Vácuo para o saque do FGTS

Planalto pressiona e Câmara não vota MP que autorizava a retirada emergencial de R$ 1.045 do Fundo durante a pandemia, que acabou caducando. Só está autorizado a movimentar o dinheiro quem nasceu entre janeiro e junho. Outros meses precisarão de um PL

Por pressão do Executivo, a Câmara decidiu não votar a Medida Provisória (MP) 946, que autorizava o saque emergencial de R$ 1.045 do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) durante a pandemia do novo coronavírus. Preocupado com a ampliação do texto pelo Senado, que permitiu que o trabalhador esvaziasse o saldo da conta em caso de demissão, o governo convenceu o plenário a retirar o projeto de pauta. Como não recebeu aval dos deputados, o texto perdeu a validade ontem.

Quem ainda não retirou o dinheiro pode ter que esperar até que o Congresso aprove um projeto de lei sobre o assunto para ter acesso aos R$ 1.045. Os deputados se comprometeram a apresentar uma proposta, que deve ser pautada na semana que vem. “O melhor caminho será um projeto de lei, que terá a urgência votada, e será analisado até quarta-feira que vem”, explicou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A ideia é aprovar a urgência do projeto ainda hoje.

Apesar de não ter mais previsão legal para fazer os depósitos, já que a MP que criou a modalidade caducou, a Caixa garantiu que manterá o cronograma do saque emergencial, “com base no princípio constitucional da segurança jurídica”. Até agora, o banco liberou os R$ 1.045 a trabalhadores nascidos entre janeiro e junho. O dinheiro entrará na conta do restante até 21 de setembro, pelo calendário da Caixa. Os deputados, no entanto, afirmam que não pode haver repasse sem a autorização do Legislativo.

Eles entendem que, até que o novo PL seja aprovado pela Câmara e pelo Senado, e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, as retiradas devem ficar suspensas. “A solução apontada, de pautar um PL na semana que vem sobre o tema, é fundamental e muito necessária”, afirmou o relator da matéria na Câmara, Marcel Van Hattem (Novo-RS). “Meu maior temor, como relator, é que todas as pessoas que seriam beneficiadas com seu próprio dinheiro deixem de ter oportunidade de sacar”, disse.

Custo pesado
Ao pedir que a MP fosse retirada de pauta, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), apontou que a medida poderia custar até R$ 120 bilhões à União, caso fosse mantido o texto do Senado, que permitia que trabalhadores que tenham sido demitidos ou pedido demissão tirassem todo o valor disponível na conta. O impacto da versão da Câmara, que limitava os saques a R$ 1.045 a quem tem contas ativas ou inativas, seria de R$ 29 bilhões, pelos cálculos do governo.

O Executivo considerou “muito grande” o custo das alterações, explicou Vitor Hugo. “O governo federal não pode correr esse risco neste momento. E, muito menos, as pessoas mais carentes, que poderiam ter acesso a financiamento de moradia prejudicado”, afirmou o líder do governo na Câmara. Aumentar as possibilidades de saque seria prejudicial às contas do FGTS, que já sofre com queda nas receitas, argumentou.

O resultado, segundo Vitor Hugo, seria dificuldades para manter políticas públicas de habitação e saneamento. “É importante destacar que o fundo financia a habitação no país. Quando começa a atingir esse fundo, em particular, estamos falando de moradia de pessoas mais carentes do Brasil. Por isso, o governo tem intenção de retirar de pauta”, explicou. Com a expectativa do projeto de lei, 294 deputados votaram a favor de deixar a MP caducar.

Mas outros 148 foram contra. Entre eles, o relator, Van Hattem, que questionou o motivo de o governo não ter apoiado sequer a votação do texto da Câmara, mais enxuto. Ele disse esperar um PL “muito semelhante a esse, sem os problemas que o governo diz existirem”, e pediu que haja mais comunicação entre as duas Casas, para que o Senado não mude completamente o texto da Câmara.

“Meu maior temor, como relator, é que todas as pessoas que seriam beneficiadas com seu próprio dinheiro deixem de ter oportunidade de sacar”
Marcel Van Hattem, relator da MP na Câmara


Oliveira é o 8º ministro com covid

O ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, informou ontem, por meio das redes sociais, que foi diagnosticado com o novo coronavírus. Ele é o oitavo do alto escalão do governo a ser infectado e mais um de dentro do Palácio do Planalto nas últimas 48 horas — antes dele, o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, anunciou ter contraído covid-19.
“Informo que, após fazer o teste RT-PCR para detectar possível presença do vírus da covid-19, meu resultado foi positivo. Estou em isolamento desde hoje (ontem) e cumpro agenda de forma remota. Apresento sintomas leves e sigo sob acompanhamento médico”, relatou.

Segundo a assessoria, o ministro não participou da reunião do Conselho de Governo por conta do “isolamento preventivo”. Ele chegou a se reunir, na segunda-feira, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, mesmo dia em que Braga Netto testou positivo.

Os ministros da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário; da Educação, Milton Ribeiro; da Cidadania, Onyx Lorenzoni; do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; de Minas e Energia, Bento Albuquerque; e da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, também contraíram a doença.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro também testou positivo para a covid-19 no último dia 30, dias depois do diagnóstico de Jair Bolsonaro, no dia 7. O presidente, que teve resultado positivo em três exames, passou cerca de 20 dias em quarentena, despachando por videoconferência no Palácio da Alvorada.

De acordo com os números divulgados, ontem, pela Secretaria-Geral da Presidência da República, houve um aumento de quase 65%, em julho, dos casos de covid-19 entre os funcionários que trabalham no Palácio do Planalto. No dia 3 do mês passado, a pasta havia contabilizado 108 servidores com diagnóstico positivo. Já no dia 31, o número de trabalhadores com a doença subiu para 178.

Segundo a Secretaria-Geral, 147 servidores da Presidência da República se curaram da infecção até o fim de julho. Pelas estatísticas do Planalto, 31 servidores permanecem em tratamento.