Eleições

Com mais recursos de campanha, Covas já está à frente de Russomanno

Tucano declarou receita de mais de R$ 7 milhões à Justiça Eleitoral. O adversário do Republicanos, por sua vez, informou R$ 500 mil. Para especialistas, candidatos intensificaram ação nas redes sociais, mas o prefeito teria vantagem da máquina pública

Israel Medeiros*
Natália Bosco*
postado em 22/10/2020 21:57
 (crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)
(crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Com a campanha mais cara na corrida para a prefeitura da cidade de São Paulo, o candidato e atual prefeito Bruno Covas (PSDB), ganha espaço nas pesquisas de intenção de voto e já aparece na frente de seu principal concorrente, Celso Russomanno (Republicanos) em pesquisas de intenção de voto.

Apesar de estarem em uma disputa equilibrada, o que chama a atenção é a diferença entre o orçamento das duas campanhas. O candidato tucano declarou à Justiça Eleitoral ter recebido cerca de R$ 7,7 milhões para a campanha. A maior parte desse valor provém do partido que integra, o PSDB (R$ 5 milhões), e do Podemos (R$ 2 milhões). Do total, os gastos contratados já chegam a R$ 7,4 milhões. Os recursos foram destinados, principalmente à produção de conteúdo para tevê, rádio e vídeos.

Já Russomanno declarou R$ 500 mil em arrecadação para a campanha — valor integralmente repassado pelo Republicanos. O político tem candidatura publicamente apoiada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ainda não declarou qualquer gasto ao TSE até o fim desta quinta-feira (22).

Outros candidatos que "nasceram na internet", como Arthur do Val (Patriota), aparecem um pouco abaixo nas pesquisas. Eles têm orçamento menor, mas promovem alto engajamento nas redes sociais. Como integrante do Movimento Brasil Livre, Arthur é figura conhecida na internet. Em seu perfil do Instagram, compartilha até montagens de personagens de videogame com seu rosto e número na urna.

Guilherme Boulos (PSOL), por sua vez, acumula 2,2 milhões de seguidores no Twitter e Instagram. Ele busca se aproximar do público mais jovem ao promover vídeos com linguagem dinâmica que lembram técnicas adotadas por estrelas do YouTube. Na tentativa de se comunicar com esse eleitorado, o candidato utiliza gírias.

Estrutura enxuta 

O meio virtual tornou-se a grande aposta para os candidatos. Eliane Alencar, consultora de marketing e estrategista digital, afirma que muitos candidatos têm investido em campanhas eleitorais pelas redes sociais em decorrência do isolamento social. “Nestas eleições, em meio à pandemia, todo mundo utilizou do meio virtual. É mais eficiente, mais eficaz”, explica. A consultora avalia que, apesar do predomínio da internet, a televisão e o rádio ainda são armas importantes na campanha política.

Eliane destaca que as restrições orçamentárias e a pandemia reduziram a estrutura de campanha. Esse novo cenário, segundo a consultora, tornou as plataformas virtuais mais atrativas. “É um meio que conseguimos utilizar um orçamento bom de forma eficaz, atingindo mais pessoas e, algumas vezes, com redução de custos.”

Para a estrategista digital, as campanhas virtuais estarão presentes nos próximos pleitos mesmo sem o distanciamento social. “Eu acredito que é algo que veio para ficar, até porque já é uma crescente das eleições desde 2016. Já vem bem forte tudo isso, então acredito que vai continuar aí por muito tempo”, argumentou.

Indefinição em SP

Para o cientista político André Rosa, a corrida eleitoral em São Paulo segue aberta. Ele explica que as campanhas ficaram mais enxutas porque os instrumentos de publicidade baratearam. "Você não precisa gastar tanto em santinhos. Hoje santinho foi trocado, evoluiu para mídias digitais, posts na internet. Os recursos de campanha acabaram ficando mais baratos. Antes tinha muito impresso. Agora não, o gasto maior é com materiais tecnológicos. É uma tendência", explica.

André Rosa chama a atenção, no entanto, para Bruno Covas (PSDB). Ele estaria em vantagem por ser o atual prefeito da cidade. "O que dá voto é arrumar asfalto, tapar buraco, fazer obras de infraestrutura. O candidato que tem a máquina pública tem mais publicidade. Tudo que tem relação com obra se traduz em voto. Quando se está na prefeitura ou um governo, como um todo, há mais recursos para investir no final do mandato", argumenta Rosa.

Na última quarta-feira, em entrevista ao Correio Braziliense, o governador João Doria (PSDB) disse estar certo de uma vitória de Bruno Covas e criticou o apoio de Bolsonaro a Celso Russomanno (Republicanos), ao afirmar que um presidente da República não deveria se envolver em eleições municipais.

André Rosa discorda da afirmação. Para o cientista político, é importante para o presidente interferir na disputa local, particularmente se tiver planos de reeleição. "Todo presidente precisa se envolver em eleição municipal, principalmente se ele estiver em vias de reeleição. Porque os prefeitos são disseminadores de votos. Para ter palanque, é preciso ter prefeitos aliados. As prefeituras são muito importantes. Em 2016, dizimaram o PT do jogo e o partido pagou um preço muito alto nas eleições de 2018. Esse apoio é fundamental, não só no pleito, mas no Congresso. Esses gestores influenciam os parlamentares do Congresso", completa o cientista político.

*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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