ONU

Greenpeace diz que discurso negacionista de Bolsonaro isola o Brasil

Em abertura da Assembleia Geral da ONU, presidente negou crise ambiental no país e minimizou cenário dramático das queimadas no Pantanal

Sarah Teófilo
postado em 22/09/2020 13:23
 (crédito: Mayke Toscano/Secom-MT)
(crédito: Mayke Toscano/Secom-MT)

Ao comentar o discurso do presidente Jair Bolsonaro na 75ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (22/9), o Greenpeace afirmou que as falas do presidente envergonham o povo brasileiro e isolam o Brasil do mundo. “Em seu discurso, Bolsonaro minimizou ou procurou negar esta realidade, ainda que todas as imagens de satélite disponíveis comprovem o tamanho da destruição”, ressaltou a organização não governamental (ONG).

Sendo o primeiro chefe de Estado a discursar Bolsonaro negou a crise ambiental no Brasil e buscou minimizar o cenário dramático de queimadas do Pantanal. O bioma está sofrendo as piores queimadas da história, desde o início das medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1988.

“O Brasil concentra a maior floresta tropical do mundo (Amazônia), além da maior planície interior inundável do mundo (Pantanal). No passado o país já foi líder mundial de combate ao desmatamento. Entretanto, desde que Bolsonaro assumiu o poder, o país está se transformando em líder mundial em desmatamento”, frisou o Greenpeace.

A ONG informou que, segundo dados da Global Forest Watch, o Brasil foi o país que mais destruiu suas florestas em 2019, e este ano, os dados mostram que a situação só se agravou. “Os efeitos de tamanha destruição se refletem nas queimadas que estão avançando sobre alguns dos principais biomas brasileiros, como o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado”, pontuou.

Em nota, a coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, Mariana Mota, comentou que “negar ou minimizar o drama ambiental que o Brasil vive neste momento, resultado da política do governo Bolsonaro, agrava a difícil situação que o país enfrenta”.

“Lamentavelmente, já estamos habituados a ouvir o presidente faltar com a verdade, desqualificar a ciência e buscar culpabilizar terceiros ao invés de assumir a responsabilidade constitucional que possui. Entretanto, quando o faz numa assembleia-geral da ONU, diante de centenas de líderes de países, de investidores e do mundo todo, o presidente piora ainda mais a imagem do Brasil e agrava as sérias crises que enfrentamos”, completou.

A ONG ainda pontuou que, mesmo com a proibição de queimadas, algo definido pelo governo federal em decreto de 16 de julho, a Amazônia e o Pantanal registraram recordes de queimadas até a metade de setembro. Até a última segunda-feira (21), o Pantanal registrou 16.119 focos de calor, o que é mais que todos os outros anos completos. No caso da Amazônia, o número de focos de calor neste mês já é 38,8% a mais que o mês completo de setembro do ano passado e também já é maior que setembro de 2018.

Em seu discurso, Bolsonaro disse que a Amazônia “é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior”. “Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, afirmou. O Greenpeace, por sua vez, rebateu afirmando que os incêndios são “frutos da ação humana, sendo uma das principais ferramentas utilizadas para o desmatamento, especialmente por grileiros e agricultores, que os usam para limpar áreas para uso agropecuário ou especulação”.

“Um verdadeiro líder de um país soberano estaria, neste momento, colocando toda a sua capacidade de governança para agir de forma efetiva e impedir a tragédia que estamos vivenciando nos biomas brasileiros. Fingir que não viu, além de ser uma atitude irresponsável por parte de um presidente, significa condenar o futuro de todos os brasileiros”, disse Mariana, em nota.

Ela afirmou, ainda, que “em vez de negar a realidade, em meio à destruição recorde dos biomas brasileiros, o governo deveria cumprir seus deveres constitucionais em prol da proteção ambiental”. A ONG ressaltou também que existe um “desmonte sistemático das estruturas e políticas públicas que promovem a proteção ambiental” e que “a política antiambiental do presidente está derretendo a imagem do país lá fora e colocando em risco a nossa economia”.

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