Covid-19

Congresso aprova convite para ouvir diretorias da Anvisa e do Butantan

Dirigentes dos dois órgãos deverão prestar esclarecimentos ao congressistas sobre a suspensão dos estudos clínicos da vacina CoronaVac. Interrupção, na segunda-feira, colocou agência e instituto de pesquisa em rota de colisão

Wesley Oliveira
postado em 11/11/2020 12:31
Almirante Barra Torres, diretor da Anvisa: desconfiança de que tenha cedido às pressões de Bolsonaro contra a CoronaVac -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Almirante Barra Torres, diretor da Anvisa: desconfiança de que tenha cedido às pressões de Bolsonaro contra a CoronaVac - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A Comissão Mista da Covid-19 do Congresso Nacional aprovou, nesta quarta-feira (11/11), convites para que o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, prestem esclarecimentos sobre a suspensão dos estudos clínicos da vacina CoronaVac. As pesquisas foram suspensas no começo desta semana depois da morte de um dos voluntários.

Segundo o presidente da comissão, senador Confúcio Moura (MDB-RO), a sessão com a participação de Torres e Covas está prevista para esta sexta-feira (13/11). 

O imbróglio começou na segunda-feira (09/11), após a Anvisa determinar a interrupção do estudo clínico com base no registro de um "evento adverso grave". O Butantan, responsável pelos testes da CoronaVac no Brasil, afirmou que foi pego de surpresa e que a morte do voluntário não teria relação com o imunizante. De acordo com o Boletim de Ocorrência na Polícia Civil de São Paulo, ele teria cometido suicídio.

Pelas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro aproveitou o episódio para atacar o governador de São Paulo, João Doria. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou.

Logo após a repercussão, o PSDB soltou uma nota na qual lamentou a fala de Bolsonaro e afirmou que o presidente demonstrou "estar do lado do vírus". "A atitude do presidente é mais uma prova de que coloca suas pretensões políticas acima de todos e realmente não se importa com a vida dos brasileiros. Cada vez mais ele parece estar do lado do vírus", reagiu a legenda do governador de São Paulo.

Politização

Na sessão da Comissão Mista da Covid-19, a vice-presidente do colegiado, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), afirmou que a Anvisa adotou "notadamente uma postura ideológica e política". Ela disse que, quando há problemas, os testes de uma vacina realmente precisam ser suspensos para apuração. No entanto, lembrou que a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) também foi comunicada sobre a morte de um voluntário que testou a CoronaVac e, diferentemente da Anvisa, recomendou a continuidade dos estudos.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) encampou as críticas à politização em torno das vacinas e defendeu a credibilidade do Butantan. Ela disse que Bolsonaro é "insensível" à covid-19 e não se deve esperar que o presidente respeite a ciência.

A decisão da Anvisa, que nesta quarta-feira autorizou a retomada dos testes com a CoronaVac, levantou a desconfiança de aparelhamento político da agência e alinhamento incondicional com Bolsonaro – como já aconteceu no Ministério da Saúde.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação