Na tentativa de contestar o racismo no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, ontem, que “enxerga todos com as mesmas cores: verde e amarelo”. A declaração ocorreu durante a reunião de cúpula do G20, grupo formado pelas maiores economias mundiais, por meio de vídeo previamente gravado. O comentário foi uma referência indireta às manifestações ocorridas após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro ,assassinado em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, por dois seguranças de uma loja da rede de supermercados Carrefour –– episódio ao qual não se referiu.
“Enxergo todos com as mesmas cores: verde e amarelo”, disse, para acrescentar: “Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são homens bons e homens maus, e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos. Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história”, ressaltou.
Para Bolsonaro, há uma tentativa de importar para o Brasil “tensões raciais” que não existem no país. “Quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história”, explicou, salientando que o que há são interesses de países em criar tensões, ódio e a divisão entre as raças, mascaradas de “luta por igualdade” ou “justiça social”.
“Há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social’. Tudo em busca de poder”, acusou, salientando que “um povo unido é um povo soberano; dividido é vulnerável. E um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável”, afirmou.
Ainda no discurso, observou que o Brasil é composto por um povo miscigenado. “Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira, podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros. (A miscigenação) foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo”, disse.
Daltônico
No encontro presidido pela Arábia Saudita, Bolsonaro manteve o tom de declarações dadas na sexta-feira à noite, quando postou uma série de mensagens no Twitter nas quais negou a existência de racismo, ignorou a morte de João Alberto e o Dia da Consciência Negra, e disse ser “daltônico”, por não ver diferenças na cor de pele dos brasileiros.
“Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos. Como homem e como presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença”, escreveu.
Nas postagens, o presidente ainda completou que lugar de quem prega discórdia “é no lixo” e que o país possui problemas mais complexos do que a questão racial.
“Temos, sim, os nossos problemas, problemas esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrupção moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo”, postou.
Bolsonaro não foi o único integrante do governo a negar a existência do racismo no Brasil. No último dia 20, horas depois de João Alberto ter sido assassinado, o vice-presidente Hamilton Mourão negou que haja discriminação racial no país. “Para mim, no Brasil, não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui”, garantiu.
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Não à vacina obrigatória
Durante a reunião do G20, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender que o cidadão não seja obrigado a se vacinar contra a covid-19. O argumento é de que, caso a imunização seja imposta à pessoa, seria um ataque à liberdade individual.
“Defendemos a liberdade de cada indivíduo para decidir se deve ou não tomar a vacina. A pandemia não pode servir de justificativa para ataques às liberdades individuais”, disse.
Segundo Bolsonaro, o Brasil se soma aos esforços internacionais para a busca de vacinas eficazes e seguras contra o novo coronavírus, assim como adota o tratamento precoce no combate à doença. O presidente acrescentou que o país está superando a doença e o que chamou de “desinformação”. “Juntos, estamos superando uma das mais graves crises sanitárias da história recente. Estamos vencendo as incertezas, as dificuldades logísticas e, inclusive, a desinformação”, assegurou.
Ele aproveitou para ressaltar as ações do governo em relação à pandemia, como o auxílio emergencial e a ajuda aos municípios. “Com essas medidas, garantimos a sobrevivência e a dignidade de milhares de famílias brasileiras, justamente as mais necessitadas”, destacou, acrescentando que “evitamos, dessa maneira, que os efeitos da pandemia fossem ainda mais devastadores”.
Horas antes, na prévia da reunião, o presidente afirmou, em vídeo, que “o tempo vem provando que o governo tem agido corretamente” contra o novo coronavírus, que já matou mais de 168 mil pessoas no país.
Reforma na OMC
Na participação que teve na cúpula, Bolsonaro ainda defendeu uma reforma na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para ele, a mudança é a fundamental para a recuperação da economia mundial.
“O Brasil defende avanços nos três pilares da OMC: negociações, solução de controvérsias, e monitoramento e transparência”, apontou.
O presidente pediu, também, que a redução aos subsídios para bens agrícolas conte com a mesma vontade com que os países buscam promover o comércio de bens industriais. “O processo de reforma da OMC deverá contemplar o estímulo aos investimentos e a criação de condições justas e equilibradas para o comércio internacional, não só de bens, mas também de serviços”, cobrou. (IS)