Eleições

Eleições indicam polarização menor e deixam DEM e PSol fortalecidos

Primeiro turno dos pleitos mostra alteração no cenário político, com redução de espaço do radicalismo de direita e esquerda, numa tendência que pode se repetir em 2022. Candidatos de Bolsonaro fracassam, e PT também sofre queda

Marina Barbosa
Renato Souza
postado em 16/11/2020 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Os resultados do primeiro turno das eleições municipais revelam que o cenário político sofreu alterações profundas desde o pleito de 2018. O clima de radicalismo, que predominou há dois anos, deu espaço para partidos que transitam entre os extremos de esquerda e direita, que travaram uma quebra de braço pelos eleitores.


Se candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro patinaram nos votos e tiveram desempenho fraco nas urnas, postulantes do PT também registraram derrocada nas capitais. Por ironia, as legendas do Centrão, grupo mais fisiológico da política, ganharam a maioria das prefeituras, com destaque para PSD, PP e PL. Em São Paulo, o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), e o candidato do PSol, Guilherme Boulos, enfrentam-se no segundo turno, marcado para o dia 29. Celso Russomanno (Republicanos), que recebeu apoio do chefe do Executivo, e o petista Jilmar Tatto tiveram baixo desempenho.


Apesar de representarem a visão de cidadãos em colégios eleitorais dissociados e regionais, as eleições deste ano têm em comum a ascensão dos partidos que, tradicionalmente, ocuparam pouco espaço na política. O PSol e o DEM são os grandes ascendentes na votação, seja porque levaram candidatos para o segundo turno, seja porque conseguiram emplacar prefeitos em cidades importantes logo na primeira fase da disputa. Em Salvador, o candidato do Democratas, Bruno Reis, foi eleito em primeiro turno. Em Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PSD, saiu vitorioso. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) garantiram-se no segundo turno.


O DEM também conquistou as prefeituras de Curitiba, com Rafael Garcia, e Florianópolis, com Gean Loureiro. A esquerda ganhou espaço em Porto Alegre, onde Manuela D’Ávila (PCdoB) vai para o segundo turno com Sebastião Mello (MDB). Em Belém, Edmilson Rodrigues (PSol) vai disputar o executivo local com o Delegado Federal Eguchi (Patriota). O PSL, sigla que obteve a segunda maior fatia do fundo eleitoral — dinheiro público usado para financiar campanhas —, perdeu a força que teve em 2018, quando chegou a eleger o presidente, três governadores, quatro senadores, 52 deputados federais e 76 estaduais. Com orçamento de R$ 199,4 milhões, o partido não conseguiu levar seus candidatos para o segundo turno em nenhuma das 14 capitais que disputou. Dos mais de cinco mil municípios do país, a legenda conquistou 24 prefeituras, número bem abaixo do de siglas como, PSD (449), MDB (448), Progressistas (415), PSDB (348), DEM (310), PL (210) e PDT (201).

Novo cenário
Ao todo, 17 partidos disputam as capitais — a maioria, de centro. MDB, PSDB, PP e Podemos, são as legendas com maior número de candidatos. O cientista político André Rosa destaca que é possível notar uma nova configuração na preferência dos eleitores, que se afastam de extremos e tendem a definir a linha dos pleitos de 2022. “As eleições municipais representam o início das mudanças. São os prefeitos que arrecadam votos nos municípios. Em cidades de até 50 mil habitantes, o prefeito conquista votos na feira, no fim de semana, na padaria etc. Então, é um agente político muito importante”, ressalta. “Em 2018, teve o advento das redes sociais, que era uma novidade naquela época. Agora, essa não é mais uma arma de misericórdia. O crescimento da esquerda vem como uma resposta, não só pela figura do Bolsonaro, mas um contraponto a qualquer figura da extrema direita.”
O analista político Rafael Favetti chama atenção para o DEM. A legenda chegou a perder força, antes de mudar de nome, e quase desapareceu. Para ele, a tendência é de que a sigla ganhe ainda mais força e faça frente à candidatura de Bolsonaro em 2022. “Eu não enquadro o DEM como centro, é um partido de direita. É um partido que se identifica como direita liberal, não como aquela direita nacionalista. O DEM veio do PFL e quase acabou”, enfatiza. “Por outro lado, a ascensão do PSol no campo da esquerda incomoda a hegemonia do PT. O PT começa a ficar incomodado. O DEM, por sua vez, já conversa com Luciano Huck para 2022. As próximas eleições, evidentemente, vão passar pelo PSol, em uma frente de esquerda contra o Bolsonaro. O presidente não enfrenta oposição apenas da esquerda, há partidos de direita também.”

Declínio
Enquanto o PSol avança, o PT vê seu capital político cair mais. Em 2016, no auge da Operação Lava-Jato, o partido foi o principal derrotado nas eleições, faturando apenas uma capital no primeiro turno — Rio Branco, com a recondução de Marcus Alexandre. Agora, a legenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ganhou em nenhuma capital. O partido disputa o segundo turno no Recife e em Vitória.


Em Belém, o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSol), que já governou a capital paraense por dois mandatos, disputará a prefeitura com o Delegado Federal Eguchi (Patriota). Rodrigues foi candidato petista nas eleições anteriores, mas decidiu se afastar da legenda liderado por Lula, acentuando ainda mais a queda de influência da sigla que dominou a Presidência por 13 anos.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação