido por Marcos Siqueira e Flávio dos Santos a assinar a carta, que chegou ao presídio por Andrea, que a devolveu ao marido.
Votação pode criar TRF da 6ª Região
Os deputados têm votação na Câmara, hoje, de pautas relacionadas ao Judiciário. Uma é para a criação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região, segundo o PL 5.919/19. O outro é o PL 5.977/19, que transforma cargos vagos de juiz federal substituto no quadro permanente da Justiça Federal em cargos de juiz dos TRFs. Por último, está o PL 1485/2020 que prevê a duplicação da pena, em caso de crimes contra a administração pública, durante a vigência de decreto de calamidade pública. E o Senado tem sessão para deliberação da PEC do Fundeb. O debate, porém, não está confirmado.