"Ninguém me pressiona para nada"

Em mais um passeio sem máscara por Brasília, presidente Bolsonaro disse respeitar o trabalho da Anvisa e voltou a falar de possíveis reações adversas dos imunizantes aplicados pelo mundo. Governo do Amazonas enfrenta protestos após medidas restritivas

Correio Braziliense
postado em 26/12/2020 22:50

Com o início da vacinação contra a covid-19 em vários países, inclusive na América Latina, e sem ainda haver uma data para que a imunização comece no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou não estar incomodado com a situação. “Ninguém me pressiona para nada, eu não dou bola para isso”, disse o chefe do Executivo. Bolsonaro circulou por cerca de duas horas em Brasília, sem usar máscara, ao final da manhã de ontem.

“Entre mim e a vacina tem uma tal de Anvisa, que eu respeito e não estão querendo respeitar”, avisou o presidente, citando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Bolsonaro também mencionou a assinatura uma medida provisória (MP) que liberará, no ano que vem, R$ 20 bilhões para aquisição e distribuição do imunizante, entre outros usos.

O presidente voltou a salientar que os laboratórios não querem se responsabilizar por reações adversas que possam vir a ocorrer com as vacinas. “Não pode aplicar qualquer coisa no povo”, afirmou. “Eles não se responsabilizam por qualquer efeito colateral (da vacina)”, criticou, acrescentando que a falta de respaldo, pelo que soube, é válida para todas as empresas que estão comercializando o imunizante.

Bolsonaro comentou sobre as vacinas contra a covid-19 durante a visita a vários estabelecimentos comerciais de Brasília. O presidente circulou por duas horas, sempre acompanhado por seguranças. Novamente, o chefe do Executivo dispensou o uso da máscara de proteção contra o coronavírus.

O presidente Jair Bolsonaro parou primeiramente em uma lotérica no Cruzeiro. Após fazer uma aposta, foi a uma padaria no bairro, onde tomou um café. Em seguida, dirigiu-se a um clube no Setor Militar Urbano; depois, a uma papelaria no Setor de Indústrias Gráficas; e, por último, a uma mecânica de motocicletas no Setor de Oficinas do Sudoeste.

Durante o passeio pela capital, Bolsonaro ouviu de alguns apoiadores felicitações para o ano de 2021. O presidente permaneceu no Distrito Federal neste final de semana. Amanhã ele deve viajar para o Guarujá, no litoral paulista.

Avanço em 24h
Dez meses depois de registrar o primeiro caso de covid-19 no Brasil, o Ministério da Saúde divulgou, ontem, os números atualizados da pandemia. Segundo o relatório divulgado pela pasta, o país contabilizou 307 mortes nas últimas 24h. Assim, o país chega ao total de 190.795 óbitos desde o início da pandemia.

O último boletim do Ministério da Saúde apontou, ainda, o registro de 17.246 novos casos. Com esse resultado, o Brasil alcança 7,465 milhões de infectados pelo novo coronavírus.

De acordo com os dados oficiais do governo federal, São Paulo acumula o maior número de casos — 1,423 milhão de registros e 45.808 mortes. Em seguida, vêm Minas Gerais, com 522.331 casos e 11.585 óbitos; Bahia (482.113 casos e 8.983 óbitos); Santa Catarina (478.282 infectados e 5.007 mortes) e Rio Grande do Sul (430.780 registros e 8.452 mortes).

Rio de Janeiro vem na sequência, com 420.075 casos e 24.905 mortes. O Distrito Federal, no 11º lugar do ranking, contabiliza 247.928 casos e 4.198 óbitos. De acordo com o ministério, 6,475 pessoas (86,7%) se recuperaram. E 2.356 casos estão sendo investigados. Além disso, 10,7%, ou 799.545 estão sob acompanhamento. Em relação aos óbitos, 4.916 municípios tiveram registros (88,3%), sendo que 762 deles apresentaram apenas um óbito confirmado.

“O governo do Brasil mantém esforço contínuo para garantir o atendimento em saúde à população, em parceria com estados e municípios, desde o início da pandemia. O objetivo é cuidar da saúde de todos e salvar vidas, além de promover e prevenir a saúde da população”, reforça o órgão.

A pasta afirma que tem repassado verbas extras e fortalecido a rede de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), com envio de recursos humanos (médicos e profissionais de saúde), insumos, medicamentos, ventiladores pulmonares, testes de diagnóstico, habilitações de leitos de UTI para casos graves e gravíssimos e equipamentos de proteção individual (EPIs) para os profissionais de saúde.

“O Ministério da Saúde já destinou aos 26 estados e o Distrito Federal R$ 198,1 bilhões, sendo que, desse total, foram R$ 134 bilhões para serviços de rotina do SUS, e outros R$ 64,1 bilhões para a covid-19. Também já foram comprados e distribuídos 27,2 milhões de unidades de medicamentos para auxiliar no tratamento do coronavírus, 306,8 milhões de EPI, mais de 18,7 milhões de testes de diagnóstico para covid-19 e 79,9 milhões de doses da vacina contra a gripe, que ajuda a diminuir casos de influenza e demais síndromes respiratórias no meio dos casos de coronavírus”, reforça a nota do Ministério da Saúde.

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Equilíbrio em vez de lockdown

 (crédito: EDMAR BARROS/FUTURA PRESS)
crédito: EDMAR BARROS/FUTURA PRESS

Com 196 mil casos e 5.161 mortes registrados por covid-19, o estado de Amazonas iniciou, ontem, um período de medidas mais duras para conter a doença. Mas, as restrições provocaram reação dos cidadãos. Pela manhã, centenas de trabalhadores e empresários protestaram, com aglomeração intensa, em Manaus, contra fechamento do comércio.

Os manifestantes cantaram o Hino Nacional e gritaram palavras de ordem contra o um decreto do governador Wilson Lima (PSC), e a chamada Operação Pela Vida, para restringir a abertura de shoppings, flutuantes, bares e estabelecimentos do comércio não essencial, por 15 dias (de 26 de dezembro de 2020 a 10 de janeiro de 2021). Para o governador, não se trata de um lockdown, mas de um “equilíbrio” para o funcionamento mínimo da economia.

O governo estadual disse entender os apelos dos comerciantes e prometeu medidas fiscais para compensar as perdas. Contudo, reforçou que as ações restritivas no período das festividades de fim de ano são essenciais neste momento. “As medidas foram tomadas após avaliação do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 do governo, com base nos dados epidemiológicos da doença no estado da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), que mostram elevado número de casos da doença e ocupação dos leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede hospitalar estadual e privada de saúde”, destaca a nota.

Tão logo o Decreto estadual nº43.234 foi publicado, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) entrou com um pedido na Justiça para derrubá-lo, defendendo o funcionamento de locais de venda apenas com pontos de coleta, uma espécie de drive-thru. A Abrasce alegou, ainda, que as medidas restritivas do governo do Amazonas foram tomadas sem embasamento científico. Mas, o desembargador João de Jesus Abdala Simões, do Tribunal de Justiça do Amazonas, rejeitou o pedido.

“A gravidade da emergência causada pela pandemia da covid-19 — com aumento de casos na última semana — exige das autoridades brasileiras, em todos os níveis de governo, a efetivação concreta da proteção à saúde pública, com a adoção de todas as medidas possíveis para o apoio à manutenção das atividades do Sistema Único de Saúde (SUS)”, reiterou o magistrado.


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