POLÍTICA

Lira e Baleia Rossi trocam farpas na reta final da disputa pela Câmara

Principais concorrentes à Presidência da Câmara trocam farpas na reta final da disputa. Bolsonaro reúne-se com bancada ruralista para pedir apoio ao líder do Centrão contra o candidato de Rodrigo Maia

Jorge Vasconcellos
Augusto Fernandes
postado em 23/01/2021 06:00
 (crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Camara dos Deputados)
(crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Camara dos Deputados)

A pouco mais de uma semana da eleição para a Presidência da Câmara — em 1º de fevereiro —, os dois principais candidatos, Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL), subiram o tom na troca de ataques pelas redes sociais. Ontem, o emedebista, que é apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamou o adversário de “metamorfose ambulante”, por, segundo ele, adotar um discurso de campanha que não corresponde à sua atuação política. A menção refere-se a uma música de Raul Seixas.

Em uma das publicações, Rossi acusa Lira — que tem o respaldo do presidente Jair Bolsonaro para a disputa do cargo — de omitir que tenha pedido urgência para a votação do Projeto de Lei Complementar 34/20 na Câmara. De autoria do deputado Wellington Roberto (PL-PB), a proposta institui o empréstimo compulsório para atender às despesas urgentes causadas pela situação de calamidade pública relacionada ao novo coronavírus. Esse tipo de empréstimo consiste na tomada compulsória, pelo Estado, de certa quantidade de dinheiro do contribuinte, com o resgate dos valores em determinado prazo estabelecido por lei.

“No ano passado, meu adversário pediu urgência no PLP 34/20, que autoriza o confisco de empresas pelo governo. Gravou vídeos defendendo a proposta. Agora, mantém silêncio sobre o assunto. Mudou a velha opinião? Ou é casuísmo? Metamorfose ambulante”, tuitou Rossi, ao compartilhar uma reportagem sobre o pedido de urgência apresentado pelo Centrão, bloco parlamentar liderado por Lira e que dá sustentação ao governo.

Em outra publicação, Rossi sugeriu que Lira está agindo por casuísmo. “Meu adversário é pura metamorfose ambulante. Previsibilidade? Toca Raul! Ele já quis CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Depois, disse que não é bem assim. Era contra o auxílio emergencial com rigor fiscal. Agora, é a favor, mas, depende. Olha, mudar a velha opinião é uma virtude. Agir por casuísmo, não”, escreveu.

Lira respondeu aos ataques no mesmo tom, acusando o rival de fazer um “jogo sujo” e outras “baixarias” ao longo da disputa. “Muito bom o tuíte de Baleia Rossi ditado por seu chefe Rodrigo Maia. Bem-feito, articulado. O que eu tenho a dizer ao chefe dele é que teremos, sim, previsibilidade com uma Câmara dos ‘nós’ e não do eu’”, tuitou o político do PP. “Outra coisa: não vamos cair no jogo sujo que tentam empurrar, neste final de campanha, com ataques pessoais, como o tuíte de hoje (ontem) e outras baixarias. Vamos, sim, é limpar a Câmara do excesso de personalismo.”

Lira vem sendo apontado como favorito para vencer a disputa na Câmara. O bloco que o apoia reúne 11 partidos, que somam 259 deputados: PSL, PL, PP, PSD, Republicanos, PTB, Pros, PSC, Avante, Patriota e Podemos (que deve formalizar o aval na próxima quarta-feira). Nos últimos dias, ele tem recebido a adesão de forças políticas que deixaram de apoiar Rossi, como o PSL. Para a vitória da eleição em primeiro turno são necessários, no mínimo, 257 votos — mais da metade dos 513 deputados. Já Rossi conta com o aval declarado de outras 11 siglas: PT, MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT, Solidariedade, Cidadania, PCdoB, PV e Rede, que reúnem 236 parlamentares.

Não há garantias, porém, da manutenção dessas alianças. Como a votação será secreta, ambos os lados da disputa temem traições de última hora.

Cabo eleitoral

Também ontem, Bolsonaro reuniu-se com 20 deputados que fazem parte da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) para pedir o apoio da bancada a Lira. O café da manhã não estava previsto na agenda oficial do presidente e ocorreu quase duas semanas depois de ele ter criticado a preferência de líderes da bancada ruralista por Rossi.

Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da FPA de 2019 a 2020, e Sérgio Souza (MDB-PR), recém-eleito para comandar a frente parlamentar, de 2021 a 2022, já sinalizaram que estarão do lado do colega de partido. Os dois não estiveram no encontro entre Bolsonaro e parlamentares ontem.

Após a reunião, alguns deputados da bancada divergiram de Moreira e Souza. Eles cravaram que a maioria da FPA votará em Lira. “Estamos alinhados com o presidente da República e ao menos 80% da diretoria estão alinhados com o presidente e com seu candidato a presidente da Câmara”, frisou Neri Geller (PP-MT), vice-presidente da bancada.

Bolsonaro presenciou a declaração de Geller. Segundo o deputado, “viemos colocar esse apoio, trabalhando para trazer mais apoio ao nosso candidato para ajudar nas pautas que são importantes, como licenciamento ambiental e regularização fundiária, que são temas que interessam ao governo e à economia do país”. “A FPA, se não toda ela, a grande maioria dos seus membros está alinhada nesse projeto na Presidência da Câmara”, enfatizou o parlamentar.

Vice-líder do governo na Câmara e membro da FPA, Evair Vieira de Melo (PP-ES) reforçou a preferência da bancada por Lira. “Temos um projeto que pensa em maturidade, e estamos alinhados com o melhor do Brasil. Hoje (ontem), foi um encontro para que possamos construir essa agenda positiva para o Brasil. Não é um projeto do eu, é um projeto pensando no país, e essa é nossa maturidade. Não temos vaidades de projetos pessoais”, destacou.

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