Depois da debandada de procuradores da força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, pediu, ontem, explicações à chefe da operação no estado, a procuradora Viviane Martinez, sobre providências que podem ser adotadas pela instituição em relação ao futuro da equipe, “com os objetivos de garantir a continuidade das investigações, equacionar o acervo e evitar prescrições”. O pedido também foi feito à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão (que cuida dos casos de combate à corrupção) e à Corregedoria do Ministério Público Federal.
Ao falar sobre a saída coletiva dos sete procuradores, Jacques disse que, embora “se trate de um revés, não há possibilidade de não acolhida dos pleitos”. De acordo com o vice-procurador, o órgão busca uma solução que não prejudique a continuidade dos trabalhos, “até mesmo pelo risco de prescrição, que é permanente em matéria penal”.
Em ofício de duas páginas, assinado na última quarta-feira e encaminhado ao procurador-geral Augusto Aras, o grupo de sete procuradores pediu o desligamento alegando “incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos da referida força-tarefa, dra. Viviane de Oliveira Martinez”. No documento, eles afirmaram que já havia exposto a divergência à corregedoria-geral do MPF, que abriu procedimento apuratório. Os afastamentos são para os dias 8, 11 e 30 de setembro, para que seja feita uma transição.
O procurador Deltan Dallagnol, que anunciou, na última terça-feira, a saída da coordenação da força-tarefa de Curitiba, lamentou a debandada em São Paulo. “Lamento o desligamento coletivo da força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo, em razão da incompatibilidade entre a visão do grupo e aquela da procuradora responsável pelo caso. A equipe vinha trabalhando duro e mostrando resultados relevantes”, tuitou.
Os trabalhos da Lava-Jato foram renovados também na última terça-feira pela subprocuradora-geral da República Maria Caetana Cintra Santos. A decisão pegou colegas de surpresa, uma vez que ela é aliada de Aras, que não nutre simpatias pela operação.
Denúncia de tucano
Apesar da baixa dos sete procuradores, a força-tarefa de São Paulo denunciou, ontem, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza por lavagem de dinheiro. Ele é apontado como suposto operador de propinas do PSDB no estado e chegou a ser condenado a 145 anos de prisão por supostos desvios de R$ 7,7 milhões, que deveriam ser aplicados na indenização de moradores impactados por obras do Rodoanel Sul, mas a sentença foi anulada em dezembro do ano passado. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, Paulo teve a prisão preventiva convertida em prisão domiciliar.
De acordo com a nova denúncia da Lava-Jato, o ex-diretor da Dersa teria utilizado duas empresas da família –– o hotel Giprita Ltda. e a P3T Empreendimentos e Participações –– para ocultar a origem de valores e bens ilícitos por ele angariados em esquemas ilícitos.
Segundo a Lava-Jato, a lavagem das vantagens ilícitas ocorria em diversas “camadas” –– as propinas eram incorporadas ao faturamento do hotel Giprita, por meio de depósitos em espécie amparados em hospedagens fictícias, inclusive indicando o próprio hotel como hóspede. Após os valores serem misturados às contas do hotel, o estabelecimento transferia montantes para P3T, para distanciar ainda mais o dinheiro ilícito.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.