Articulação do governo

Bolsonaro troca vice-líderes e amplia espaço do Centrão

Deputada Carla Zambelli, uma das mais fiéis aliadas do presidente, está entre os dispensados. Aos poucos, presidente reduz espaço do grupo ideológico

Ingrid Soares e Sarah Teófilo
postado em 30/09/2020 10:58 / atualizado em 30/09/2020 13:11
Troca de vice-líderes autorizada por Bolsonaro visa melhorar a articulação política, ampliando espaços do Centrão -  (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)
Troca de vice-líderes autorizada por Bolsonaro visa melhorar a articulação política, ampliando espaços do Centrão - (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)

O presidente Jair Bolsonaro trocou os vice-líderes do governo na Câmara dos Deputados. A lista com os novos nomes foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira (30/9). A nova conformação, que dispensou oito vice-líderes, sendo cinco do PSL, abre mais espaço para o Centrão e reduz a participação dos parlamentares classificados como "ideológicos", que, em vários momentos, criou problemas para a articulação política do Palácio do Planalto no Congresso.

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), apresentou o novo time, no café da manhã desta quarta-feira (30), no Palácio da Alvorada. O único parlamentar na vice-liderança que é da legenda pela qual Bolsonaro se elegeu é Luiz Lima, do Rio de Janeiro.

Aos poucos, o presidente se afasta da ala mais ideológica do governo no Congresso, buscando construir uma base com legendas do Centrão. Esse novo direcionamento já havia ficado claro com a retirada da deputada Bia Kicis (PSL-DF) da vice-liderança, semanas atrás – que obrigou o presidente a fazer um gesto de reaproximação, ao tomar café da manhã na casa da parlamentar, no final de semana seguinte à dispensa.

Os retirados no posto da Câmara são: Carla Zambelli (PSL-SP), bolsonarista e uma das mais fiéis aliadas de Bolsonaro, Carlos Jordy (PSL-RJ), que se elegeu com o apelido de “filhote de Bolsonaro”, Coronel Armando (PSL-SC), Aline Sleutjes (PSL-PR), Caroline de Toni (PSL-SC), Guilherme Derrite (PP-SP), Eros Biondini (PROS-MG) e Diego Garcia (PODE-PR). Os deputados Alusio Mendes (PSC-MA), Evair Vieira de Melo (PP-ES) e José Medeiros (PODE-MT) foram reconduzidos.

Em nota, a liderança do governo na Câmara informou que foi adotado um novo critério para escolha dos representantes. Cada partido da base de apoio ao governo indicou, por meio do seu líder, um vice.

Veja a lista:

Luiz Lima (RJ) - PSL
Giovani Cherini (RS) - PL
Lucio Mosquini (RO) - MDB
Capitão Alberto Neto (AM) - Republicanos
Paulo Azi (BA) - DEM
Joaquim Passarinho (PA) - PSD
Gustinho Ribeiro (SE) - Solidariedade
Carla Dickson (RN) - PROS
Greyce Elias (MG) - Avante
Marreca Filho (MA) - Patriota

Em agosto, Bolsonaro dispensou o deputado Vitor Hugo (PSL-GO) do cargo de líder do governo, com quem tem uma boa relação, para indicar Barros, que foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer (MDB) e que tem ampla experiência no Congresso. A aproximação do presidente com as legendas do Centrão, que tem a maior bancada, com 155 parlamentares, começou no início do ano, em meio às crises com os outros poderes, à ausência de um bom relacionamento com o Congresso e aos pedidos de processos de impeachment que chegavam à Câmara.

Um dos vice-líderes dispensados, Coronel Armando, que está com o governo desde o início, defende o presidente e diz não ver um afastamento dele do seu núcleo mais ideológico no Legislativo. “Os anos mais difíceis são os últimos, e ele tem que ter uma base maior. No início, era para marcar posição. E, agora, precisa de uma base para ter continuidade”, afirma.

O deputado ressalta que, com o fim da pandemia, o governo passará por dois anos difíceis, com um aumento da demanda da população.

“E isso não deixa de ser um discurso bom para atacar o presidente. Ele tem que ter uma equipe que tenha mais representatividade junto aos partidos. Éramos sete do PSL; agora vai ter um de cada partido. Vai ter mais base para aprovar as necessidades do governo. Vi isso como normal. É como no futebol: quando está na defesa, é uma equipe; quando está no ataque, é outra”, comparou.

Questionado se a consumada aproximação do governo com o Centrão, algo que o presidente, antes de assumir a Presidência, negaria que aconteceria, não incomodava os parlamentares que se elegeram caroneados pela ideologia de Bolsonaro, o coronel nega.

“A gente aprende como funciona aqui (no Congresso). Sem voto, é difícil fazer mudanças importantes. Não quer dizer que o governo entregou ao Centrão as indicações e todos os recursos, ou aprendeu a se aliar com a corrupção. É uma forma que, infelizmente, pela nossa Constituição, que somos um presidencialismo de coalizão, mostra que sem base você não vota nada. Basta ver as nossas dificuldades. É necessário base, mas os princípios continuam os mesmos”, garantiu.

 

 

 

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