Entrevista

"Aderi ao projeto para ter protagonismo", diz Marcelo Ramos sobre chapa de Arthur Lira

Parlamentar indicado para a 1ª Vice-Presidência da Câmara na chapa de Arthur Lira, Ramos garante que, apesar do apoio do presidente Bolsonaro, não haverá subserviência

Vicente Nunes
postado em 13/12/2020 07:00
 (crédito: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)

Indicado para a 1ª Vice-Presidência da Câmara na chapa liderada por Arthur Lira (PP-AL), o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) diz que, caso seu grupo seja o escolhido para comandar a Casa nos próximos dois anos, haverá total independência do Palácio do Planalto. Ele afirma que o fato de o presidente Jair Bolsonaro apoiar abertamente a eleição de Lira para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) não significa que haverá uma postura de subserviência ao Executivo.


“O deputado Rodrigo Maia é a prova irrefutável de que você pode ser eleito com o apoio do governo e não submeter a Câmara aos caprichos do presidente. Ele foi eleito com o apoio do Bolsonaro e não abriu mão da independência da Câmara. Não tenho dúvidas de que o Arthur terá a postura de independência e harmonia entre os Poderes, como determina a Constituição”, ressalta.


Ramos destaca, ainda, que, com Lira na Presidência da Câmara, a prioridade será tocar a agenda liberal na economia, apesar de o grande interesse de Bolsonaro ser destravar a agenda de costumes, que vem sendo contida por Maia — esse é um dos motivos de o presidente da República querer fazer o comandante da Casa dos deputados. “Não há chance de, num momento de pandemia, que exige esforços para o combate aos efeitos sanitários, econômicos e sociais da crise, a Câmara dar centralidade à pauta de costume. Isso está fora de cogitação”, assegura.


O deputado acrescenta que não há garantia de que o grupo de partidos que se formou em torno da candidatura de Arthur Lira na disputa pela Presidência da Câmara seja o mesmo que apoiará a reeleição de Bolsonaro em 2022. “Não há nenhuma relação entre uma coisa e outra. Eu mesmo não tenho identidade com o projeto do presidente Bolsonaro”, frisa.


Para Ramos, o fato de Lira ser um dos símbolos do Centrão não significa que uma onda de fisiologismo, o toma lá dá cá, ditará o ritmo do Legislativo. “Não acho que os deputados buscarem recursos para os seus estados seja algo não republicano. “Deputado que luta por recursos para o seu estado deve ser elogiado e não atacado.” A seguir, os principais trechos da entrevista ao Correio.

Por que o senhor resolveu aderir à chapa liderada pelo deputadoArthur Lira? O fato de ele ser investigado pela Justiça não o incomoda?
Aderi a um projeto no qual o meu partido está inserido e que me possibilitará uma posição de protagonismo para ajudar o Brasil e o Amazonas. Todos que assumiram os mandatos passaram pelo crivo da lei da ficha limpa e, portanto, são presumidamente inocentes. São muitos os deputados que ocuparam posições públicas e respondem a processos, não me cabe julgá-los. Digo isso com a tranquilidade de quem, em 10 anos de vida pública, não responde a nenhum processo e teve todas as suas contas aprovadas, sem ressalvas, pelos órgãos de controle.

O senhor não teme uma subserviência da Câmara ao governo federal caso Arthur Lira seja eleito presidente da Casa? Não é um risco à independência entre os Poderes?
O deputado Rodrigo Maia é a prova irrefutável de que você pode ser eleito com o apoio do governo e não submeter a Câmara aos caprichos do presidente. Ele foi eleito com o apoio do Bolsonaro e não abriu mão da independência da Câmara. Não tenho dúvidas de que o Arthur terá a postura de independência e harmonia entre os Poderes, como determina a Constituição.

Como o senhor avalia o fato de o presidente da República ter mergulhado de cabeça na
candidatura de Arthur Lira? A ex-presidente Dilma fez isso, foi derrotada e sofreu impeachment.
Não tenho nenhum elemento concreto de que o presidente Bolsonaro tenha “mergulhado de cabeça” na candidatura. O presidente tem direito de ter sua preferência, mas a escolha será dos deputados, e eu não subestimo os deputados, como se o governo pudesse mandar nos seus votos. Só o povo manda em voto de deputado.

Com a possível vitória da chapa da qual o senhor faz parte, o toma lá dá cá entre o Legislativo e o Executivo estará de volta? Qual a garantia de que isso não acontecerá?

Depende do que você considera toma lá dá cá. Não acho que os deputados buscarem recursos para os seus estados seja algo não republicano. Digo isso, também, com a autoridade de quem votou a favor da maioria das matérias de interesse do governo e não tem, nem quer, nenhum cargo. Deputado que luta por recursos para o seu estado deve ser elogiado e não atacado.

Por que é importante derrotar o grupo liderado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia?
Não me movo por derrotar grupo nenhum. Muito menos do presidente Rodrigo Maia, em quem reconheço uma liderança fundamental para o país, nos últimos anos, além de ter, por ele, amizade e respeito. Movo-me pelo desejo de servir ao Brasil.

O senhor, vale lembrar, foi um importante aliado de Maia por um bom tempo. O que mudou?
O Maia não é candidato. Nada mudou.


Que agenda vai prevalecer no Congresso com Arthur Lira na Presidência da Câmara, a liberal, voltada para a economia, ou a conservadora, com prioridade ara as pautas de costumes?
A liberal. Não há chance de, num momento de pandemia, que exige esforços para o combate aos efeitos sanitários, econômicos e sociais da crise, a Câmara dar centralidade à pauta de costume. Isso está fora de cogitação.

É possível haver uma atuação conjunta entre a chapa liderada por vocês e um grupo disposto a assumir o Senado ou são duas eleições independentes, que devem andar de forma autônoma?
São duas eleições que se relacionam nos bastidores por conta dos interesses dos partidos. Mas, essas influências não são decisivas. Ninguém manda no voto de senador, nem de deputado.

Como o senhor viu a decisão do Supremo Tribunal Federal de impedir as reeleições de Davi Alcolumbre no Senado e de Rodrigo Maia, na Câmara?
Fez cumprir o texto expresso da Constituição. Não havia outra interpretação possível dentro da Constituição.

Qual será o papel, na Câmara, dos partidos de esquerda que estão apoiando vocês?
O papel de moderadores da pauta e de ponto de equilíbrio na relação com o Executivo, além de trazerem o componente social para a pauta econômica.

O grupo que se formou em torno da candidatura de Arthur Lira para a presidência da Câmara será o mesmo que apoiará a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022?
Não há nenhuma relação entre uma coisa e outra. Eu mesmo não tenho identidade com o projeto do presidente Bolsonaro.

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