Força-tarefa contra hackers

Ministério Público e Polícia Federal tentam identificar a origem dos ataques cibernéticos contra o TSE. ONG Safernet, que atua no combate a delitos por meio virtual, contribuirá com as investigações

Renato Souza Sarah Teófilo
postado em 19/11/2020 01:05
 (crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
(crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Os ataques cibernéticos contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no primeiro turno das eleições municipais, no domingo, estão sendo investigados pela Polícia Federal a pedido do presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso. O Ministério Público Federal também atuará para identificar de onde partiram as ações que tentaram derrubar o sistema de apuração e divulgação dos votos.

O MPF vai cruzar informações obtidas pela equipe técnica do TSE com dados coletados pela organização não governamental Safernet, que atua combatendo delitos cometidos por meio virtual. Mesmo os ataques tendo sido disparados por computadores instalados no exterior, a origem pode ter sido no Brasil, com o direcionamento de endereços de IPs (computadores) e o uso da rede de outras nações.

Até que tudo seja esclarecido, o caso alimenta boatos e críticas, sem provas, sobre a segurança das eleições. A deputada Joice Hasselmann (PSL) — que, em 2018, foi eleita para a Câmara com 1 milhão de votos — teve um desempenho pífio na corrida pela Prefeitura de São Paulo e levantou suspeita sobre o pleito. “Fraude? Será? Tem todo cheiro”, escreveu nas redes sociais. A parlamentar já foi aliada do presidente Jair Bolsonaro e deixou a linha de atuação do governo após racha dentro do PSL.

No próprio domingo, o atraso na divulgação dos votos alimentou uma rede de fake news. Aliados de Bolsonaro questionaram o resultado da votação, novamente, sem provas. Pelo Twitter, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também levantou suspeita sobre o pleito ao comentar o fracasso de candidatos alinhados com o Executivo federal. “O que houve com os conservadores? Erramos, nos pulverizamos ou sofremos uma fraude monumental?”, postou. Pelas redes sociais, bolsonaristas fizeram uma breve campanha pela instauração do voto impresso, sob o argumento de que a medida traria maior segurança para o processo eleitoral.

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) fez quatro publicações questionando ou criticando o TSE. Em uma delas, escreveu: “Preparem-se, o TSE vai jurar que seu sistema é seguro. Aham, a gente acredita. Apuração transparente com possibilidade de recontagem já! Exigimos voto impresso”.

As postagens ocorreram enquanto os servidores do TSE registraram 431 mil tentativas de acesso no site por minuto e enquanto informações coletadas, dias antes, sobre servidores e ex-ministros eram divulgadas na internet.

No Twitter, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) afirmou que oficiou o ministro Barroso solicitando a anulação destas eleições, além de ter ingressado com uma notícia-crime na Procuradoria-Geral da República para que haja investigação do caso. “(As eleições) estão claramente viciadas. (...) Pressionem os deputados a fazerem o mesmo. As eleições foram fraudadas, a lei exige anulação!”, escreveu. Ele publicou um vídeo em que aparece à porta do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, ao lado de apoiadores com a bandeira do Brasil. O parlamentar é alvo de inquérito sobre atos antidemocráticos, em andamento no Supremo Tribunal Federal.

Entre os presentes estava o vereador do Rio Major Elitusalem Freitas (PSC), que levantou suspeita sobre a quantidade de votos que obteve, dizendo que não era uma questão de “chororô de quem perdeu”. “O que a gente quer é o voto de vocês, do nosso eleitor, aparecendo na urna. É impossível um candidato que fez 8,5 mil votos na última eleição, como nós, cresceu o trabalho, monitorou esse trabalho, monitorou o seu eleitor, cair para 2.335.”


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Após fracasso nas urnas, PSL vai se reformular

O PSL, que tinha o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como filiado até o ano passado, passará por uma reformulação nos diretórios estaduais, após o fracasso no primeiro turno das eleições municipais. Mesmo tendo recebido o segundo maior repasse do Fundo Eleitoral para financiar campanhas, no valor de R$ 199,4 milhões, a sigla ficou em sétimo lugar entre os que mais elegeram prefeitos, com a vitória de 92 candidatos, mas nenhum deles em capital. Além disso, é o 15º em número de vereadores eleitos: três mil. Questionado sobre o resultado das urnas, o presidente do partido, o deputado federal Luciano Bivar (PE), afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que “o PSL tinha dinheiro, mas não tinha poder”.

“O dinheiro é relativo. O PSL não é um partido que tem poder. Tinha dinheiro, mas não tinha poder, ou seja, não tínhamos as prefeituras nem o governo federal. Se você não alterar o sistema de uma maneira inteligente, só vão restar dois partidos: o do presidente, na área federal, e os partidos dos governadores”, frisou. “Quem não tiver isso aí tem dificuldade sem as coligações. Crescemos mais de 200% em prefeituras. Tínhamos 30, hoje, temos 92. Tínhamos 800 vereadores e agora estamos com 1.196”, destacou.

O desempenho do PSL no domingo nem de longe lembra as eleições de 2018, quando a sigla surfou a onda do bolsonarismo e conquistou a segunda maior bancada da Câmara, com 53 deputados.

Bivar também disse, na entrevista, que o partido passará por uma “remodulação” nos diretórios estaduais para ter políticos que trabalhem sabendo se valer de emendas. “O caixa é uma grande ilusão. O que faz, hoje, prefeitos terem poder não é o caixa que a gente distribui para prefeitura de R$ 150 mil, R$ 250 mil. O que faz o caixa deles são as emendas”, enfatizou. “O PSL não teve emendas. Os caras têm R$ 40 milhões de emendas e distribuem para o interior inteiro. Isso mantém no poder. Não é o dinheiro para fazer a campanha. Eles chegam à campanha com o dinheiro das emendas.”

Ele evitou classificar como um erro o lançamento de candidatos que não chegaram ao segundo turno, como a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que disputou a Prefeitura de São Paulo, mas terminou em sétimo lugar, com apenas 1,84% dos votos válidos. “O PSL não errou. O partido não tinha quadros tradicionais. Como é que pode ter um candidato que nunca teve poder, nunca foi governador, nunca foi prefeito e nunca falou: ‘Essa ponte fui eu que fiz?’. Nós não temos discurso porque nunca fomos poder. Estamos, agora, como alguns partidos pequenos, marcando presença”, afirmou.

O parlamentar não respondeu se Bolsonaro voltará ao PSL, mas disse que, em política, não se pode ter rancor. “Isso é assunto para questionar o presidente. Ele saiu espontaneamente, nós continuamos e cada um escolhe sua forma de fazer política”, frisou. “Precisa perguntar para quem quer vir se ele tem algum sentimento de vir para o partido. O PSL é como rolo compressor. É pequeno, mas é muito firme. Não arredamos um milímetro.”

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