O ministro da Economia, Paulo Guedes, suspendeu as férias que tiraria até 8 de janeiro por causa do mal-estar com Jair Bolsonaro causado pela polêmica do 13º do programa Bolsa Família –– cujo pagamento ainda não está totalmente sepultado. O presidente, que acusara o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) de ter jogado contra o benefício, foi chamado de “mentiroso” pelo presidente da Câmara depois que Guedes admitiu que recomendou o não pagamento do valor extra, pois haveria o risco de que o chefe do Executivo incorresse em crime de responsabilidade –– gatilho que dispara o processo de impeachment.
Como os trabalhos na Câmara não estão encerrados –– ainda haverá sessões amanhã e na terça-feira —, a ausência de Guedes poderia ensejar alguma manobra que pusesse o governo em má situação. Além disso, o ministro deixaria de participar da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada, também, para amanhã.
O mal-estar do 13º do Bolsa começou na última quinta-feira. Na tradicional live, Bolsonaro acusou Maia de ter segurado a votação da MP 1.000/20, que autorizava o pagamento. “Você está reclamando do 13º do Bolsa Família que não teve. Foi promessa minha? Foi. Foi pago ano passado? Foi. Mas, o presidente da Câmara deixou caducar a MP. Vai cobrar de mim? Cobra do presidente da Câmara”, esbravejou.
Porém, o fogo amigo contra o presidente partiu de Guedes, ao apresentar o balanço do Ministério da Economia neste ano. Ele afirmou que recomendou o não pagamento da parcela extra do benefício para evitar que o governo federal cometesse um crime de responsabilidade fiscal.
“Eu desejaria dar o 13º salário do Bolsa Família, mas é um descumprimento da lei. Eu desejaria desonerar a folha, mas não posso fazer isso, é um crime de responsabilidade fiscal”, afirmou. Para deixar Bolsonaro ainda mais isolado na história, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), também se manifestou isentando Maia de qualquer culpa.
O presidente da Casa, por sua vez, usou a tribuna para dizer que a MP do 13º estava travada a pedido do próprio governo e acusou o presidente de ter mentido, citando as declarações de Guedes. A MP 1.000/20 caducou em março, sem passar pelo plenário da Câmara.
Também como reação, Maia anunciou que pautaria a MP sobre a prorrogação do auxílio emergencial, acrescida do 13° do Bolsa Família. Mas, antes mesmo da votação, na última sexta-feira, Guedes admitiu que não há recursos para o pagamento.
Opções erradas
Segundo fontes ouvidas pelo Correio, até haveria dinheiro para pagar o extra. Mas, como o governo decidiu quitar emendas parlamentares, ficou sem a provisão necessária para conceder o 13º — algo, aliás, que estava no radar do Palácio do Planalto como forma de ajudar a turbinar a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) para a Presidência da Câmara.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou, ontem, uma entrevista feita com o próprio pai. Ao questioná-lo se Guedes esteve para sair do governo, o presidente respondeu: “Não demonstrou para mim (vontade de sair do governo). Lógico que a gente vê que, de vez em quando, ele fica irritado porque certas medidas dependem de votações. Então, quer resolver e fica chateado. Agora, no tocante a sair (do governo), falou que vai sair comigo quando acabar meu mandato”, afirmou o presidente.
A suspensão das férias de Guedes foi publicada na edição extra do Diário Oficial da União (DOU), de ontem –– quando começaria o recesso. A pasta justificou a mudança de planos afirmando que o ministro não viajaria por conta da pandemia e decidiu continuar trabalhando.
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