Líder pede nova Constituição

Poder / Para o deputado Ricardo Barros, que defende o governo na Câmara, a Carta Magna "tornou o Brasil ingovernável". Ele sugere a realização de um plebiscito para que os cidadãos decidam sobre um novo texto constitucional. Declarações provocam reação

» Renato Souza
postado em 26/10/2020 23:44
 (crédito: Luis Macedo / Câmara dos Deputados - 2/4/20)
(crédito: Luis Macedo / Câmara dos Deputados - 2/4/20)

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que a Constituição “só tem direitos” e que a Carta Magna “tornou o Brasil ingovernável”. As declarações provocaram polêmica e reações no mundo jurídico e no Congresso. O parlamentar participou, ontem, do seminário “Um dia pela democracia”, organizado pela Associação Brasileira de Direito Constitucional.


Barros sugeriu a convocação de uma Constituinte. “Eu defendo uma nova Assembleia Nacional Constituinte. Acho que devemos fazer um plebiscito, como fez o Chile, para que possamos refazer a Carta Magna e escrever, muitas vezes, nela a palavra ‘deveres’, porque nossa Carta só tem direitos. É preciso que o cidadão tenha deveres com a nação”, emendou.


Ele questionou barreiras legais impostas pelo texto de 1988, pelo Congresso. “Nossa Constituição, a Constituição Cidadã... o presidente Sarney já dizia isso quando a sancionou, que ela tornaria o país ingovernável. E o dia chegou. Temos um sistema ingovernável. Estamos há seis anos com deficit fiscal primário, ou seja, gastamos menos do que arrecadamos.”


O parlamentar reclamou do “ativismo político do Poder Judiciário e do Ministério Público”, que seriam permitidos pela Constituição e se posicionou contra a força dos órgãos de fiscalização presentes nas instituições, especialmente no Judiciário. “Quando eu falo em reformar a Constituição, eu penso, também, em equilibrar os poderes. O poder fiscalizador ficou muito maior do que os demais e, numa situação incompreensível, de inimputabilidade (de seus agentes). Juízes, promotores, fiscais da Receita, agentes do Tribunal de Contas da União, da Controladoria-Geral da União provocam enormes danos com acusações infundadas e nada respondem por isso”, criticou.


As reações foram imediatas. A Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público afirmou que “vê com preocupação declarações que atacam a Constituição Federal, o Poder Judiciário e os direitos e garantias que fundamentam o Estado de direito”. Para a entidade, a intenção do parlamentar é ilegal. “Em momentos de crise, os princípios fundamentais da República devem ser preservados, como a pluralidade política, a separação harmônica entre os Poderes e as prerrogativas dos integrantes do sistema de Justiça. Não há solução para crises fora da ordem constitucional.”


O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, escreveu no Twitter: “Tenho visto gente no Brasil tentando pegar carona no plebiscito chileno para reabrir o debate sobre uma nova Constituição por aqui. Estudar um pouco de história e entender a transição democrática deles e a nossa seria útil. Só para começar”.


O deputado Fábio Trad (PSD-MS) também se manifestou. “Ricardo Barros, líder do governo, quer uma outra Constituição. Sou contra. O exemplo do Chile não nos serve. Lá, evoluíram da ditadura para a democracia. E aqui? Será que querem o contrário?”, escreveu nas redes sociais.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação