"Ei, Ei, Eymael. Um democrata cristão", "Lula lá" e "Varre, varre, varre, varre, Vassourinha". Os jingles não são nenhuma novidade nas campanhas políticas do Brasil, e um refrão bem versado ainda ecoa na cabeça de milhares de brasileiros. Desde o "Retrato do velho" de Getúlio Vargas, na campanha de 1950, passando por várias rimas e trocadilhos ao longo da história, as canções chicletes usadas por políticos são protagonistas de campanhas até as eleições municipais de 2020.
E na acirrada disputa pelo segundo turno dos pleitos decididos neste domingo (29/11) — lembrando: serão 57 municípios disputando o segundo turno em todo o Brasil, sendo 18 capitais —, um bom jogo de palavras pode ganhar um importante voto, pelo menos é o que explica Paulo Rená, professor de direito constitucional do UniCeub. "De maneira geral, os jingles vão facilitar a memorização, seja do número ou do nome do candidato. E permitir que, numa eventual dúvida sobre quem votar, aquela mensagem que fica no inconsciente possa direcionar a decisão do eleitorado."
Na prática, os jingles nada mais são do que uma representação sonora, das ideias, feitos e — especialmente — o nome e número dos candidatos. Para a letra decolar, vale ritmos populares e até paródias. Importante lembrar que os jingles são regidos pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) e precisam de autorização caso sejam usados em relação a canções já existentes.
"(Jingles) ressaltam quais são as pautas prioritárias de uma candidatura, ou quais são os temas mais importantes. Quais são os pontos de crítica aos adversários. Então não tem uma fórmula para fazer jingles. Claro, tem que ser músicas com apelo popular, que sejam meio grudentas na memória, mas também não podem ser irritantes, mas com relação ao conteúdo, vai depender da criatividade das campanhas escolherem por onde utilizarem seus jingles", sugere Rená sobre a canção de campanha perfeita.
E entre tantas mensagens de WhatsApp, espaços quase infinitos para memes no Facebook, lives de várias horas no Instagram e um campo de rede social praticamente incontável, os jingles ainda são importantes em pleno 2020? Segundo Rená, não só são importantes, como também têm um alcance bem maior: "O que a gente tem visto com as mídias sociais, na verdade, são novas estratégias para veiculação dos jingles. Na verdade, acho que eles ganham espaço, principalmente pela limitação do tempo. Vários candidatos, especialmente a vereador, que não teriam tanto tempo, passaram a poder usar das redes sociais para desenvolver melhor sua campanha. Daí os jingles podem ser a porta de entrada, para a pessoa conhecer um pouco mais aquele nome, ou para tentar uma estratégia de fixar na memória das pessoas”.
Forró, funk, samba, repetição e famosos
Na prática, os jingles dos candidatos que vão para o segundo turno das eleições municipais de 2020 apostam em ritmos de forró, funk, repetições (quase a exaustão) dos nomes dos candidatos e até presença de celebridades.
Em Belém, a disputa entre Edmilson Rodrigues (PSol) e Delegado Eguchi (Patriota) para o cargo de prefeito, rendeu até a participação de Gretchen (e o marido Esdras Souza) no jingle do candidato de número 50. Para Eguchi, a musiquinha é menos repetitiva, se foca na letra “E” e também é um forró animado.
A Gretchen (@GretchenCantora) e o músico Esdras Souza também estão no ritmo do nosso jingle. Se liga nesse vídeo.#Ed50 #AgoraÉ50 pic.twitter.com/H7kw843Ptk
— Edmilson Rodrigues (@EdmilsonPSOL) November 25, 2020
Com mais de cinco minutos, o jingle de Sarto Nogueira (PDT) já está elegível ao Grammy. Brincadeiras a parte, a faixa musical do candidato é um daqueles forrós universitários bem dançantes. Já o Capitão Wagner (Pros) apostou na rima "a capital vai com o capitão" para ganhar a atenção do eleitorado em um forró mais pé de serra. Os dois disputam a prefeitura de Fortaleza (CE).
Em Manaus (AM), Amazonino Mendes (Podemos) e David Almeida (Avante) nem pensaram duas vezes: apostaram forte no forró.
No Rio de Janeiro (RJ), a disputa pelo segundo turno está entre Marcelo Crivella (Republicanos) e Eduardo Paes (DEM). No caso do atual prefeito, o YouTube retirou do ar no canal de Crivella, ainda em setembro (a pedido da BMG Rights Management US, LLC), a faixa política baseada na música Supera, de Marília Mendonça. Segundo a assessoria do candidato à revista Veja, "a versão mencionada da música de Marília Mendonça não tem nada a ver com qualquer iniciativa da campanha". O jingle, entretanto, segue na página oficial de Crivella no Instagram com o aviso "Este não é o jingle oficial".
Agora em novembro, contudo, o candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro apresentou outra faixa musical nas redes sociais. Com raízes do funk carioca influenciado pelo miami bass, a canção aposta na rima "não erra" e "Crivella".
"Ah, não erra... dia 15 de novembro, eu voto 10 é no Crivella" pic.twitter.com/zi8b3PSefu
— Marcelo Crivella (@MCrivella) November 13, 2020
Já Eduardo Paes apostou no samba para rimar “trabalhar” e “Dudu tá lá”.
São Paulo decidirá entre Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSol). Com o atual prefeito, o último jingle de campanha compartilhado nas redes sociais aposta em um samba jazz para exaltar, com poucas rimas, o trabalho de Covas.
O último jingle de Boulos, liberado na última terça-feira (24/11), também aposta no samba. Com artistas como Chico César, Otto, Junior Barreto e Amanda Magalhães, a letra destaca a parceria do candidato com a vice, Luiza Erundina.
NOVO JINGLE! O povo falou! #ViraSP50 #Boulos50 pic.twitter.com/vnbQ7pf4sS
— Guilherme Boulos 50 (@GuilhermeBoulos) November 24, 2020
Em Anápolis (GO), o município mais próximo ao Distrito Federal a ter um segundo turno, a disputa é entre Roberto Naves (PP) e Antonio Gomide (PT). O petista se voltou para um sertanejo, enquanto Naves optou por um forró mais pé de serra.
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