DIPLOMACIA

Bolsonaro: "Precisamos da China e a China precisa muito mais de nós"

Em meio a crise diplomática entre os países criada pelo filho, Eduardo, presidente diz que Brasil e China não têm "problema nenhum"

Augusto Fernandes
postado em 29/11/2020 18:51 / atualizado em 29/11/2020 18:52

O presidente Jair Bolsonaro negou neste domingo (29/11) que a relação do Brasil com a China esteja abalada, a despeito de uma crise diplomática entre os países ter sido iniciada na última semana, quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) acusou a nação asiática de espionagem.

Em coletiva à imprensa no Rio de Janeiro, logo após votar no segundo turno das eleições municipais, o mandatário afirmou que "não temos problema nenhum com a China" e que "nós precisamos da China e a China precisa muito mais de nós".

"Nós temos interesse na China, eles têm interesse em nós. Eles têm quase 1,4 bilhão de pessoas para alimentar. A China, ao longo dos anos, tem se transformado mais urbana do que rural. A China, com o problema da peste suína, teve uma necessidade de importar commodities do campo nosso", analisou Bolsonaro.

"O chinês está cada vez mais consumindo proteínas, cuja a fonte principal é o animal, e todo mundo quer o bem do seu povo. E nós queremos do nosso povo aqui também. Como? Trabalhando, abrindo frente de trabalho, estimulando a produção e, mais ainda, desburocratizando", continuou o presidente.

Confusão diplomática

Na noite de segunda-feira (23/11), Eduardo Bolsonaro usou o Twitter para fazer as afirmações. Dentre as publicações, ele escreveu em uma delas que “o governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.

“O programa ao qual o Brasil aderiu pretende proteger seus participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas. Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, continuou Eduardo, que excluiu as postagens no dia seguinte.

Na terça-feira (24), a Embaixada da China no Brasil reagiu e disse que “declarações infames” como a de Eduardo “além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”.

“Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, afirmou a embaixada chinesa.

O posicionamento da entidade diplomática desagradou ao Ministério das Relações Exteriores, que enviou uma carta à embaixada condenando as declarações, às quais classificou como sendo de tom "ofensivo e desrespeitoso".

"O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejam promover as boas relações entre o Brasil e China", diz uma parte do texto, revelado inicialmente pela CNN Brasil.

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