Crise entre Poderes

Bolsonaro mente como os "extremistas bolsominions", diz Maia

Presidente da Câmara usa a tribuna do plenário para rebater afirmações do chefe do Executivo, que o acusou de ter impedido o pagamento do 13º salário a beneficiários do Bolsa Família. Segundo ele, bancada governista obstruiu a votação de medida provisória para evitar inclusão do benefício. De acordo com o parlamentar, o governo mostra "incompetência e falta de coragem"

Jorge Vasconcellos
postado em 18/12/2020 16:37 / atualizado em 18/12/2020 16:40
 (crédito: Najara Araujo/Camara dos Deputados)
(crédito: Najara Araujo/Camara dos Deputados)

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse do plenário, nesta sexta-feira (18/12), que o presidente Jair Bolsonaro mente e adota o mesmo discurso de "extremistas bolsominios". Ontem, durante a live semanal, o chefe do governo acusou o parlamentar de ser o responsável pelo não pagamento do 13 º salário aos beneficiários do Bolsa Família, por ter, segundo ele, deixado caducar a medida provisória que trata do assunto. Em reação, Maia chegou a ameaçar colocar na pauta de votações desta sexta-feira a MP do auxílio emergencial residual, que inclui o pagamento do 13 º do Bolsa Família, mas recuou da ideia.

O deputado respondeu às acusações de Bolsonaro da tribuna do plenário, algo incomum entre os presidentes da Câmara. "Mentiu em relação à minha pessoa", disse o parlamentar. "Aliás, muita coincidência da narrativa que ele usou ontem com a narrativa que os bolsominions usam há um ano comigo, em relação às medidas provisórias que perdem validade na Casa", afirmou o deputado.

Bastante irritado, Maia prosseguiu: "É a mesma narrativa. A narrativa que eu deixei caducar a MP do 13 º (salário do Bolsa Família) não vem de hoje. Peguem as redes sociais dos extremistas bolsominions que vocês vão ver:'Rodrigo Maia derruba e caduca Medida Provisória do 13 º do Bolsa Família'".

O deputado também afirmou que será "leal adversário do presidente", e admitiu que pode também ser "aliado do governo" em alguns assuntos. "Eu continuarei sendo leal adversário do presidente da República naquilo que é ruim para o Brasil. E serei aliado do governo, não do presidente, nas pautas que modernizam o Estado brasileiro, respeitando o limite de gastos", declarou o presidente da Câmara, que também acusou o governo de ser incompetente.

Ele disse que "a população não merece pagar a conta da incompetência e da falta de coragem do governo" em fazer a reestruturação das despesas do Estado.

Rodrigo Maia, sem citar nomes, criticou aliados do chefe do Executivo, afirmando que Bolsonaro gosta de pessoas que, na verdade, "jogam pelas costas". Segundo ele, "o presidente não gosta de adversários que jogam de forma aberta e transparente" e "prefere os aliados, que ele vai conhecer um dia alguns, que estão sempre jogando pelas costas, e, quando podem, a gente sabe o que fazem com os governos", disse.

Maia acrescentou que o governo agiu com "negacionismo científico" durante a pandemia de covid-19 e lembrou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, "ficou um mês no Rio de Janeiro".

"Garantimos o país funcionando porque o negacionismo do governo e a depressão do ministro da Economia fizeram com que o Parlamento assumisse esse papel", afirmou o presidente da Câmara.

No início da tarde desta sexta-feira, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), admitiu que foi o próprio Executivo que pediu para que a MP nº 1.000, assinada por Bolsonaro, que trata da prorrogação do auxílio emergencial, não fosse votada.

Essa MP, enviada pelo governo em setembro, prorrogou o auxílio emergencial até dezembro de 2020 e reduziu o valor do pagamento para R$ 300. Quando a oposição conseguiu incluir no texto da MP o pagamento do 13 º do Bolsa Família e anunciou que apresentaria um destaque para aumentar o valor para R$ 600, a base governista passou a fazer obstrução para evitar a votação da matéria.

No discurso da tribuna, Rodrigo Maia disse que faltou coragem a Bolsonaro para debater o 13 º do Bolsa Família. "Quando você disputa uma eleição para ser presidente do Brasil, você assume a responsabilidade de dar o norte do nosso país", afirmou o parlamentar. "Infelizmente, não é o que tem acontecido nós últimos quase dois anos. E digo mais: se o presidente da República tivesse tido coragem, poderíamos estar discutindo o 13 º do Bolsa Família aqui hoje, poderíamos estar discutindo a expansão do auxílio emergencial aqui hoje", declarou o presidente da Câmara.

Ele continuou: "Se, hoje, o governo não consegue promover uma melhora no Bolsa Família para esses milhões de brasileiros que ficarão sem nada a partir de 1 º de janeiro, a responsabilidade é exclusiva dele (Bolsonaro), que tem um governo que é liberal na economia mas não tem coragem de implementar essa política dentro do governo e, principalmente, dentro do Parlamento".

 


 

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