Carta do Planalto é "construtiva"

Embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman diz que documento enviado por Bolsonaro para Biden olhar para a frente e reconhece temas a serem tratados pelos dois presidentes. O diplomata americano destaca a importância de manter o diálogo entre os países

» Simone Kafruni
postado em 21/01/2021 20:04 / atualizado em 21/01/2021 20:04
 (crédito: Embaixada dos Estados Unidos/Divulgação)
(crédito: Embaixada dos Estados Unidos/Divulgação)

No dia seguinte à posse do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, afirmou que recebeu a carta enviada pelo presidente Jair Bolsonaro ao novo ocupante da Casa Branca e que o conteúdo é “muito construtivo”. “Não tenho detalhes para saber como foi recebida. Só posso dizer que comunicação aberta e clara é muito melhor do que falta de comunicação. Foi construtiva e, como um diplomata sempre quer ver, olhando para frente, mas reconhecendo que temos temas para tratar”, destacou, ontem. “Vamos encorajar esse tipo de comunicação.”


O diplomata preferiu não comentar as declarações de Bolsonaro, que colocou em dúvida a eleição norte-americana, nem o fato de o líder brasileiro ter sido o penúltimo a reconhecer a vitória de Biden. Chapman disse não ter previsão sobre um possível encontro entre os dois chefes de Estado. “Estamos no início da relação, sempre tem oportunidades, desafios e temas prioritários. Vamos fazer todo o possível para continuar com uma relação construtiva”, ressaltou.


Segundo Chapman, Biden mostrou seu desejo de voltar à Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao Acordo de Paris, e isso mostra a intenção do novo governo de participar de organizações multilaterais. “Talvez, tenham outras organizações, mas isso já mostra a importância que o presidente dá para o multilateralismo. Isso é um ponto importante para a nossa relação. Há muitas oportunidades entre Brasil e EUA, e é possível ter um diálogo maior sobre como avaliar os temas internacionais por meio dessas organizações”, frisou.
Ele explicou que a nova administração vai priorizar temas diferentes daqueles do governo anterior e isso vai dar um novo entendimento entre as gestões do Brasil e dos Estados Unidos. “Os temas que vão continuar, como sempre, são importantes: econômicos, educação, militar, saúde pública, segurança. São chaves, e vamos continuar”, enumerou. O embaixador destacou, contudo, que Biden sinalizou seu interesse prioritário por saúde pública e pelo meio ambiente. “Ele já disse que o meio ambiente vai ser um pilar da administração”, enfatizou.


Está na agenda prioritária dos Estados Unidos as questões de energia renovável e redução do carbono. “O secretário John Kerry será seu representante especial sobre clima. Kerry foi quem negociou o Acordo de Paris. Ele tem um compromisso sério, pessoal, para o tema do meio ambiente. E participou da Rio 92. Superbem qualificado para liderar nosso esforço nesse tema. Vai ser muito importante ter um diálogo fluido com o secretário Kerry”, alertou. “Agora que estamos nos juntando ao Acordo de Paris, vamos ver como trabalhar nesse fórum para chegar a novos acordos. Vamos dar um pouco de tempo para que as conversas comecem, não somente para o Brasil e os Estados Unidos, mas para o planeta.”


Chapman disse que esteve em Washington e se reuniu com o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster. “Ele está fazendo contatos importantes ao redor do nosso governo e do país. Vamos trabalhar juntos para encorajar esse tipo de diálogo”, explicou.

Tecnologia

O embaixador acredita que os Estados Unidos vão manter a ênfase na segurança tecnológica e na proteção de dados. “Nem posso imaginar que isso mudaria. Eu acho que há muito apoio para essa iniciativa de, realmente, proteger a nova economia do 5G. É um tema específico que tem de continuar a ser debatido. Imagino que os objetivos são constantes”, afirmou.


Ele lembrou, ainda, que há uma forte cooperação entre os dois países na área de saúde pública e que os Estados Unidos enviaram mais de US$ 20 milhões de ajuda ao Brasil, sendo que o setor privado doou mais de US$ 60 milhões. “Recebemos várias sugestões e pedidos do governo brasileiro, que estão sendo olhados com muita atenção”, afirmou.

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