ELEIÇÃO

Dados de milícia digital no ataque ao TSE estão com o Ministério Público Federal

Informações colhidas pela Safernet sobre o ataque sofrido pelo TSE dão o caminho dos criminosos. Apesar de terem utilizado servidores localizados fora do Brasil, há indicações de que mentores e integrantes da gangue de hackers estariam dentro do país

Sarah Teófilo
Renato Souza
postado em 20/11/2020 06:00
 (crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil)
(crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil)

A Procuradoria-Geral da República (PGR) já está de posse das informações colhidas pela ONG Safernet sobre o ataque hacker sofrido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que devem ajudar as autoridades a entender de onde partiu a invasão e chegar até os autores do crime, no Brasil ou no exterior –– e serão responsabilizados por isso. Apesar de terem usado servidores baseados fora do país, acredita-se que os mentores da ação estejam em território nacional e usaram máscaras de endereço de IP para ocultar a localização.

Além do vazamento das informações, os dados coletados pela ONG devem colaborar para a elucidação do ataque de negação de serviço, que inundou o site do TSE de acessos robóticos para tentar sobrecarregar os servidores e derrubar a página no dia do primeiro turno da eleição municipal, domingo passado. O presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, disse que os ataques tiveram “motivação política”.“Milícias digitais entraram imediatamente em ação tentando desacreditar o sistema. Há suspeita de articulação de grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura e muitos deles são investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal)”, disse Barroso.

Por conta disso, o presidente do TSE determinou a criação da Comissão de Segurança Cibernética para acompanhar a investigação da Polícia Federal sobre os ataques contra os sistemas informatizados da Corte. O grupo vai mirar as investidas criminosas para desacreditar o sistema eleitoral por meio da divulgação de notícias falsas sobre o processo de votação. A comissão será presidida pelo ministro Alexandre de Moraes, que já conduz um inquérito sobre fake news em tramitação no STF.

Também integrarão a comissão o corregedor-geral do TSE, ministro Luís Felipe Salomão; o delegado federal Disney Rosseti, assessor Especial de Segurança Institucional do órgão; dois juízes auxiliares; e um representante da Secretaria da Tecnologia da Informação (STI) da Corte. O tribunal ressaltou que o atraso de duas horas na divulgação dos resultados das eleições no último domingo não teve relação com os ataques.

A comissão vai apurar, segundo o TSE, “incidentes em sistemas on-line do Tribunal Superior Eleitoral potencialmente decorrentes de ataques cibernéticos praticados de modo criminoso e mediante ação coordenada de grupo com a finalidade de prejudicar o processo eleitoral”.

Os milicianos digitais também acessaram informações recentes, que estavam nos servidores da Corte. No dia da eleição, uma análise preliminar da Polícia Federal apontou que os dados que foram publicados na internet eram de anos anteriores. Mas, numa avaliação posterior, observou-se que informações armazenadas referentes a 2020 também vazaram.

Apesar da amplitude do ataque, as diligências indicam que os registros acessados foram até setembro deste ano, e não alcançaram o período das campanhas, análises de contas e o dia da votação. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Correio junto a fontes ligadas às investigações. A investida ocorreu por meio de vulnerabilidades no site do Tribunal e se valeu de formulários para encontrar brechas no sistema de segurança para acessar a intranet, que continha as informações que foram vazadas.


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