Covid-19

"Muito estranho", diz pesquisadora sobre plano sem data para vacinação

Governo enviou ao Supremo proposta de imunização sem informar quando as primeiras doses serão aplicadas. Ao Correio, epidemiologista Ethel Maciel afirma que discorda de diversos pontos do projeto, e que seu nome foi colocado entre os autores sem aviso prévio

Renato Souza
postado em 13/12/2020 17:06
 (crédito: reprodução/Twitter)
(crédito: reprodução/Twitter)

A epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, criticou, neste domingo (13), o Plano Nacional de Imunização contra a covid-19, apresentado pelo governo ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ela e outros 35 pesquisadores que são citados como autores do documento afirmam que sequer viram o planejamento antes dele ser enviado ao Poder Judiciário.

Em entrevista ao Correio, Ethel apontou diversas inconsistência no projeto. De acordo com a pesquisadora, causou estranheza o fato da proposta ser finalizada sem prever uma data para que a vacinação comece a ser aplicada na população."Achei muito estranho (não ter a data). Nós já temos uma vacina que está aprovada em uma agência norte-americana, na Europa, no Canadá. Poderia-se dizer em que locais estaria armazenada. e trazer outros detalhes. Eu, pessoalmente, discordo de muitos pontos", afirma.
De acordo com a cientista, não existe fundamento para que a população do sistema prisional tenha sido retirada dos grupos prioritários para receber a vacina. "Não existe justificativa científica para excluir a população prisional do plano. É o plano nacional de imunização. Temos que colocar todas as populações vulneráveis. Nós mandamos um documento técnico para embasar as ações quando eles fossem escrever o plano. Listamos diversos grupos, como trabalhadores essenciais da educação, todos eles, não só os professores. Nem estamos falando de vacina para todos. Esses seriam apenas os grupos prioritários", explica.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que os pesquisadores foram convidados para colaborar com o plano de maneira "opinativa, sem poder de decisão". A colaboração não é remunerada. A professora discorda do posicionamento do Ministério. "Nunca vivenciei isso. E já participei de vários governos, em câmaras técnicas. É importante dizer que não estamos falando de um documento interno, mas sim de um enviado ao Supremo para responder uma ação. Considero bastante grave, pois nossos nomes estão abaixo da palavra elaboração. Elaborar significa produzir. E mesmo que o ministério tenha a prerrogativa de fazer as escolhas (de quem convidar), nós temos a opção de escolher se nosso nome deve constar no documento ou não", conclui. 

Prazo

Na tarde deste domingo, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu 48 horas para que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, informe a data de início e previsão de término do Plano Nacional de Imunização contra a covid-19, detalhando o período de cada fase.

O magistrado é o relator de ações que questionam as ações do governo frente a pandemia, como o plano de vacinação em todo o país e aplicação obrigatória da vacina. 

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