Maia para o governo: "Vai enfrentar ou não?"

Luiz Calcagno
postado em 07/11/2020 01:38
 (crédito: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados - 10/6/20)
(crédito: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados - 10/6/20)

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o governo tem seis meses para a implementação de medidas econômicas que definirão o restante do mandato. Más escolhas poderão prolongar a crise e enfraquecer a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, segundo ele. Na análise que fez, também levantou o risco de o Brasil importar o método do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e questionar a lisura do processo eleitoral brasileiro.

“Em relação a 2022, temos de esperar seis meses. Temos de entender as decisões do governo. Os próximos seis meses de governo serão decisivos para o fortalecimento ou enfraquecimento. Somado a isso, estamos vendo nos Estados Unidos como os mais radicais trabalham o processo eleitoral, o que pode ser um espelho para o Brasil. O centro precisa procurar um caminho. Tem convergência com a parte liberal da economia do governo Bolsonaro, mas divergência com outras pautas”, avaliou, em live promovida pelo Itaú, ontem, ao ser questionado sobre a possibilidade de um candidato centrista.

Para Maia, a questão é compreender que rumo o governo dará à economia. Se Bolsonaro terminar o mandato enfraquecido, abrirá espaço para um número maior de candidatos disputar a próxima corrida eleitoral. “A gente deve, e pode, avançar na mudança do sistema eleitoral. O fim das coligações terá impacto em 2022. Podemos construir um acordo para caminhar para um sistema misto. O Brasil é um país continental. Tem chance de poder avançar.”

O parlamentar destacou ser necessário saber, primeiro, se o governo vai enfrentar a crise com as reformas, ou se tentará, por exemplo, furar o teto de gastos. “Vai enfrentar, ou não? Pois o Brasil pagará a conta antes de chegar em 2022. Defendo a reforma, o teto de gastos. Todas as políticas dentro do teto são populares. Fora do teto, são populistas”, frisou. “O governo, se não se organizar, vai ter dificuldade e abrirá um cenário político para outras correntes construírem suas candidaturas para 2022. A Câmara, até 1º de fevereiro (quando Maia deixará a presidência da Casa), continuará com essa pauta de reorganização do Estado, que é nossa atribuição dentro do processo democrático.”

Responsabilidade
Maia defendeu a PEC Emergencial e a reforma tributária. Ele lembrou que a carga tributária sobre o brasileiro é forte e que não há clima para aprovação de novos impostos. Disse, ainda, que ao tentar inserir novas cobranças em um texto feito pelos deputados e senadores, o governo trabalha para transferir essa responsabilidade.

A todo momento, no entanto, ele isentou a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dos desencontros do Executivo. Ele espera votar as pautas urgentes a partir da próxima semana. “Temos uma situação difícil do orçamento primário. Temos de ter a coragem de enfrentar. Estou em dúvida para entender o cenário, a posição do governo, e precisamos entender como o resto da base do governo vai pensar as soluções para o Brasil para os próximos anos.”

O teto de gastos — ressaltou ele —, foi um bom caminho até a chegada da pandemia, que mudou a realidade econômica do país. “Essa emenda constitucional limitou o gasto e precisa ser respeitada. Mesmo sabendo que vamos depender da vacina, não podemos continuar estendendo os gastos extraordinários. Diferentemente de países ricos, temos mais limitações”, enfatizou.

Autonomia do Banco Central
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que a pauta da autonomia do Banco Central, aprovada pelo Senado, não é urgente, embora seja importante. Segundo ele, é preciso priorizar o andamento da reforma tributária. “Para avançar na autonomia (do BC), tem de avançar na tributária, que tem importância muito maior. Estamos organizando corte de despesas. Na (reforma da) Previdência, foi forte o que fizemos. Na administrativa, também vai ter um impacto. Mas temos de olhar como fazer a economia crescer de forma sustentável, em um crescimento maior, com arrecadação maior pelo aumento da riqueza. Estados e municípios vão precisar disso”, defendeu.


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