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Ameaça velada aos EUA

Bolsonaro critica declaração do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, de que haverá represálias se o Brasil não combater as queimadas na Amazônia, e diz que reação brasileira tem de ser com "pólvora", porque "apenas na diplomacia não dá"

Wesley Oliveira
postado em 11/11/2020 01:08 / atualizado em 11/11/2020 02:48

Além de insistir em não cumprimentar o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, pela vitória na disputa com Donald Trump pela Casa Branca, o presidente Jair Bolsonaro fez críticas veladas ao democrata. Num discurso no Palácio do Planalto, ele comentou a declaração do norte-americano de que, se o Brasil não acabar com a devastação na Amazônia, os EUA podem aplicar represálias ao país.

“Assistimos, há pouco, um grande candidato a chefe de Estado dizer que se eu não apagar o fogo na Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. Como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas na diplomacia não dá, porque quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona. Precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo”, disse Bolsonaro, em discurso no Palácio do Planalto.

Durante a disputa presidencial americana, o então candidato democrata, Joe Biden, tocou em um dos pontos centrais de seu plano de governo: a questão climática. Ele citou o Brasil ao mencionar o papel de liderança que os Estados Unidos deveriam assumir no tema. “A Floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída, arrancada. Mais gás carbônico é absorvido ali do que todo carbono emitido pelos EUA. Eu tentarei ter a certeza de fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões e digam (ao Brasil): aqui estão US$ 20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se você não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”, disse Biden, durante um debate.

Na época, Bolsonaro disse que o Brasil não aceitaria “subornos” e classificou a declaração como “lamentável”.

Mourão
Na terça-feira, Bolsonaro afirmou que não tem falado com o vice Hamilton Mourão sobre as eleições nos Estados Unidos nem sobre qualquer outro assunto. A declaração desautoriza o general, para quem o chefe do Executivo está aguardando o fim da disputa judicial sobre a contagem dos votos nos EUA para cumprimentar Biden.
“O que ele (Mourão) falou sobre os Estados Unidos é a opinião dele. Eu nunca conversei com o Mourão sobre assuntos dos Estados Unidos, como não tenho falado sobre qualquer outro assunto com ele”, disse Bolsonaro à CNN, horas após o vice-presidente ter se manifestado sobre a disputa pela Casa Branca.

Segundo Mourão, Bolsonaro falaria “na hora certa” sobre o resultado das eleições americanas. “Eu julgo que o presidente está aguardando terminar esse imbróglio de discussão se tem voto falso, se não tem voto falso, para dar o posicionamento dele”, afirmou o vice.

Ainda de acordo com o general, o país não ficará isolado com a conduta de Bolsonaro. “É óbvio que o presidente, na hora certa, vai transmitir os cumprimentos do Brasil a quem for eleito. Não julgo que corra risco (de o Brasil ficar isolado). Vamos aguardar, né? É uma questão prudente aí. Acho que essa semana definem as questões que estão pendentes, a coisa volta ao normal e a gente se prepara para o novo relacionamento que tem de ser estabelecido”, destacou Mourão.

Ontem, ao ser questionado por repórteres sobre sua atual relação com Bolsonaro, Mourão evitou entrar em polêmicas. “Apenas a minha visão é que eu acho que ele (Bolsonaro) está aguardando (para se pronunciar sobre a eleição nos Estados Unidos). Só isso”, afirmou o general. (Com Agência Estado)

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