Eleições

Fortalecido, Centrão pode cobrar mais espaço no governo

Com mais de 2 mil prefeitos eleitos no domingo, frente partidária pode negociar, em troca de palanques para a campanha à reeleição de Bolsonaro, mais ministérios e cargos no Executivo

Jorge Vasconcellos
postado em 16/11/2020 18:58 / atualizado em 16/11/2020 20:28
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

Fortalecido com o sucesso no primeiro turno das eleições municipais, o Centrão se tornou ainda mais importante para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cujos candidatos tiveram baixo desempenho nas urnas. Partidos do bloco, como o PP, PSD, PTB, PL e Republicanos, acabam de eleger mais de 2 mil prefeitos.

A partir de agora, além da sustentação dada ao governo no Congresso, o Centrão assumirá o controle de muitos municípios que poderão servir de palanque para a campanha de Bolsonaro à reeleição em 2022. Esse cenário pode abrir espaço para a frente partidária cobrar ainda mais espaço no governo, pressionando, inclusive, por uma reforma ministerial.

O bom desempenho das siglas de centro nas urnas tem sido interpretado como um sinal de que a maioria dos eleitores não deseja mais a polarização que marcou a disputa presidencial entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) em 2018. Da mesma forma que o PT, o bolsonarismo amargou profundas derrotas nas votações do domingo.

O presidente da República não viu nenhum dos vários candidatos que apoiou vencer nas capitais. No segundo turno, ele tem chances apenas com Capitão Wagner (Pros), que disputará a prefeitura de Fortaleza (CE) contra Sarto Nogueira (PDT). O pedetista é apoiado pelo pré-candidato à presidência Ciro Gomes, do mesmo partido.

Derrota paulista

A principal derrota de Bolsonaro foi em São Paulo, cidade mais populosa do país, após a queda brusca de seu candidato, Celso Russomanno (Republicanos). Maior adversário do presidente e também pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, o governador paulista, João Doria (PSDB), sairá mais fortalecido com uma eventual reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), que disputará o segundo turno contra Guilherme Boulos (Psol).

No Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país e reduto eleitoral de Bolsonaro, o chefe do governo corre o risco de ver seu candidato, o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), ser derrotado, no segundo turno, pelo ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).

Também do Rio vem outro sinal de enfraquecimento do bolsonarismo: o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), que há quatro anos foi o campeão de votos (106.657) para a Câmara Municipal da capital fluminense, caiu para segundo lugar depois das votações de domingo. Ele teve 35 mil de votos a menos e somou 71 mil, ficando atrás de Tarcísio Motta (PSOL), que recebeu 86.243 votos.

Desempenho eleitoral

Entre os partidos do Centrão, porém, a situação é bem diferente. O PP, por exemplo, é o segundo colocado em número de prefeitos eleitos no primeiro turno (680). Em terceira posição vem o PSD (650), e em sexta, o PL (340). Também tiveram bom desempenho o PTB (212 prefeituras) e o Republicanos (208). Ao todo, esses partidos conquistaram 2.090 prefeituras. Em termos de vitória em grandes cidades, o PSD é o campeão, tendo triunfado em localidades cuja soma de habitantes equivale a 9,86% da população brasileira.

O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, destacou que, no primeiro turno eleitoral, houve um outro fator importante que poderá deixar Bolsonaro ainda mais dependente do Centrão. Ele destacou o fortalecimento também do MDB, do DEM e do PSDB, partidos que formaram a aliança de apoio ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Entre as 100 maiores cidades do país, o PSDB conquistou 9; o MDB, 8; e o DEM, 5. O MDB também foi campeão em número de prefeitos eleitos no primeiro turno: 774.

"Esses resultados indicam que a reedição da aliança que deu suporte ao governo FHC tem condições de ocorrer na sucessão presidencial. Interesse e peso político não faltam aos três partidos", avaliou André César. Ele frisou que conversas nesse sentido já vêm se desenrolando, com a participação de João Doria, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e de outras lideranças.

O cientista político observou que, diante de todo o cenário resultante do primeiro turno das disputas municipais, uma eventual cobrança por mais espaço no governo está, pelo menos, nos cálculos políticos do Centrão.

"Há dois partidos do Centrão que se sobressaíram nas urnas. O PP e o PSD do ex-ministro Gilberto Kassab podem ser mais importantes ainda e ganhar mais afagos do presidente Bolsonaro. O PSD já tem Ministério das Comunicações, e o PP ocupa vários cargos estratégicos no segundo escalão do governo. Mas esses dois partidos, em especial, podem pedir mais, se tornar ainda mais relevantes e colocar o presidente contra a parede, dizendo 'olha, se você quer a reeleição nós vamos estar ocupando espaços importantes, mas isso tem um custo'", disse o cientista político.

 

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