Lava Jato

"Não cabe ao presidente acabar com a Lava-Jato", afirma procurador

Em entrevista ao CB Poder, Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do MP junto ao TCU, alerta para os riscos do desmembramento da operação Lava Jato em Curitiba. Ele lamenta as declarações de Jair Bolsonaro, ressaltando que há mais de 400 inquéritos em curso

Israel Medeiros*
Bruna Pauxis*
postado em 27/10/2020 19:19
 (crédito: Ana Rayssa)
(crédito: Ana Rayssa)

O envio das investigações da Lava Jato para outros estados pode gerar perda de qualidade no andamento da força-tarefa, alerta o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Júlio Marcelo de Oliveira. Em entrevista ao CB Poder — uma realização do Correio Braziliense e da TV Brasília —, nesta terça-feira (27), ele rebateu os críticos da operação que defendem a descentralização dos inquéritos. 

"Na Lava jato, temos um conjunto de investigações que podem ser divididas em grupos de dez investigações, mas o fato é que precisamos avançar. Alguns fatos são conexos e outros têm mais independência. Os que estão em Curitiba guardam mais conexão porque ali há um conjunto de pessoas que se especializaram nesse tipo de investigação. Espalhar a investigação causará uma perda de qualidade no processo", afirmou Oliveira.

O procurador do MP junto ao TCU lamentou a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que "acabou" com a Lava-Jato porque não existe corrupção no governo. "Foi uma frase muito infeliz e equivocada do presidente. Há mais de 400 inquéritos, investigações em curso, só na força-tarefa de Curitiba. Há muito trabalho a ser feito, e não cabe ao presidente da República acabar ou não com a Lava Jato. Isso é uma consequência do esgotamento dos fatos a serem investigados, que acontecerá em algum momento. É uma atribuição do Ministério Público e do Poder Judiciário", esclareceu.

Oliveira também comentou a relação da milícias no Rio de Janeiro com a política. Para ele, a situação da segurança pública no Rio é gravíssima e, para superar isso, o estado deve se equipar com pessoas, materiais e inteligência. Além disso, uma resposta do Judiciário e uma atuação do sistema prisional para isolar lideranças criminosas é importante, segundo ele. "Todo um conjunto de órgãos tem que se articular para um enfrentamento dessa magnitude", afirmou.

Ao comentar sobre controvérsias no Judiciário, o procurador avaliou o caso André do Rap. O traficante do PCC fugiu no último dia 10, após ter a prisão preventiva revogada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF. "No caso do Supremo, tem o problema da distribuição de processos que permitiu que os advogados entrassem com nove habeas corpus e depois desistissem, porque não caíram com um ministro que achavam que seria simpático à causa. Quando caiu com o ministro Marco Aurélio, ele foi em frente e concedeu a ordem", observou o procurador.

Júlio Marcelo de Oliveira criticou ainda a fala do ex-marqueteiro do Partido dos Trabalhadores, João Santana, no programa Roda Viva, da TV Cultura ontem (26). Santana, responsável pelas campanhas presidenciais do PT entre 2006 e 2014, afirmou que o caixa 2 é a "alma do sistema eleitoral brasileiro". Para Oliveira, a declaração é problemática, pois aponta para uma naturalização da corrupção.

"O caixa 2 existe porque alguém quer doar recursos e não quer contabilizar essa doação. E por que alguém faz esse tipo de doação? Porque tem algum interesse a ser preservado ou conquistado com a eleição daquela pessoa que recebe a doação. É um investimento, haverá uma cobrança depois. É extremamente nociva para o nosso sistema", completou.

Para assistir à íntegra da entrevista, clique aqui

 

*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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