Eleições

Bolsonaro se sai mal como cabo eleitoral e diz que não participou muito das eleições

Candidatos apoiados por Bolsonaro naufragam nas urnas — dos sete concorrentes a prefeito em capitais, apenas dois estão no segundo turno. Presidente diz que teve pouca participação e dá estocada na esquerda

Marina Barbosa
Renato Souza
postado em 16/11/2020 06:00 / atualizado em 16/11/2020 13:14
 (crédito: AFP / EVARISTO SA)
(crédito: AFP / EVARISTO SA)

O apoio do presidente Jair Bolsonaro a candidatos, em diversos estados, surtiu efeito contrário e resultou na derrota do chefe do Executivo como cabo eleitoral. O governo perdeu a disputa na prefeitura mais importante do país. Em São Paulo, Celso Russomanno, que recebeu aval público do chefe do Executivo, ficou fora do segundo turno, obtendo cerca de 10% dos votos válidos. Por meio de uma rede social, o comandante do Planalto tentou justificar o desempenho fraco de seus escolhidos e procurou contra-atacar, alegando que a esquerda perdeu espaço. Dos sete candidatos a prefeito em capitais apoiados por ele, apenas dois foram para o segundo turno.


Um dos candidatos bolsonaristas que continuam na corrida eleitoral é Marcelo Crivella (Republicanos), que disputa a Prefeitura do Rio de Janeiro com Eduardo Paes (DEM). O outro é o bolsonarista Capitão Wagner (Pros), na briga pela administração de Fortaleza, num duelo com José Sarto (PDT).


“A eleição foi muito diferente da de dois anos atrás. Em 2018, a extrema direita bolsonarista apareceu com muita força. Também surgiram muitas candidaturas outsiders, de fora da política. Agora, os mais variados partidos lançaram candidaturas ligadas à segurança pública, com o intuito de repetir essa onda, mas o cenário foi de muita resistência, com a reeleição de muitos prefeitos, e políticos tradicionais mostrando-se competitivos”, avaliou o cientista político Guilherme Simões Reis, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).


O cientista político Antonio Lavareda concordou. “Foi uma eleição mantenedora, de continuidade. Sem a onda de mudanças que experimentamos em 2018, com muitos prefeitos se reelegendo ou fazendo seus candidatos”, diz. Para ele, a pandemia da covid-19 é um dos principais fatores por trás dessa mudança. “Todos os municípios se defrontaram com um novo, grande e temível inimigo, que é a covid-19.”


Pelas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro tentou amenizar a perda de força política. “Há quatro anos, Geraldo Alckmin elegeu João Doria prefeito de São Paulo no primeiro turno. Dois anos depois, Alckmin obteve apenas 4,7% dos votos na disputa presidencial”, escreveu. “Minha ajuda a alguns poucos candidatos a prefeito resumiu-se a quatro lives num total de três horas. De concreto, partidos de esquerda sofreram uma histórica derrota nestas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar.”


O chefe do Executivo viu seus candidatos perderem em diversas capitais. Os derrotados que foram apoiadores por ele são Bruno Engler (PRTB), em Belo Horizonte; Celso Russomanno (Republicanos), em São Paulo; Coronel Alfredo Menezes (Patriota), em Manaus; Delegada Patrícia (Podemos), no Recife; e Ivan Sartori (PSD), em Santos.


A fragilização do bolsonarismo e a demora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em divulgar o resultado da eleição em algumas regiões alimentaram acusações de fraudes por parte de apoiadores do governo. Sem apresentarem provas, aliados do chefe do Executivo questionaram o resultado da votação. A falha em um dos núcleos do supercomputador usado pela Justiça Eleitoral para contabilizar a totalização dos votos atrasou em três horas a divulgação dos dados, inclusive em São Paulo (leia reportagem na página 6).


Pelas redes sociais, bolsonaristas fizeram uma breve campanha pela instauração do voto impresso, alegando que a medida traria maior segurança para o processo eleitoral.

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