Apesar de o presidente Jair Bolsonaro não ter desistido de demitir o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, o ministro da Economia, Paulo Guedes, está empenhado em mantê-lo na equipe, de acordo com fontes da pasta ouvidas pelo Correio. O clima no Ministério da Economia, na quarta-feira, não era dos melhores. O silêncio reinou absoluto, sem confirmação da permanência do secretário especial ou de sua saída. Até ontem à noite, Waldery Rodrigues participava da rotina do ministério. Esteve presente em uma reunião entre os secretários especiais do ministério e o chefe, Paulo Guedes.
Servidor do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), Waldery foi um dos primeiros economistas a trabalhar com Guedes no governo, ainda no período de transição, e é um dos homens de confiança do Posto Ipiranga de Bolsonaro. Entretanto, o secretário não é uma unanimidade e acumula desafetos na pasta. Ele é citado, inclusive, como pivô da saída de vários nomes do governo, como Mansueto Almeida e Caio Megale, que já está cumprindo expediente na corretora XP Investimentos.
A situação ficou muito ruim para Waldery após o secretário revelar, em entrevista ao portal G1, a proposta da equipe econômica para financiar o Renda Brasil por meio de congelamento de aposentadorias e pensões. Na terça-feira, Bolsonaro, visivelmente irritado, divulgou nas redes sociais um vídeo proibindo a equipe econômica de falar em Renda Brasil e afirmou que o autor da ideia merecia um “cartão vermelho”.
“Waldery não tem respaldo na equipe, mas é um fiel escudeiro de Paulo Guedes”, disse ao Correio uma fonte próxima à pasta. Segundo a mesma fonte, o ministro está buscando uma “saída honrosa” para ambos nesta nova crise. Resta saber se, até lá, o secretário não pedirá demissão após o constrangimento de proporções presidenciais. É um momento delicado para o ministro, que precisa se blindar em meio ao desgaste com Bolsonaro e à disputa com a ala desenvolvimentista, com influência cada vez maior no Planalto.
Não é a primeira vez que o presidente repreende em público Guedes e a equipe econômica. Com reações como a de terça-feira, o chefe do Executivo mostra que, mesmo sem entender de economia, não está disposto a adotar medidas impopulares. A resistência do presidente às propostas da área econômica aumentou particularmente após o presidente observar o aumento da popularidade em redutos petistas com o auxílio emergencial. No fim de agosto, além de exigir um valor do benefício acima dos R$ 247 propostos pela equipe econômica, criticou a proposta do ministro para criar o programa financiado com os recursos do abono salarial. Em um palanque, disse que não iria tirar de pobres para dar a paupérrimos.
Para o cientista político Cristiano Noronha, a partir de agora é uma questão pessoal entre o presidente e Waldery. “A permanência vai depender muito de como o secretário vai se colocar. Ele pode assumir o erro e se desculpar, garantindo que não fará mais divulgação pública antes de uma conversa”, avaliou. “Vale lembrar que Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital) saiu porque o governo não queria mandar a reforma administrativa”, lembrou.
Quando Bolsonaro quer uma coisa, não espera pela decisão dos seus ministros, segundo o especialista. Ele lembrou que o tributarista Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal, órgão subordinado ao Ministério da Economia, foi demitido em setembro de 2019 após divulgar que pensava em criar um imposto sobre transações, semelhante à CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), para desonerar a folha de pagamentos. Na época, integrantes do governo se apressaram em dizer que o presidente tinha pedido ao ministro para demiti-lo. Porém, o próprio Bolsonaro fez o desmentido, dizendo que determinou pessoalmente a queda do então secretário.
A relação conflituosa entre o presidente e a equipe de Guedes, naturalmente, piora o ambiente econômico no país. O presidente insiste em vetar as propostas de corte de despesas, dando um sinal bastante preocupante para o mercado, receoso com aumento dos riscos de flexibilização da última âncora fiscal: o teto de gastos. A desindexação de benefícios previdenciários pela inflação, também cogitada pela equipe econômica como forma de reduzir gastos futuros, foi proibida pelo presidente. Assim, diminuem as alternativas para que a bandeira da responsabilidade fiscal fique em pé no governo. Não à toa, há uma expectativa de que Guedes volte a cogitar aumento de imposto, ressuscitando a CPMF, uma fixação do ministro e do ex-secretário Marcos Cintra. A nova contribuição serviria não apenas para desoneração da folha, mas atenderia ao ímpeto populista do presidente.
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