Pandemia

Covid-19: Saúde pressiona Manaus a usar remédios sem eficácia comprovada

Ofício enviado por secretária do ministério à Secretaria de Saúde da capital amazonense diz ser "inadmissível" a não adoção da referida orientação

Sarah Teófilo
Maria Eduarda Cardim
postado em 12/01/2021 13:51 / atualizado em 12/01/2021 19:48
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

Em um ofício enviado à secretária de Saúde de Manaus, Shadia Hussami Hauache Fraxe, o Ministério da Saúde pressiona a gestão municipal a utilizar medicamentos antivirais orientados pelo Ministério da Saúde contra a covid-19. O documento é assinado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Isabel Correia Pinheiro, e diz ser "inadmissível" a não adoção da referida orientação.

A pasta federal tem orientado a utilização de medicamentos como ivermectina e cloroquina, ambos sem eficácia comprovada contra a covid-19, não sendo considerados como tendo potencial efeito antiviral contra covid-19. Mas em nota informativa com orientações do MS "para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da covid-19" (nota informativa nº17/2020), de agosto do ano passado, a pasta orienta o uso de cloroquina e azitromicina para o tratamento de paciente com sintomas leves da covid-19.

Na nota, o ministério justifica que considera “a larga experiência do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de outras doenças infecciosas e de doenças crônicas no âmbito do SUS, e a inexistência, até o momento, de outro tratamento eficaz disponível para covid-19”, e também considera “a necessidade de orientar o uso de fármacos no tratamento precoce” da doença.

No ofício enviado à secretária de Manaus, Mayra Isabel ainda solicita autorização para que pudesse realizar na última segunda-feira (11) “visita às unidades básicas de saúde destinadas ao atendimento preventivo à covid-19, para que seja difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.

“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus, a não adoção da referida orientação”, pontuou.

Em resposta à reportagem, o Ministério da Saúde afirmou que a demora pela busca de atendimento pode agravar os casos, por isso o tratamento precoce aumenta as chances de recuperação. Assim, além do apoio e suporte com leitos, insumos e medicamentos, a pasta diz que orienta a adoção do tratamento precoce como medida fundamental para evitar casos graves, frisando ser importante que, "diante de qualquer sintoma, as pessoas procurem atendimento médico para receberem as orientações adequadas".

"Reforçamos que o protocolo está a critério dos profissionais de saúde, em acordo com a vontade dos pacientes, e que cabe ao Ministério orientar as medidas preventivas e de atendimento precoce contra a Covid-19", pontuou. A pasta ainda ressaltou que a visita a Manaus "teve como objetivo conhecer a estrutura e o modelo local de assistência básica, como parte das ações de reforço ao plano de contingência do estado do Amazonas frente ao cenário epidemiológico".   

Precoce

Em pronunciamento durante a visita a Manaus, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reforçou o tratamento precoce contra a covid-19, frisando que o diagnóstico da doença deve ser feito pelo médico e que os exames laboratoriais ou de imagem são complementares. Além disso, o ministro afirmou que a prescrição de uma medicação pode ser feita pelo médico antes dos resultados dos testes.

“O diagnóstico é do médico, não é do exame, não é do teste, não aceitem isso. (...) o exame laboratorial, o teste é complemento do diagnóstico médico, até porque a medicação pode e deve começar antes desses exames complementares. Caso o exame lá na frente, por alguma razão, dê negativo, ele reduz a medicação e está ótimo. Não vai matar ninguém, pelo contrário, salvará no caso da covid”, indicou Pazuello.

OMS

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, afirma em seu site que “não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina) sejam eficazes e seguros no tratamento da covid-19”. Apesar disso, a organização ressalta que todo país é soberano para decidir protocolos clínicos de uso de remédios.

“As evidências disponíveis sobre benefícios do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento”, diz o texto publicado no site da Opas. Dessa forma, a organização recomenda que estas medicações apenas sejam usadas “no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis”.

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