Meio ambiente

União de esforços para mudar imagem do país

Com floresta no centro do debate internacional, Parlamento Amazônico discute volta em reunião no próximo dia 30. Enquanto isso, Mourão conduz comitiva com embaixadores para mostrar que governo "não está de braços cruzados"

BRUNA LIMA MARIA EDUARDA CARDIM RENATO SOUZA (Enviado especial)
postado em 06/11/2020 01:09
 (crédito: Renato Douza/CB/D.A Press)
(crédito: Renato Douza/CB/D.A Press)

Manaus e Brasília — Enquanto a Amazônia arde em chamas no ano que já é o pior da história em relação às queimada, o debate sobre a atuação do governo no combate aos incêndios e no papel de fiscalização e proteção ambiental ganha atenção no campo das políticas internacionais. Enquanto o Executivo se movimenta para amenizar a visão negativa do exterior, o Legislativo se mobiliza nas discussões, suscitando a volta do Parlamento Amazônico, grupo de trabalho envolvendo os nove países que possuem as florestas em seus territórios e cujo objetivo é discutir ações na região e melhorar a imagem perante a comunidade estrangeira.

Em viagem à região da Amazônia, ontem, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, levou embaixadores da América Latina e da Europa para conhecer o encontro das águas dos rios Negro, que tem águas escuras, e Solimões, de coloração mais clara. A comitiva da vice-presidência utilizou um navio de atendimento médico da Marinha na viagem. O governo tenta convencer os diplomatas de que todas as ações necessárias e possíveis no momento estão sendo realizadas para evitar queimadas e combater o desmatamento na floresta. A viagem foi organizada após o governo receber carta de embaixadores dizendo que o desmatamento poderia prejudicar relação comerciais.

A iniciativa é liderada por Mourão, que sustenta que o Brasil “não tem o que esconder” em relação à floresta. “O governo brasileiro não está de braços cruzados, está fazendo o que tem que fazer”, disse o vice-presidente. Pela manhã, a comitiva foi à Fazenda Santa Rosa, que é considerada um exemplo de agricultura domiciliar em conjunto com a preservação da floresta. A força-tarefa com embaixadores ocorre em meio à eleição dos Estados Unidos, onde um dos candidatos, Joe Biden, promete reunir esforços internacionais para garantir o combate ao desmatamento no Brasil, com foco na Amazônia.

Se tiver apoio da maioria dos representantes do Parlamento Amazônico, a ideia do Legislativo é reativar o fórum ainda este ano. A reunião para decidir pela volta dos trabalhos está marcada para o próximo dia 30, por meio de um encontro virtual da Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE). Além do Brasil, que concentra mais de 60% da área da Amazônia Internacional, fazem parte da região Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. O território alcança sete milhões de quilômetros quadrados da América do Sul.

Há anos desativado, o fórum internacional de discussões, criado em 1989, voltou aos holofotes já em 2019, quando, em uma reunião de fim de ano na Embaixada do Equador — que contou com a presença de todos os representantes dos países da Amazônia Internacional —, o presidente do CRE, o senador Nelsinho Trad (PSD/MS) foi incitado a retomar os trabalhos. “Fizeram um apelo para que eu, na qualidade de presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, estimulasse a volta das atividades do Parlamento Amazônico. Saí com essa missão e, no início do ano, demos o pontapé inicial para que isso pudesse se tornar realidade”, explicou, à época, o senador.

Atividade paralela
Em meio à pandemia da covid-19, o processo foi interrompido, mas o atual momento reforçou a volta das discussões. Com a questão da Amazônia no radar do mundo, o objetivo da reabertura é trazer uma visão mais independente aos debates. “Funciona como uma atividade paralela ao Conselho da Amazônia, mas as paralelas não se encontram. Enquanto o Conselho da Amazônia tem um viés do governo, o Parlamento Amazônico, não. Vai ser mais plural, dar mais liberdade para debater os assuntos com discussões mais aprofundadas, menos governistas, sem idealismo. O que queremos mesmo é colocar para a sociedade, para humanidade, o que realmente se passa na Amazônia nos países que detêm as florestas em seus territórios”, explica Trad.

A diferença em relação aos demais grupos de trabalho que debatem a questão da Amazônia no Congresso é justamente a comunicação com os representantes parlamentares dos outros países sul-americanos. Para o doutor em direito internacional Evandro Carvalho, a reativação é bem-vinda. “Há uma espécie de questionamento por parte da comunidade internacional se o Brasil tem tomado medidas necessárias para evitar esse desmatamento e o Parlamento Amazônico pode adicionar um grau de maior confiabilidade das informações sobre a situação real que acontece na Amazônia”, indica.

 

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