Igualdade Racial

Palmares nega Zumbi

Presidente de fundação, Sérgio Camargo, diz que não vai destinar recursos para ações ligadas ao Dia da Consciência Negra. Declarações ocorrem em meio a debate sobre combate ao racismo

Maíra Nunes
postado em 04/10/2020 23:11 / atualizado em 04/10/2020 23:23
 (crédito: Jair M. Bolsonaro/Twitter)
(crédito: Jair M. Bolsonaro/Twitter)

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, disse que a entidade dará suporte “zero” ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. “Anunciei essa decisão quando fui nomeado. Há um vídeo, de dezembro, onde afirmo que, sob a minha gestão, não haveria suporte algum à data -- evento político, não cultural”, publicou Camargo, ontem, no Twitter. Dois dias antes, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os partidos políticos deverão aplicar a destinação proporcional de recursos de campanha e do tempo de propaganda eleitoral a candidatos negros a partir das eleições municipais deste ano, marcadas para novembro.

A decisão do STF que visa equilibrar o acesso da população negra a cargos eletivos se insere em meio a reivindicações por igualdade racial que ganharam grande visibilidade nos últimos meses, tanto no Brasil, quanto em potências mundiais, como os Estados Unidos. Com a causa negra em evidência, ressonam também vozes críticas à ela, como é o caso de Sérgio Camargo. Em uma conversa de abril, que teve áudios vazados em junho, ele classificou o movimento negro como “escória maldita”, que abriga “vagabundos”, e chamou Zumbi de “filho da puta que escravizava pretos”.

Por mais que soe contraditório, não é novidade que o atual presidente da Fundação Palmares posicione-se contrário à agenda da “Consciência Negra”. No ano passado, Camargo declarou que o aspecto comemorativo do dia teria de acabar por ser “uma data da qual a esquerda se apropriou para propagar vitimismo e ressentimento racial”. Em novembro de 2019, a nomeação dele para presidir a instituição chegou a ser suspensa pelo juiz federal Emanuel Guerra, de Sobral, no Ceará. Mas a decisão foi revogada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em dezembro. Dois meses depois, o então presidente do STF Dias Toffoli negou prosseguimento da ação judicial movida contra a decisão do STJ, sendo favorável à manutenção da nomeação.

Recursos públicos

No site, a Fundação Palmares se reconhece como uma instituição pública voltada para promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. Na véspera de adiantar nas redes sociais que não dará recursos ao Dia da Consciência Negra deste ano, Sérgio Camargo esteve com o presidente Jair Bolsonaro em um churrasco no Palácio da Alvorada. O jornalista também usou as redes sociais para compartilhar uma foto dele ao lado do chefe do Executivo e do deputado Helio Lopes (PSL-RJ) no evento.

O próprio Bolsonaro já foi julgado por denúncia de falas consideradas racistas, como esta: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais”. Em 2018, o STF rejeitou a denúncia e arquivou o caso, por 3 votos a 2. Na ocasião, o ministro Alexandre de Moraes desempatou a favor de Bolsonaro, mas caracterizou as declarações como "grosseiras", "vulgares" e “absolutamente desconectadas da realidade”.

Novo endereço

A Fundação Palmares vai ser transferida para um prédio que integra o patrimônio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Atualmente, o local é usado como almoxarifado e está localizado em um edifício anexo à antiga sede da empresa pública, na Asa Norte. As instalações deixaram de ser usadas em 2016, e estão repletas de infiltrações e problemas de infraestrutura. As condições colocam em dúvida a capacidade de preservar o acervo da fundação, que precisa ficar em sala climatizadas.

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Morre Zuza de Mello

O crítico, musicólogo e jornalista Zuza Homem de Mello morreu, ontem, aos 87 anos. A esposa, Ercília Lobo, disse que ele sofreu um infarto dormindo. "Ele morreu dormindo, após termo brindado, na noite de ontem, todos os projetos bem-sucedidos", publicou, nas redes sociais. Na carreira, Zuza entrevistou ícones da música, trabalhou na Folha da Noite, na TV Record e na Rádio Jovem Pan e publicou diversos livros, como Música Popular Brasileira Cantada e Contada (1976); A Era dos Festivais (2003); e Copacabana: a trajetória do samba-canção (2017). A trajetória dele virou o documentário Zuza Homem de Jazz, dirigido por Janaína Dalri e lançado no ano passado.

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