Desvid-19

Bolsonaro tenta se desvincular de senador pego com dinheiro na cueca

Governo busca distância para evitar desgastes com escândalo envolvendo vice-líder do governo, dispensado do cargo nesta quinta-feira. Presidente repete que não há corrupção no Executivo

Sarah Teófilo
postado em 15/10/2020 15:28 / atualizado em 15/10/2020 15:54
 (crédito: Divulgação/rede social)
(crédito: Divulgação/rede social)

Em meio ao escândalo envolvendo o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), pego em operação da Polícia Federal na última quarta-feira (14) com dinheiro na cueca, o presidente Jair Bolsonaro e o Palácio do Planalto tentam ao máximo desvincular a figura do parlamentar do governo. Chico era vice-líder do governo no Senado até o fim da manhã desta quinta-feira (15/10), quando foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) a sua dispensa. Segundo o comunicado, o pedido de afastamento partiu do próprio senador.

O presidente manteve o discurso de combate a corrupção e buscou se afastar da figura do senador, apesar de o parlamentar atuar como aliado do governo no Congresso e conhecer Bolsonaro há duas décadas. Mais cedo, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro destacou que a operação que flagrou o senador foi desencadeada pela PF e pela Controladoria-Geral da União (CGU). “Ou seja, nós estamos combatendo a corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita”, disse Bolsonaro.

Apesar de o senador até então ocupar um cargo da base do governo no Congresso, o presidente quis frisar que Rodrigues não integra o governo. “Essa investigação de ontem é um exemplo típico do governo, que não tem corrupção no meu governo, e combate a corrupção seja de quem for. Vocês estão há quase dois anos sem ouvir falar de corrupção no meu governo. O meu governo são os ministros, estatais e bancos oficiais, esse é o meu governo”, afirmou.

O presidente disse, ainda, que a operação que realizou busca e apreensão contra o senador é motivo de orgulho. “Parte da imprensa está me acusando de o cara ser meu amigo, que eu coloquei o cara como vice-líder, e em consequência, eu não combato a corrupção. Vou deixar bem claro: essa operação da Polícia Federal, como metade das operações, elas são em conjunto com a CGU (Controladoria-Geral da União). Nós estamos combatendo a corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita", garantiu o presidente.

Logo mais tarde, saiu no DOU a dispensa do senador. "Nos termos do art. 66-A do Regimento Interno dessa Casa do Congresso Nacional, em atenção ao pedido do Senhor Senador Francisco de Assis Rodrigues, solicito providências para a sua dispensa da função de Vice-Líder do Governo no Senado Federal", informa o documento.

Chico Rodrigues estava no cargo desde fevereiro do ano passado. A relação de proximidade entre Bolsonaro e o senador se mostra também pela composição do gabinete do parlamentar. Desde abril de 2019, Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, é assessor parlamentar do senador. Ele é primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro — do senador Flávio (Republicanos-RJ), do deputado Eduardo (PSL-SP) e do vereador do Rio de Janeiro Carlos. Léo Índio tem livre trânsito no Palácio do Planalto e chama Bolsonaro de tio.

Nas redes sociais do senador, diversas fotos com o presidente e ministros de Estado. Um deles é um vídeo, de junho deste ano, no qual eles aparecem lado a lado falando sobre ações voltadas a Roraima. Nas imagens, o presidente chama o senador de "velho colega da Câmara dos Deputados". O senador publicou também, por exemplo, uma imagem sobre uma reunião com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Ramos, em setembro deste ano, no qual tratou de recursos para o estado de Roraima, segundo o senador.

A operação de distanciamento abrange o Palácio. O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) também logo se pronunciou, dizendo que o senador não faz parte do governo. “Todos aqueles que estão dentro do Parlamento e que trabalham em favor do governo, ocupando cargos de vice-liderança e até mesmo fazendo parte da base, são uma linha auxiliar. Ele não é um membro do Executivo", disse.

A Secretaria Especial de Comunicação Social, ligada ao Ministério das Comunicações, divulgou uma nota assim que o desligamento do vice-líder foi publicado no DOU. “A ação da Polícia Federal e da GCU, respeitando os princípios constitucionais, é a comprovação da continuidade do Governo no combate à corrupção em todos os setores da sociedade brasileira, sem distinção ou privilégios”, ressaltou.

Na última quarta-feira (14), o senador foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Desvid-19, que apura esquema de desvio de verbas públicas oriundas de emendas parlamentares que eram destinadas ao combate à pandemia da covid-19 em Roraima, no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde. Segundo a revista Crusoé, policiais encontraram dinheiro escondido entre as nádegas do parlamentar.

Em nota, o senador afirmou que deixou o cargo de vice-líder para esclarecer os fatos e "trazer à tona a verdade". "Acreditando na verdade, estou confiante na justiça, e digo que, logo tudo será esclarecido e provarei que nada tenho haver com qualquer ato ilícito de qualquer natureza", ressaltou. Chico disse ainda que acredita nas diretrizes que o presidente usa para gerir o país. "Vou cuidar da minha defesa, e provar minha inocência", afirmou.

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