Com mais de 190 mil mortos e 7 milhões de casos no Brasil, a pandemia de covid-19 foi tema do presidente da República e de um ex-ministro da Saúde. Em pronunciamento oficial, Jair Bolsonaro agradeceu o esforço dos brasileiros em enfrentar a doença que afetou não só o país, como todo o planeta. O chefe do Executivo destacou o empenho do governo em combater o novo coronavírus, com atenção à saúde e à economia.
“Instituímos o auxílio emergencial, que ajudou milhões de famílias, facilitamos e ampliamos o crédito para as pequenas e microempresas, custeamos parte dos salários dos trabalhadores, salvando milhões de empregos”, disse. Segundo o presidente, na área de saúde, “não faltaram recursos e equipamentos para todos os estados e municípios no combate ao coronavírus, dentre outras ações”.
Diferentemente de outros momentos, Bolsonaro manifestou empatia às famílias de brasileiros que morreram em razão da pandemia. “Nessa ocasião, solidarizo-me, particularmente, com as famílias que perderam seus entes queridos neste ano. Externo meus sentimentos, pedindo a Deus que conforte os corações de todos.”
Antes do pronunciamento oficial, ainda na noite de quinta-feira, o presidente fez a tradicional live em uma rede social. Lá, adotou um tom menos solene, rebateu críticas e atacou adversários. Primeiramente negou, mais uma vez, que tenha se referido à covid-19 como “gripezinha”. De acordo com o presidente, ele estava referindo-se à saúde pessoal dele, e não à doença como um todo. “Quando eu falei do meu passado, que eu tinha histórico de atleta, a imprensa disse que eu falava de todo mundo. Disseram que eu disse que era uma gripezinha. Não vai. Mostra o vídeo em que eu falei isso”, desafiou.
Bolsonaro também comentou sobre a CoronaVac, vacina sobre a qual o governo de São Paulo criou expectativa em torno dos resultados. “A eficácia daquela vacina de São Paulo está lá embaixo, está lá embaixo. Não vou divulgar percentual, aqui, porque, se eu errar 0,001%, vou apanhar da mídia, mas o percentual parece que está lá embaixo, levando-se em conta a outra”, disse Bolsonaro, sem especificar a qual imunizante referia-se.
Gripe espanhola
Ministro da Saúde do governo Bolsonaro durante 30 dias, o médico Nelston Teich deu um diagnóstico grave sobre a pandemia. Em uma rede social, ele estimou que o país tenha, considerando a subnotificação, 230 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus. Oficialmente, o Brasil passou de 190 mil óbitos. Segundo o médico, a pandemia de covid-19, no Brasil, é pior do que a da gripe espanhola.
“Os relatos históricos da gripe espanhola apontam um pouco mais de 35 mil mortes no Brasil nos anos de 1918 e 1919. Pelos dados do IBGE, em 1920, o Brasil tinha 30,6 milhões de habitantes. Se ajustarmos a mortalidade daquela época para os dias atuais, em que o Brasil tem, aproximadamente, 212,4 milhões de habitantes, o número equivalente de mortes, em 2020, seria de aproximadamente 243 mil mortos”, argumentou o ex-ministro.
“Estamos, atualmente, com cerca de 230 mil mortos pela covid-19, e os números crescem de forma significativa. As mortes pela covid-19 vão, com certeza, superar as da gripe espanhola”, afirmou o ex-ministro. “Esse números mostram como a situação é grave, difícil e incerta”, escreveu.
Teich deixou o governo em 15 de maio, quando o Brasil contabilizava 14.817 mortos por covid. O médico saiu do ministério após divergências com o protocolo de atendimento aos pacientes — à época, o governo estimulava abertamente o uso de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no tratamento de covid. Teich acabou sucedido pelo atual titular da pasta, Eduardo Pazuello.
Também nas redes sociais, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes defendeu que a vacina contra a covid-19 chegue a todos os lugares do país o mais rapidamente possível. “Vacinas não possuem ideologia”, escreveu o magistrado. “Sua função científica é salvar vidas, como há tantos anos o fazem. Quase 190 mil já se foram pela covid-19. A imunização é urgente e deve abarcar todo o país”, afirmou. Mendes também afirmou ser preciso “confiar nos critérios de prioridade estabelecidos pelas autoridades sanitárias”. Esta semana, a Fiocruz negou pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) para dar preferência aos 7 mil servidores do tribunal.
Doria pede desculpas
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), desculpou-se pela viagem que fez, nesta semana, a Miami. Em vídeo publicado na véspera de Natal, ele explicou que a viagem estava programada havia algum tempo, sem qualquer relação com as medidas restritivas anunciadas no estado esta semana. “Quero transmitir, aqui, as minhas desculpas àqueles que imaginaram que eu estivesse deixando a cidade e o estado de São Paulo depois de medidas restritivas para desfrutar uma vida confortável, com menos restrições em Miami. Não houve essa intenção. Não houve esse gesto de pouca responsabilidade por minha parte. Mas, mesmo assim, peço desculpas. Eu não tenho compromisso com o erro, já disse isso algumas vezes. E sempre que cometer um erro eu serei o primeiro a reconhecer e pedir desculpas”, declarou o tucano.
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Projeto armamentista
Em live promovida na véspera de Natal, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a pauta armamentista. O chefe do Executivo citou a renovação das mesas do Congresso em fevereiro e indicou a possibilidade de enviar um projeto de lei para revogar o Estatuto do Desarmamento. "Para nós, do Executivo, também temos nossas preferências, a gente não entra de peito aberto na campanha da Câmara e do Senado para respeitar a autonomia deles, mas, no fundo, todo mundo torce", afirmou. E acrescentou: “De acordo com a mesa, a gente pode botar, em votação, um projeto de lei que trata de revogar o Estatuto do Desarmamento”.
Bolsonaro reforçou ser a favor de armar a população e justificou que “os vagabundos” já estão armados. “Eu quero que o povo brasileiro todo se arme porque a vagabundagem já está armada”, declarou. Bolsonaro também voltou a justificar a necessidade de armar a população para defender a “liberdade” e mencionou medidas de restrição adotadas pelo governo de São Paulo.
Sem citar diretamente o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o presidente criticou a viagem realizada pelo chefe estadual para Miami (EUA). “O povo armado acaba com essa brincadeirinha de vai ficar todo mundo em casa que eu vou passear em Miami. Ah, pelo amor de Deus”, disse Bolsonaro.
Durante a live, ele repetiu que “o povo armado jamais será escravizado”. O presidente destacou, ainda, que o seu governo, por meio de decretos, ajudou “muita gente a comprar armas e comprar munições”. O chefe do Planalto ressaltou medida que estendeu o porte de arma em propriedades rurais e citou que houve diminuição de invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em seu governo.
“Eu quero que o povo brasileiro todo se arme porque a vagabundagem já está armada”
Jair Bolsonaro, presidente da República
Sem "omissão"na Amazônia
O governo Bolsonaro afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não há “qualquer omissão federal” no combate ao desmatamento da Amazônia e que o presidente não é inerte em relação ao problema. A manifestação foi enviada à Corte após a ministra Cármen Lúcia exigir explicações da União sobre medidas adotadas contra a devastação da floresta.
A exigência foi cobrada em ação movida pela Rede Sustentabilidade, que acusa Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de omissão em coibir o avanço do desmatamento. Em novembro, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram alta de 9,5% na devastação da floresta no último ano, atingindo a maior marca desde 2008. O desmatamento alcançou 11.088 km² — o equivalente a sete vezes a área da cidade de São Paulo.
No ofício enviado ao Supremo, o governo Bolsonaro lista medidas que foram adotadas pela União no combate ao desmatamento, como a criação do Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido pelo vice Hamilton Mourão, o uso das Forças Armadas na região, o decreto que proibiu queimadas por 120 dias e um levantamento de focos de incêndio junto aos Estados da Amazônia Legal.
O documento, porém, reconhece que os autos de infração lavrados entre janeiro a julho do ano passado tiveram redução de 17% em comparação ao mesmo período de 2018, mas alega que a queda de multas ambientais é resultado da redução do número de servidores designados para atuar na fiscalização por motivo de aposentadoria.